sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Professor Halem se despede, infelizmente

28 de Novembro de 2008


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"Da vez primeira em que me assassinaram
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha
Depois, de cada vez que que me mataram,
Foram levando qualquer coisa minha"
Mario Quintana

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Devia ter feito isso meses atrás, mas a minha pusilanimidade e um certo comodismo mental adiaram a decisão. Fato é que este Ração das Letras morre hoje, em definitivo. Verdade que já estava moribundo; dou-lhe agora, contudo, a extrema-unção. Eu, que nunca fui alegre, perdi até o contentamento de escrever aqui sobre Literatura, essa dimensão da vida humana que sempre me resgatou e redimiu. Agradeço aos visitantes e blogueiros de minha estima pelas vezes em que tentamos nos compreender através da palavra escrita; não os esquecerei. Deixo a blogosfera porque a desprezível e abjeta vida que tenho fora dela ameaça invadir o espaço virtual. Peço perdão aos que perderam seu tempo lendo as bobagens que freqüentemente impingi ao leitor eventual, neste blog medíocre e limitado, não obstante pretensioso. Talvez só merecesse permanecer por essas bandas se fosse para manter um site que atacasse a ganância escandalosa das instituições bancárias ou relatasse o descaso em que vivem os profissionais da educação. Mas quem está interessado em ler isso?

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E assim, sem muitas delongas, um grande blogue se despede. O professor Halem, vulgo Quelemém, era parada obrigatória para os que apreciam uma boa conversa sobre a boa literatura e suas reflexões.
Pena.
Horrorismo
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Sérgio Malbergier
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Hisashi Tsuda, empresário japonês de 38 anos, pai de dois filhos, estava fazendo o check-in no hotel Oberoi, em Mumbai, quando tomou três tiros, no abdome, no peito e na perna. Morreu no hospital. "Era um jovem promissor", disse em Tóquio o presidente da empresa para a qual trabalhava.
Um alemão, um australiano, um inglês, dois franceses, dois americanos e muitos indianos estão também entre as dezenas de inocentes bestialmente mortos no ataque terrorista contra Mumbai, o centro econômico da Índia, que teve o seu 11 de Setembro nesta semana.
Um dos principais fracassos de Bush foi na promoção da justa guerra contra o terrorismo, que ele traduziu para o mundo como a invasão desastrada do Iraque, as torturas em Abu Ghraib e as ilegalidades de Guantánamo, alienando aliados.
Mas, como os ataques contra a metrópole indiana rebatem mais uma vez, o terrorismo segue como forte ameaça à estabilidade global e fonte de iniqüidades inaceitáveis nas vésperas da posse de Barack Obama na Casa Branca.
Não poderia ser diferente. As condições que geraram a onda terrorista no mundo muçulmano estão praticamente intactas. Os países islâmicos seguem quase todos ditaduras fechadas, principalmente no mundo árabe, que oprimem a população, a economia, o conhecimento, as mulheres, as diversidades, as liberdades.
Uma das poucas coisas toleradas, num pacto de governabilidade sufocante, é a intensa atividade religiosa, crescente em pleno século 21. Há muito mais mulheres no Cairo hoje que se cobrem com o véu do que há 40 anos.
O islã tornou-se válvula de escape e de dignidade diante de regimes autocráticos e corruptos. Mas esse caldo fervoroso pariu também o islã radical e niilista da Al Qaeda e de outras centenas de grupos extremistas que vestem crianças de cinco anos como meninos-bomba para desfilar em paradas sob aplausos efusivos do público!
A legitimidade dessa turba assassina diante de milhões e milhões de muçulmanos é assustadora e deprimente. A aceitação de seu discurso de ódio e destruição, onde o não-muçulmano é o infiel a ser combatido, o judeu é o porco, o cristão, o cruzado, choca.
Em Mumbai, símbolo da explosão de crescimento e da vitalidade indiana e uma das histórias felizes deste século, os terroristas, segundo relatos, riam na execução da carnificina, disparando catarticamente contra tudo e todos e buscando estrangeiros, principalmente americanos, britânicos e, como sempre, judeus.
Analistas tentam explicar essa banalização do mal em curso no islã radical: na Índia, são os problemas da Caxemira e de uma minoria em meio a centenas de milhões de hindus; no Iraque, a ocupação americana; nos territórios palestinos, a ocupação israelense.
Mas não são essas as explicações para ataques indiscriminados contra civis em pizzarias, hospitais, ônibus, hotéis, com rituais de degola de reféns indefesos expostos com orgulho na internet, ao som de hinos religiosos e heróicos.
A explicação é muito mais profunda e está dentro do mundo islâmico, não fora dele. A verdadeira "jihad" (guerra santa) de Osama Bin Laden nunca foi contra a América e os infiéis, mas pelo trono de Meca, centro do islã sob o comando da família real saudita, que ele chama de corrupta e vendida aos cruzados do Ocidente.
Os atos terroristas nem têm mais reivindicações específicas. Promovem o horror pelo horror, no que o célebre romancista inglês Martin Amis chamou de horrorismo em célebre ensaio para o jornal "Observer", em 2006.
Nada mudou desde então. O horrorismo segue aceito em grandes círculos, fazendo mais vítimas inocentes (a maioria de próprios muçulmanos, no Iraque, no Afeganistão, no Paquistão).
É uma ameaça global, e a resposta a ele tem de ser global. Quem sabe Obama, chamado na semana passada de "escravo negro a serviço dos brancos" pelo número 2 da Al Qaeda, Ayman Al Zawahiri, poderá promovê-la melhor.
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Sérgio Malbergier é editor do caderno Dinheiro da Folha de S. Paulo. Foi editor do caderno Mundo (2000-2004), correspondente em Londres (1994) e enviado especial a países como Iraque, Israel e Venezuela, entre outros. Dirigiu dois curta-metragens, "A Árvore" (1986) e "Carô no Inferno" (1987). Escreve para a Folha Online às quintas.E-mail: smalberg@uol.com.br

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Mídia se cala sobre o acordo do governo com a Santa Sé
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O Observatório da Imprensa exibido na terça-feira (25/11) pela TV Brasil e pela TV Cultura discutiu a cobertura dos meios de comunicação sobre o acordo firmado no dia 13 de novembro entre o governo brasileiro e a Santa Sé, assinado durante a recente visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Vaticano. A mídia ofereceu pouco espaço ao acordo, que pode ferir o princípio do Estado laico. O tratado, que confere formato jurídico às relações entre o Executivo Brasileiro e a Igreja Católica, tem pontos polêmicos.
O acordo prevê, por exemplo, o ensino religioso nas escolas públicas, com presença facultativa, e a possibilidade da anulação do casamento civil no caso o matrimônio religioso ser desfeito. Participaram do debate ao vivo, no estúdio do Rio de Janeiro, o reverendo Guilhermino Silva da Cunha, pastor da Catedral Presbiteriana do Rio de Janeiro, e a cientista política Roseli Fischmann. Em Brasília, participou o representante da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Hugo Sarubbi Cysneiros.
No editorial que inicia o programa, o jornalista Alberto Dines classificou a atuação da mídia como "embargo noticioso ou auto-censura". O acordo foi mantido sob sigilo porque infringe o espírito e a letra da Constituição Federal. Além de os jornais não terem dado destaque à assinatura do acordo, a mídia eletrônica evangélica não protestou. Na avaliação de Dines, os grupos evangélicos têm sido privilegiados pelo governo de outras formas. "Significa que no lugar de seguir a Constituição e estabelecer completa separação entre estado e religião, o Brasil inventou uma forma original de administrar o conflito religioso, oferecendo vantagens às confissões religiosas mais poderosas", avaliou.
"E como ficam os secularistas e agnósticos que acreditam que um estado democrático deve ser obrigatoriamente laico? E as outras confissões religiosas afro-brasileiras, como o candomblé, não deveriam entrar no bolo de privilégios? Estamos na contramão do mundo desenvolvido e nossa imprensa, esquecida dos três séculos de censura absoluta antes de ser autorizada a funcionar, teve um surto de saudosismo e voltou a experimentar as delícias da auto-censura", criticou o jornalista.
Na reportagem exibida antes do debate ao vivo a repórter especial da Folha de S.Paulo, Elvira Lobato, estudiosa das questões que envolvem as concessões de radiodifusão no Brasil, explicou que o Código Brasileiro de Telecomunicações é da década de 1960. A norma não permite que denominações religiosas detenham concessões canais de rádio e TV mas, na prática, grande parte das igrejas conseguem burlar a lei. Algumas não são concessionárias, mas arrendam o espaço em emissoras privadas o que "para efeito de mercado dá no mesmo" porque levam a mensagem ao fiel. Já o fenômeno do altar eletrônico, que vêm crescendo continuamente, passou a ser uma importante fonte de renda para as emissoras privadas.
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Igreja Católica, um tabu para a imprensa
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No debate ao vivo, Roseli Fischmann comentou que a imprensa tem dificuldade de tratar do acordo. A cientista política relembrou que em maio de 2005, durante a visita do Papa Bento XVI ao Brasil, a Folha de S.Paulo estranhou que estava sendo preparado um acordo sigiloso entre os dois Estados e dizia que se o tratado envolvia governos e sigilo é porque "devia ser ruim". Mesmo com o posicionamento crítico em relação ao tema, o jornal abriu espaço para a Igreja Católica manifestar-se. Fischmann comentou que a imprensa trouxe importantes vitórias para a cidadania ao mobilizar a sociedade na discussão da implantação do Feriado Nacional por conta da canonização de frei Galvão e sobre um projeto ligado ao ensino religioso nas escolas paulistas.
Dines pediu ao representante da CNBB esclarecer se a Constituição Brasileira é secularista. Hugo Sarubbi Cysneiros comentou que a Carta Magna invoca Deus em seu preâmbulo, mas é laica. O Estado não é ateu, nem professa uma religião específica. O advogado ressaltou que o projeto de acordo entre a Santa Sé, como Pessoa Jurídica de Direito Internacional Público, e o Estado brasileiro não privilegiou a Igreja Católica, mas respaldou o estatuto jurídico desta religião.
O Estado brasileiro vê no laicismo positivo "um caminho" e reconhece na religião e na crença "algo que faz parte do ser humano" e que pode ser exercitado pelos cidadãos como um Direito. Dines ponderou que a citação a Deus no preâmbulo da Constituição não chegou a ser uma profissão de fé religiosa, foi apenas uma intervenção pessoal do então presidente José Sarney. Não comprometia o caráter secular que previa a separação entre o Estado e as crenças religiosas.
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O acordo é constitucional?
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O reverendo Guilhermino Silva da Cunha acredita que a separação entre Igreja e Estado é "absolutamente saudável" e preserva a liberdade religiosa. De acordo com o religioso, esta separação foi preconizada pelo próprio Jesus Cristo na Bíblia, ao dizer, por exemplo, "meu Reino não é deste mundo" entre outras passagens. O pastor afirmou que os dois Estados que celebraram o acordo envolvendo apenas uma expressão religiosa atacam frontalmente a Constituição no Artigo 19 porque este proíbe alianças entre o governo e cultos religiosos ou igrejas. "A celebração do acordo fere nosso diploma legal maior. Não apenas agride as expressões religiosas, como também fere a Constituição", criticou. O reverendo tem esperanças de que o Congresso Nacional não referende o acordo.
"Mesmo que existisse um único cidadão de outra religião ou ateu ele teria todo o Direito de exercer sua escolha", disse Roseli Fischmann. O Estado laico tem o dever de preservar o Direito de todos independente do número de pessoas que optem por determinada crença. A cientista política frisou que o Brasil apresenta um grande pluralismo religioso e que, por isto, é inaceitável um acordo internacional com uma única religião. Neste caso, as demais estão sendo preteridas. "O Estado precisa proteger para que todos se sintam respeitados", avaliou.
Dines comentou que a Santa Sé queria "abafar" o acordo sem a "oxigenação de uma sociedade democrática". O representante da CNBB não concorda que a sociedade tenha sido ludibriada nem que a Igreja seja manipuladora. "O sigilo não foi a bandeira, não foi o meio nem o fim do tratado". O advogado considera que falar em sigilo de um tratado internacional em um país com as características do Brasil é um contra-senso porque a sociedade pode examinar o teor do acordo quando este é submetido ao Poder Legislativo. Cysneiros destacou que a Constituição Federal fala de Deus em outros artigos, não só no preâmbulo.
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O silêncio da mídia como sintoma
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O advogado da CNBB disse que o tratado não foi firmado com a Igreja Católica e sim com a Santa Sé, que é um Estado soberano. Se, por questões históricas, as outras religiões não têm personalidade de Direito Internacional Privado, não há como estas celebrarem tratados internacionais. Para Cysneros não há privilégio da Igreja Católica em detrimento de outras religiões e o acordo não é inconstitucional.
O tratado é claro e dá estatutos à Igreja Católica no Brasil partindo de dois princípios: o respeito à Ordem Constitucional e ao Estado brasileiro e a isonomia entre todas as entidades de igual natureza. Dines argumentou que a Santa Sé é um Estado soberano, mas que é teocrático e funciona com regras específicas. O silêncio da mídia é conivente na opinião do reverendo Guilhermino Silva da Cunha, pastor da Catedral Presbiteriana do Rio de Janeiro. "Quando acontece o silêncio significa que há algum entendimento ou alguma coisa diferente e estranha", avaliou.
Um telespectador perguntou a Roseli Fishmann sobre o ensino religioso nas escolas. A cientista política explicou que muitas vezes confunde-se o papel das instituições. Principalmente em tempos de violência, quando se considera que o ensino de religião pode combater a criminalidade. A questão da religião é vinculada à consciência de cada indivíduo. Já a escola deve preparar as crianças para respeitar os indivíduos como cidadãos livres e iguais sem precisar recorrer a qualquer figura sobrenatural.
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A questão das concessões de rádio e TV
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Para o reverendo Guilhermino Silva da Cunha, a presença das demais igrejas na mídia não é diferente da presença da Igreja Católica. O pastor não é contra a entrada das igrejas na mídia televisiva, mas reprova o excesso. Como o telespectador tem o poder de mudar de canal, o grande número de programas religiosos não chega a ser "uma invasão". O pastor ressaltou que todas as igrejas pagam altos valores tanto para alugar tempo nos canais privados quanto para manter uma concessão. Na visão do reverendo, a existência de um canal de televisão que ganhe força e vire uma rede em todo o país cria um contra-ponto ao monopólio da comunicação, que é "um desastre".
Dines pediu a opinião de Roseli Fischmann sobre o "gerenciamento de privilégios" no Brasil. A cientista política ressaltou a laicidade como o fundamento da democracia no país: "Não existe democracia se as pessoas não estiverem todas igualadas". As minorias religiosas são uma das faces visíveis do pluralismo, que é essencial para a democracia. O Estado não pode ser nem ausente nem omisso para as minorias "não se encolherem e deixarem o campo público". Se um determinado grupo é privilegiado, as minorias tendem a se retrair.
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Perfil dos convidados
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Hugo Sarubbi Cysneiros é advogado da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). É professor das disciplinas de Sistemas de Direito Comparados e de Direito Internacional Público do UniCeub/DF.
Roseli Fischmann é cientista política. Coordena a área de Filosofia e Educação da Pós-Graduação em Educação da USP e o Grupo de Pesquisa Discriminação, Preconceito, Estigma da universidade. Integrou a Comissão Especial sobre Ensino Religioso do Estado de São Paulo.
Rev. Guilhermino Silva da Cunha é pastor da Catedral Presbiteriana do Rio de Janeiro. Doutor em Ministério pelo Reformed Theological Seminary (Estados Unidos) e Doutor Honoris Causa pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Foi presidente do Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana do Brasil.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

???


Estou repassando porque é surpreendente. Simplesmente surreal e... Devo admitir, fui tomado por um quê de esperança, perplexidade, perda momentânea do raciocínio. Por um momento pensei estar saindo-entrando do “Ensaio sobre a Lucidez”, de Saramago.
Posto porque não sei o que fazer com tal informação. Na verdade, devo admitir que pesquisei pouco e não posso nem garantir a veracidade do conjunto, contudo...
Estão lá, nos sites, tanto do UOL quanto do Terra – Eleições 2008: o município de Bom Jesus de Itabapoana, no Rio de Janeiro, registrou anulação recorde nestas eleições. Simplesmente 89% dos eleitores votaram nulo. O link para conferir o resultado:
http://apuracao.terra.com.br/2008/1turno/rj/58114/index.shtml
http://placar.eleicoes.uol.com.br/2008/1turno/rj/?cidade=58114
São 26.873 eleitores. Compareceram, para votar, 23.334; anularam 20.821; votaram em branco 1.021.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Encontrei no blogue da Vais esta carta e, sem palavras, republico neste espaço. Vais é uma divina caçadora das palavras que trazem suor, amor, coragem. Vez em quando publica coisas lindas do próximo para que possamos contemplar, no irmão, o que restou de nós.
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Carta de Hélio Pellegrino
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O homem quando jovem, é só, apesar de suas múltiplas experiências.
Ele pretende, nessa época, conformar a realidade com suas mãos, servindo dela, pois acredita que, ganhando o mundo, conseguirá ganhar-se a si próprio.
Acontece, entretanto, que nascemos para o encontro com o outro, e não o seu domínio.
Encontrá-lo é perdê-lo, é contemplá-lo na sua libérrima existência, é respeitá-lo e amá-lo na sua total e gratuita inutilidade.
O começo da sabedoria consiste em perceber que temos e teremos as mãos vazias, na medida em que tenhamos ganho ou pretendamos ganhar o mundo.
Neste momento, a solidão nos atravessa como um dardo.
É meio-dia em nossa vida e a face do outro nos contempla como um enigma.
Feliz daquele que, ao meio-dia, se percebe em plena treva, pobre e nu.
Este é o preço do encontro, do possível encontro com o outro.
A construção de tal possibilidade passa a ser, desde então, o trabalho do homem que merece o seu nome.

domingo, 9 de novembro de 2008

Arritmia

acordei com gosto de desejo na boca. quero escrever uma carta de amor. sempre quis escrever carta de amor. nunca consegui. ontem fez um puta calor nas terras de minas. meu carro não tem ar condicionado. o suor descia lentamente no mínimo vão entre gesso e perna. enlouqueci. quero uma varinha de condão. não consigo me desprender das minhas vergonhas. dizer eu te amo sai fácil. impossível escrever que a ausência faz mal. o céu fica cada vez mais escuro. quando eu era menina escondia os sentimentos. esqueci onde. agora eu sinto e eles ficam no esconderijo. o gosto de desejo é latente. ainda. e uma coisa quente insiste em fazer caminho por dentro da minha pele. nunca gostei dos donos do mundo. conceito formado lá nos idos 70. hoje gosto de saber que o povo americano vê além do marrom. estou perdida na frente da tela. que engraçado. ela entra com escudo do tricolor e sai com a carinha de contraste. pra escrever preciso começar. que ridículo dizer meu amor e colocar uma vírgula. porque o resto é só passado. antes eu só me despedia de amor que não mais doía. obama ganhou. o momento é histórico. as árvores do alabama devem estar sorrindo. desejo de cheiro. desejo de gosto. desejo de não desejar. parei no acostamento sem saber o que fazer com a coceira. aqui só ensaia aguaceiro e tudo continua quente. os campos de batata foram trocados por cebola. folhas esparramavam-se em cama verde. agora são esbeltas adagas que apontam pro céu. vou engolir a vontade de carta de amor. não. ainda vou publicar. ridícula. bem ridícula. antes vou lavar a vergonha da cara. se chover.

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quinta-feira, 6 de novembro de 2008

O homem marrom

O estouro da bolha imobiliária aliada à política genocida de Bush S/A causou, causa (e, talvez, ainda causará) pânico nas bolsas, desconforto nos governos vigentes e alguma preocupação entre nós, pobres trabalhadores braçais desta nação. Alguém já tentou imaginar o caos planetário que seria se 29 estivesse de fato acontecendo? O que aconteceria com os nossos empregos aqui se os donos do mundo fossem à bancarrota?
Defendemos com alguma voracidade o fim do Império, a anulação do Mal implacável representado, nestes tempos pós-modernos, pela política externa canastrona, ineficiente e altamente intolerante dos nossos “amigos” do Norte. Defendemos porque, enquanto humanos, temos o pleno instinto de sobrevivência sexualmente inerente ao exercício da liberdade e à consciência de justiça. Mas se o Império cair – e a história sabe explicar que, mais cedo ou mais tarde, cairá – o que acontece com o mundo globalizado e refém de hoje?
Em tempos escuros, a visão se deturpa e fica mesmo difícil encontrar a luz. Mas eis que, um belo dia, um homem marrom (como ele mesmo se intitula, em clara metáfora anti-racista, pois é bom lembrar: há pouco tempo, em alguns Estados americanos, era proibida a união Branco x Negro), assume a liderança do Império. Uma esperança? Ainda não sei. Contudo, a mensagem parece ser clara: a fênix metafórica, ao que tudo indica, renasceu. Vai demorar um pouco para o Xerife do Norte tombar.
Vejo o discurso do homem, com nome estrangeiro e pele mundial, e não consigo deixar de pensar na penúltima eleição brasileira, quando elegemos um mestiço como nós para presidente do Brasil. Momento histórico aqui. Momento histórico lá. Se nenhum republicano explodir a cabeça do homem marrom, quem sabe o céu não abre? Será que Cuba, desta vez, tem chances de respirar? Será que Chavez e Morales vão ter espaço? E o nosso biocombustível? E Lula?
Se o Império continua, que seja pelo menos governado com alguma competência e responsabilidade. Que venha o Obama! Afinal, nós também temos o nosso.

sábado, 1 de novembro de 2008

Infinito

Não foi insônia
nem medo do escuro
foi aquela flor...cinza
que brilhou no sol
e ficou até o anoitecer
mergulhou na lua
e sorriu no
i
n
f
i
n
i
t
o
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PS.: A Arte-título no meu layout é dela: Aline.
Essa chegou delicada, inspirada, gentil e, o que é importante, mostrou-se boa com as palavras e com as gráficas mãos que, por vezes, também suja de tinta e de fotografia.
O que dizer de alguém assim?:
Obrigado!