quinta-feira, 14 de junho de 2007

A morte dos sonhos - por Pirata

Achei este texto do querido jornalista/escritor Pirata na revista eletrônica O Lobo, do mestre Fausto Wolff (http://www.olobo.net/). O texto é primoroso e vale a leitura em momento tão difícil para nós cidadãos. Sonhar, resistir ou aceitar as coisas podres como elas são? Pirata escolheu resistir. Como não sou nenhuma referência de coragem e resistência (tenho apenas 29), admiro enormemente àqueles que fazem da vida um ideal de ética e retidão. Salve, salve, Pirata! Que a sua nau continue desbravando as fronteiras da verdade!

Em 1980, eu tinha 14 anos. Já trabalhava como ófice bói do padrasto de minha mãe. Vida dura - duríssima, aliás, e que o digam meus amigos, que pagavam pra mim tudo aquilo que eu não podia pagar, que era quase tudo.

Meus prazeres eram, não necessariamente nesta ordem, ler O Pasquim, ouvir muita música (K-7s e discos meus, do meu pai e, até, os bolachões de 78 rpm do meu avô - e gostando de tudo), ler o dicionário (o que faço até hoje, e com igual prazer), e comer, exceto minha namoradinha de então, todas as mulheres que - atenção ao verbo - VIA pela frente. Não me peçam para ser mais específico...
Neste mesmo ano meu pai fez 40 anos, e eu me lembro dele lamentando sua/nossa $orte, apesar de, como eu, trabalhar desde pequenino. Fui para o cômodo que, depois do banheiro, mais freqüentava na casa - ou seja, o meu quarto - e fiz uma lista de todas as coisas que, na minha então ainda mais ingênua mente, eu teria aos 40 anos. Não me lembro de todas, evidentemente (e ainda bem, pois seria constrangedor, hoje, ler algo como "ter o físico do Hulk", "um Maverick preto, com um toca-fitas Roadstar tocando Joy Division no último volume" e outros - Joy Division fora - ridículos), mas me lembro das essenciais.
Eu queria, aos 40 anos, estar escrevendo tão bem quanto o Fausto Wolff, desenhando tão bem quanto o Henfil, ter uma casinha no Rio, levando uma vida não de mordomias, mas de conforto, ao lado de uma bela mulher, com um casal de filhos, e tudo isso graças ao trabalho de jornalista e escritor, o meu mais antigo e querido sonho.
Amanhã, completarei 40 anos. Continuo querendo, quando crescer, escrever igual ao Fausto Wolff, há muito não tomo do lápis para tentar desenhar tão bem quanto o Henfil, casinha no Rio só mesmo a de amigos que lá moram e que têm a caridade de me receber, faço jornalismo num tempo em que esta profissão só dá futuro - ou, vá lá, as coisas comezinhas da vida - a quem o transforma em a$$essoria de imprensa da corte ou de seus bobos (as celebridades do meio artístico), estou contratado para escrever um livro, mas cadê tempo e cabeça para fazê-lo direitinho?, desisti (ainda bem) de ter filhos, pois, qual Noel, me pergunto "Com que roupa?", e desisti (também e infelizmente) de tudo mais que sonhei em favor dessa necessidade pragmática de sobrevivência medíocre que nos foi imposta por sucessivos lambe-botas de uóchintom lançando-nos "bombas" ininterruptamente, como se fôssemos todos os "inimigos" libaneses - e, puta que pariu, eu ainda sou neto de! -, matando nossos mais belos sonhos, estrangulando nossas mais simples esperanças.


* Soube, lendo o blogue do Roy (o judeu goy), que Israel tem a "bondade" de manter no ar uma rádio que anuncia o horário dos bombardeios, de modo que os inocentes possam fugir. Para onde, porra?! Aqui, no Brasil, governos e $inhá também anunciam de antemão o lançamento de suas bombinhas e obuses e mísseis, mas têm a cara de pau de anunciar tudo como "maravilhas para todos". Israel, ao menos, nesses casos, não mente. E aqui, depois do anúncio, pergunto de novo: fugir pra onde? Pros EUA, aliado$ dos sionistas e de qualquer outro país/governo que lhes diga amém?
De tudo o que listei, só consegui, hoje, a tal bela mulher, mas, semana passada, já começamos a "discutir a relação" (afinal, quando a solidariedade e o companheirismo predominam, o romance vai pras cucuias).
Mas fazer o quê? O lado, digamos, bom, é que, olhando pra trás, apesar de tudo, apesar da morte de meus sonhos, do estrangulamento de minhas esperanças, de alguma forma, sobrevivi. Que venham, pois, os 50. Encaro. Hoje sei que resistir é mais importante que sonhar.

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