sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Esta eu peguei do professor Moacy Cirne, no seu excelente Balaio Porreta.
Belíssima pintura (poema e fotografia) dos olhos humanos.
.
BALADA PARA UMA CRIANÇA ORFÃ DO AFEGANISTÃO
Paulo Jorge Dumaresq
[ in Nariz de Defunto ]
Não sei teu nome
tatuado na mão do destino.
Nem sequer desconfio que exista felicidade
para além das montanhas
que abrigam o dragão na caverna.
Mas saibas, criança sem nome e nação,
que minha alma latina - eterno porto de abrigo -
canta-a nesta balada final.
Para além de Cabul e Kandahar,
há alguém que ora por ti e teu destino repleto de vazio.
Algum dia, quando cessarem a tirania e a miséria,
talvez te reconheças no recorte da fria geografia do deserto,
e possas, quem sabe, me apontar flores na ponta do fuzil.


[ Foto distribuída pelo Fórum Social Mundial/2009 ]

Esta preciosidade eu peguei lá no blogue do Professor PC.
Claro que tem muita gente boa lá dentro, séria, sonhadora, profissional. Contudo, como as conquistas são meras obrigações de quem nos representa, é a sujeira que vende jornal. E quanta sujeira!

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

JB, PT e o Éter

Um amigo, outro dia, falava da época do grande Jornal do Brasil (anos 60/70/80) e sobre como era um vício ler páginas tão bem escritas, colunistas de renome, bons intelectuais. Peguei a queda do JB (anos 90 e alguma coisa no início dos 2000) até a sua total aniquilação (com o Tanure). Alguns dizem que seu declínio começou bem antes, mas, admitamos, era um tremendo de um Jornal, bem escrito, resolvido, elegante.
Quando meu amigo resolveu assiná-lo, deu-se o início da sua cura por Jornal do Brasil, tamanho o desleixo e a pedância do diário para com os seus assinantes. O Jornal atrasava, não vinha e, aqui acrescento, isto também ocorria na minha época de assinante. Morar na Baixada e assinar este diário era tarefa inglória.
Resumindo, meu amigo conseguiu largar o vício por Jornal do Brasil graças ao próprio JB.
Hoje, lembrando desta conversa, reflito sobre como o meu partido (Partido dos Trabalhadores) anda fazendo um esforço danado para que eu pare com o vício da política, com o vício do partido e mande tudo às favas. Triste observar como um sonho romano transformou-se na dura realidade dos prostíbulos e na negação dos brasileiros. Pena, pena mesmo. Este PT que começou na industrialização de Sampa e tomava as praças com a respiração e o ideário dos platônicos, este que tomava as prefeituras e as transformava em administração digna, voltada para o povo... O que dizer agora?
O governo Lula não é ruim. Na verdade, a administração petista continua acima da média brasileira, mas isso não basta. Não basta termos os índices de desenvolvimento que temos e beijarmos o Collor, o Sarney, o Renan. Lula será um capítulo inteiro nos livros de história, a oposição, para infarto de alguns, terá que engolir isso, Globo, Folha, DEM, principalmente, mas, para nós, os petistas, isso não pode bastar. Não éramos apenas bons administradores, éramos íntegros, ingênuos, lindos. Acordamos? Descobrimo-nos? Somos a encarnação original da Mosca Azul?
Os áureos tempos do JB foram beber em lugares etéreos, mas ainda é possível sonhar a política, ainda é possível sonhar. Não descarrilhamos. Devido às conjunturas e a necessidade de apoio, transformamos o tempo-espaço que tínhamos, mas o trem continua apitando, rumo à serra, nunca ao éter!

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

As faces da mentira

.
A esta altura, até pela leitura da Época - que pertence ao mesmo grupo - O Globo sabe que a tal reunião entre Lina e Dilma não existiu. A Folha sabe, o Estadão sabe.
.
Mas a intenção do jogo não era chegar à verdade. Era mentir sistematicamente até que a pecha de mentirosa pegasse na vítima. Em plena segunda, com a trama desvendada, prosseguem mentindo.
Matéria de capa de hoje de O Globo:
.
Dilma sai de cena para evitar desgaste
.
Matéria interna:
.
Já o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) disse que a ministra se enfraqueceu muito com o episódio de Lina Vieira e não se sustenta mais como candidata do governo à sucessão de Lula.
- Ela mentiu muito, foi mentindo, mentindo, mentindo, e agora querem tirá-la de cena para repaginar seu currículo. Por conta dela mesma, despencou, e é irreversível. Esse remendo em pneu velho não surte efeito, tem que trocar o pneu. Se o governo não trocar de candidato, vai perder por antecipação. O brasileiro não quer um presidente mitômano - avalia.
.
Demóstenes é o sujeito que participou da mentira com Gilmar Mendes em torno do grampo falso da Veja.
.
Na Folha, o grande pensador Fernando Rodrigues cria o conceito de “patrimonialismo da informação” para abordar exclusivamente a falta de imagens no sistema do Palácio. Dias antes, escreveu um artigo inteiro chamando a Ministra de mentirosa - com base em uma mentira. Anos atrás, passou um mês dando sobrevida a uma armação de sua fonte preferida - Gilberto Miranda - o dossiê Cayman.
Internamente, nenhuma matéria do jornal sobre o desmascaramento de Lina.
.
No Estadão, também nenhuma menção ao dia 19 - dia que Lina dava como sendo da suposta reunião. A matéria fala que a base se mobiliza para evitar a convocação de Dilma.
.
Pergunto, em que mundo estão? Graças à Internet, esse factóide foi desmontado. Centenas de milhares de leitores de Internet - dentre os quais, os melhores leitores do Estadão, Folha e Globo - sabem que estão sendo enganados, ludibriados, sabe que mentiram para eles.
Onde se pretende chegar? O Estadão faz um drama com a decisão do desembargador em proibir a divulgação de um tema sob sigilo da notícia. Pergunto ao Gandour: qual o direito que tem um jornal de manipular a informação, de mentir e, depois de descoberta a mentira, não se corrigir?
Como se pretende alçar a liberdade de imprensa ao panteão das grandes liberdades civis, com essa desmoralização persistente? Não percebem que estão fazendo o jogo dos inimigos da democracia, que estão legitimando o chavismo? Quando irá cair a ficha desses destrambelhados?

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Darcy revisitado

Deu em O Globo (portal): “A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara aprovou na quarta-feira um projeto que inclui na Constituição o direito à jornada integral no Ensino Fundamental (...). O Texto aprovado na Câmara estabelece que também terão direito ao ensino integral alunos fora da idade regular.”
A medida, se aprovada, retomará o caminho estuprado por uma sucessão de governos neolibertinos que defenestraram os pensadores-educadores da Educação e criará, outra vez, mecanismos eficazes para reter a criança o máximo de tempo na escola. Sabemos bem o que é uma criança desamparada pelos pais e sociedade na rua, não é mesmo?
O Ministro da Educação, apesar de ver com bons olhos a iniciativa, revelou que precisará de 20 bilhões a mais nos cofres para bancar o custeio do projeto, isso sem contar com o investimento em infraestrutura. Contudo, sabendo dos benefícios reais e a longo prazo que isso trará, e sabendo que a corrupção sistemática do país joga na lama, todo ano, algo semelhante, 20 bilhões é uma ninharia.
O Governo Federal, na verdade, já trabalha há tempos nesse sentido com programas como o Mais Educação (que, a bem da verdade, é a jornada integral), o projeto Segundo Tempo (de Educação Física), etc.
Agora, a minha pergunta: quando, no começo dos anos 80, Darcy Ribeiro implantou o mesmíssimo projeto, junto com Brizola, todos esses que, agora, aprovaram o Que-Todo-Mundo-Sabe-Ser-O-Certo, desceram o cacete nos CIEPs e na fórmula da educação integral. 25 anos depois descobriram que a fórmula é a correta? Covardes e hipócritas! 20 e poucos anos de educação integral no Rio de Janeiro, não fosse esquartejado pelo Sr. Moreira Franco, e estaríamos na 3ª geração de bons alunos com bom direcionamento curricular-escolar.
Sabemos que, enquanto projeto, isso levará anos para se tornar efetivamente algo concreto, mas só o sopro nessa direção já me enche de alguma alegria.

* Colaborou J. L. Quintanilha

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

O Poema que Morreu

China estava crescendo 7%
Países emergentes estavam crescendo
Euro valorizado por demais...
Tio Sam coçou a cabeça e disse:
“Vão todos pro cacete! Crise financeira agora!”

H1N1 é a moda midiática?
Quem vai nos salvar da epidemia que mata pouco?
Será o Tamiflu? Estamos salvos!
Só esqueceram de noticiar que Donald Rumsfeld é acionista da empresa
Mídia não checa fontes ou joga fora o que checa?

Queria fazer, de fato, um poema
Queria cantar os males do mundo e depois subverter o poema
Encará-lo em epifania, quiçá um transe
Contudo, não tenho palavras pra orar
O quanto o mundo ficou uma merda.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Notícias de O Globo

O LIVRO DO AMOR
OU
COMO ENCONTRAR O DIABO NA PASTA DE DENTE
.
A Venezuela acabou de decidir: a maneira de ver o sistema de ensino como uma fábrica criadora de humanóides sem identificação com a origem dos seus antepassados e nenhum respeito ao próximo irá acabar. A partir de agora, todo o sistema estará voltado para uma aprendizagem mais “socialista”, ou seja, a comunidade que gira em torno da escola poderá opinar sobre o formato de educação adotado e sobre como mudar.
No portal do jornal O Globo está escrito: “...após violência e intensos debates, polêmica lei de Educação é aprovada”. O texto se inicia da seguinte forma: “A Assembléia Nacional da Venezuela, controlada pelo governo, aprovou...” e possui dois links para outros textos parcialíssimos: Servidores de Cháves atacaram jornalistas e Miriam Leitão comenta a decisão do congresso.
Agora, reparem sobre o aposto aberto logo na primeira oração do texto: “controlada pelo governo”. Por que abrir tal explicação? Para deixar nítido que a pressão, a mão de ferro do governo (em letras minúsculas) caiu com toda a sua força na Assembléia. Ou seja, na Venezuela não existe democracia, existe o “delinquente Hugo Cháves e a oposição heróica, combativa”.
No link aberto da Miriam Leitão, o título já deixa bastante claro a que veio o seu texto e vídeo: Doutrina educacional de Hugo Chávez vai fracassar. E, já no texto: “Mas o projeto educacional de Chávez vai dar errado, como tudo mais em uma ditadura”. Sim, a Venezuela é uma ditadura, acreditem se quiser! Acabei de descobrir isso com a Miriam, apesar das eleições diretas, apesar dos referendos, o Sr. Hugo é um ditador! A nossa querida colunista não explica muito sobre como ela chegou a essas conclusões relevantes (ditadura e projeto natimorto), mas, “em se tratando” de M. Leitão, sabe-se que provas e conclusões são coisas distantes e complexas.
Pena para O Globo, pena para todos nós.


A Acantha me convenceu e, agora, (também) estou no Twitter. Como não saco nada de Inglês, além dos Beatles e dos Rolling Stones, encontro-me com uma certa dificuldade na parte visual, mas, enfim, os pequenos "textos de celular" estão lá e o endereço é este:

http://twitter.com/resumodachuva

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Um Novo Circuito

Esta eu roubei do amigo Flávio Lima, companheiro e colunista do sítio Algodão Pólvora.
Sacada muito apropriada em tempos de H1N1.
Vamos a Ela:
.
Vírus, doença, contágio, epidemia. Remédio, cura, sucesso. Produção. Lucro, indústria, farmácia, comércio. Dinheiro. Acionista, rendimento. Empresa. Princípio ativo, patente, controle. Interesse. Vírus, variação, doença, contágio, alto risco, alarme, pandemia. Remédio, princípio ativo. Patente, controle, indústria, acionista, empresa, sucesso, lucro, dinheiro.

Uma tentativa de reproduzir a genialidade de Ricardo Ramos em seu "Circuito Fechado"
.
Flávio Lima de Mesquita

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Esta é a capa do jornal carioca EXTRA. O Professor PC, no seu blogue, já disse e eu repito: Bingo!
Tremendo acerto editorial e artístico!

O Cinismo

Vejo, neste momento, o senhor Sarney, “que preza a liturgia, cidadão de vida ilibada, vítima de uma campanha sistemática e agressiva”, pedindo justiça e reflito sobre como o diabo é uma figura injustiçada. Como podemos perseguir e odiar o diabo? Ora, meus amigos, o senhor Sarney pede justiça para que ele possa restaurar a paz e a harmonia no senado e vocês perdendo o precioso tempo com o pobre do diabo? Olhem mais para o senado, meu amigos de bem, e tentem ver algo de bom(?) naquilo tudo!
Enxergo a Casa lotada, algumas figuras parecem sair de algum filme de Quentin Tarantino, contudo, Apocalipse Now, do Coppola, também está lá, em câmera lenta, sussurrando algo que Kurtz não conseguiu dizer no filme.
Crivella afirma que o senador Agripino fora muito lúcido (e Agripino está ao lado de Fernando Collor). Renan Calheiros acredita que Mercadante não entendeu bem alguma coisa. Enfim, a verdade é que muita gente falou, mas ninguém disse porra nenhuma! “O horror, o horror!”, mais uma vez me lembra o Coronel Kurtz, do alto da sua sabedoria em pedaços.
A verdade é que não queria falar do senado, comi pizza ontem e não gosto de repetir o prato. Gostaria de, a partir do prostíbulo (ou da casa dos seus filhos), debruçar meu nojo para o que há de muito errado neste país. Contudo, parece ser, o senado, aquilo que está muito errado no nosso território(de novo e de novo e de novo), ele é o estereótipo do que caminhamos, convictos, para ser.
Em tempos nem tão remotos assim, quando um canalha era pego em erro, este manifestava-se imediatamente, semblantes baixos, nó na garganta, e saía a pedir o perdão de todos (parece que na Inglaterra ainda é assim). Vá lá, era tudo panis et circenses, mas havia uma questão moralista: pedir desculpas era fundamental! No tempo presente, não só não se assume o crime como o revertem para o campo da virtuosidade ou de algo parecido com “eu faço, mas todos fazem”! Meus amigos, desde quando cometer o erro que todos cometem(?) é aval para o acerto? Por que, quanto mais vejo os seres humanos de dedo em riste gritar “calúnia!”, mais acredito que a mentira ronda a indignação?
Parece que um sintoma dificultador da cidadania anda rondando o país com alguma insistência nestes 15, 20 anos: o cinismo. É simplesmente impressionante como o homem moderno é cínico. Cínico como nunca. Cínico como jamais se pensou ou ousou ser. Absurdamente cínico.
Cínico como o diabo gosta? Acho que mais do que pretendia o chifrudo. Estamos além do pecado (ele não existe abaixo da Linha do Equador), chegamos ao nível do torpor, da infâmia consciência da impunidade.
Desligo o televisor com a sensação de que o Sr. Sarney cairá, talvez em um mês, uma semana, mas cairá; infelizmente pelos motivos errados. Sarney não será defenestrado porque se utiliza da lama para ser feliz – isto sempre foi uma praxe dos coronéis de plantão –,ele será escurraçado porque é o bode da vez, aquele que apóia o partido que, se não cagar fora do penico ou se a Dilma não morrer, sairá vitorioso das urnas em 2010. Esta é a verdade.
A questão, para o desgosto do Bem e do país, nunca foi a limpeza da Casa, mas a guerra nos bastidores para 2010. “O horror, o horror!”, diria o Coronel Kurtz, mas, cá entre nós, isto já não é o Camboja?