segunda-feira, 18 de junho de 2007

Uma réplica, por favor

Leio em O Globo de sexta-feira (15/06 – RIO – pág.15) o título no alto da página: Lula: ‘Brasileiros adoram falar mal do país’. A foto que acompanha a reportagem mostra o presidente dentro de um veículo que será usado para a segurança dos jogos Pan-Americanos e o Governador do Rio, Sérgio Cabral, do lado de fora em estonteante bom humor.

O que o presidente talvez não tenha entendido é que os brasileiros falam mal do país porque o país lhes dá o direito (quase o dever) de assim agir. Obviamente, muitos são os brasileiros com uma espécie de “síndrome de vira-latas”, um resquício do colonialismo ainda entranhado em nossas veias. Contudo, na atual conjectura brasileira, não há muito o que dizer de positivo, não. Diz o nosso representante maior que tal atitude afeta gravemente a imagem do país lá fora. Peço uma réplica curta para discordar.

O que suja definitivamente a imagem do Brasil no estrangeiro são as muitas, imensas e quase incontroláveis (quase?) ondas de violência que assolam o território nacional, principalmente o eixo Rio-São-Paulo. O que nos estraga em gênero, número e grau são as incontáveis balas perdidas (ou achadas), o tráfico que nos desafia e afronta a polícia diariamente, a própria polícia e sua porcentagem de profissionais(?) corruptos e/ou trogloditas que dia-a-dia perde a confiança dos trabalhadores honestos e pobres deste território.

Abro a Folha de S. Paulo de domingo (17/06 – pág. A12) e leio que o Corporativismo marca Conselho de Ética. Ora, somente um senador (Luiz Estêvão) teve cassação em onze anos de funcionamento. Logo, é de se supor que, a não ser por um milagre (que às vezes arrebata a classe política, mesmo que raramente) tenha faltado “óleo de peroba”, o presidente do senado sairá ileso, mais feliz e mais “biscoito trakinas” do que nunca. No mesmo caderno, na página anterior, abaixo da coluna essencial de Elio Gaspari, leio que a Polícia Federal concluiu que Vavá, irmão do presidente desta república, teria praticado tráfico de influência. Lindo, não? E somos nós que manchamos a imagem do país no exterior? E somos nós os que precisam ouvir as besteiras improvisadas e a triste lembrança das palavras pseudo-patrióticas de uma ditadura militar (“ame-o ou deixe-o”)? Aliás, enquanto o presidente brinca de conduzir veículo que será usado para a segurança dos jogos mês que vem (ao todo serão 1768 veículos), nossa Polícia Militar até muito recentemente possuía em suas garagens e pátios inúmeros carros sucateados ou mesmo sem gasolina para uma ronda de rotina.

Na capa da mesma Folha passo os olhos em títulos: Auditoria aponta falhas em contratos do governo federal, Indústria de ponta perde espaço no país. Lula teria motivos de sobra para ficar tão irritado se, como ele mesmo gosta de citar, a sua presidência fosse na Suíça.

3 comentários:

Anônimo disse...

Lula, depois de ter saído por cima, no esquema do mensalão, e de ter tido expressiva votação no segundo mandato, virou um bufão, nem mais nem menos (e olha que eu votei nele nos dois turnos em 2002 e no segundo, em 2006).

O problema, Marcelo, e o mais triste é que ele, Renan, Cabral nem se importam com réplicas como esta, muito bem escrita aliás. Um abraço.

Jens disse...

Grande Marcelo:
Vou discordar.
Ok, esta não é uma terra de santos - só temos 1, por enquanto - mas o "complexo de vira-latas" é um traço marcante da visão que os intelectuais brasileiros, principalmente, têm em relação ao país - como já criticava Néson Rodrigues. Não se trata de dizer que o país é o paraíso na terra, mas só esculhambar também não dá. Um pouco de auto-estima não faz mal a ninguém.
Um abraço

Marcelo F. Carvalho disse...

Halem, eu também votei pró nas duas eleições. A primeira foi porque, como filiado, só poderia sonhar com isso; a segunda, apesar de toda decepção (não dele, mas dos que estavam por trás de tudo e que eu admirava pra valer), mais pra conter o neoliberalismo absoluto do "Alquimista" engavetador de CPIs. Concordo plenamente com o fato dele ter ficado muito bufão. Pena.
Abraço forte!


Jens, discorde sempre e o quanto quiser. A casa é sua e foi feita pra isso mesmo. Abração!
Ah!, inveja corre em minhas veias! Cara, eu escrevi uma monografia toda dedicada ao poema Construção e sou realmente um grande admirador do Chico. Essa experiência que você teve é, para mim, única...hehehe.