domingo, 18 de novembro de 2012

O sexo e o frigobar


Não era apenas a questão do sexo exalando no copo de chope brahma e na picanha ao alho servida ao ponto; era todo um contexto que se unia ao kama sutra da noite, diversificada e, vez-em-quando-sempre, prazerosa. Não era apenas a questão do sexo ou sobre o final em si mesmo; o que o encantava era toda a biblioteca de Babel e a maneira de conduzir o caminho das palavras, a resposta da pele ao toque, a mensagem que o corpo oferece ao oposto no cruzar dos braços e no sorriso que dilata a pupila.
            Dentro do seu próprio sistema, especializou-se nos cardápios dos hotéis do Rio de Janeiro. Sempre solícito e solicitado, sabia de cor os melhores pratos ou as melhores bebidas para uma pernoite regada a orgasmo e culinária. Bife a Cavalo? Hotel “X”. Risoto de camarão? “Y” hotel. Peito de frango grelhado? “A dica é o hotel tal, mas, cuidado!, se não for pegar a suíte “W”, com preço mais salgado, a refeição pode levar até 02 horas para ficar pronta!”
            As pessoas acessavam o seu blogue atrás de uma dica de, pasmem, quem dava um maior valor e diversificação ao frigobar. Ele ficou tão bom no que fazia que os próprios donos de hotéis espalhados pela cidade pediam conselhos e pagavam pelas preciosas informações. E ele aproveitou cada cortesia ganha, cada suíte e champanhe estourado nas ancas da parceira do momento.
            E assim fez a sua vida de forma momentânea. Sempre na epiderme do arrepio, um perfume importado na camisa polo Rauph Lauren vermelha; a calça jeans apertada dando o toque instigado por ele, sempre expondo seu falo de maneira direcionada. Era um caçador magnífico.
Dizem, inclusive, que foi assim que morreu: dois tiros na cabeça enquanto comia a mulher de alguém que não tinha tempo. Entre um camarão e uma vagina, ambos regados a azeite ou saliva.
Anos após a sua morte, o blogue continuava sendo acessado; como um gourmet cafajeste, uma suíte vazia ou uma cantiga de escárnio.