quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Gran Torino

Queria falar de um ano novo cristão e das promessas que, políticas, sempre esquecemos de colocar em prática. Mas não foi possível. Simplesmente resolvi lembrar que tenho alguma massa cefálica (escondida, é claro) e peço licença ao leitor acostumado com a minha falta de educação: vou falar de Gran Torino.
.
Clint Eastwood cometeu uma obra-prima. Havia encontrado a luz com 03 filmes surpreendentes: Menina de Ouro (o apogeu), Sobre Meninos e Lobos (muito bom) e Cartas de Iwo Jima (excelente). Contudo, cometer uma obra-prima (e digo cometer porque a genialidade é um tropeço que o errático humano comete à procura do que está além da sua insignificância) é uma tarefa “um tanto quanto” difícil. Acredito que o velho Clint a tenha alcançado com Gran Torino. Explico.
.
Estão lá todas as referências de sua carreira, assim como todos os seus estereótipos. O filme começa com um “Dirty Harry aposentado (Walt Kowalski)” e amargurado com o que sobrou do seu país e da sua família. O país (que se resume à vizinhança, claro, pois o velho Dirty vive em seu mundinho, demasiadamente pequeno, assim como a sua visão primeira) está entregue à barbárie, refletida na comunidade negra e nos vizinhos Hmong que mal falam a sua língua inglesa – o que não deixa de ser uma puta ironia já que ele próprio se chama Walt Kowalski, ou seja, um americano/polonês. Sua família é um desastre americano (seu filho trabalha para uma montadora japonesa, o que define perfeitamente o estereótipo de desestruturação e falência das tradições). É claro que há um padre no meio do enredo tentando resgatar a “alma” do velho Dirty, mas não é com deus que Kowalski quer acertar suas contas.
.
A simplicidade aparente do filme, distribuída em doses cavalares de preconceito, racismo e etnocentrismo, revela-se apenas um pano-de-fundo para algo mais, muito mais complexo: a redenção. E ela chega na figura de dois jovens Hmong. Absolutamente genial a “sacada” de Clint Eastwood ao deixar que a transformação do seu “eu” ocorra junto ao jovem Thao, filho mais novo da família asiática, que tenta roubar seu carro Ford Gran Torino 72 (símbolo máximo do tradicionalismo e status quo americano). Genial porque o antagonismo entre os dois é a amálgama que os une e transforma-os. A partir da relação de pura troca, quando o velho dá sentido à vida do jovem ao direcioná-lo no caminho do bem e o jovem devolve a vida ao velho ao torná-lo útil, cria-se a luz que resultará na “catarse contida (!)”, no momento de epifania do filme.
.
O que começa com o velho Dirty, perpassa avassaladoramente pela resposta que pulsa nOs Imperdoáveis (e que terá o seu melhor desenrolar em Sobre Meninos e Lobos) e termina na revelação do seu acerto de contas. Não, Kowalski/Eastwood definitivamente não quer acertar as contas com deus, mas com o homem. É ao homem que este filme se destina, é uma ode à lucidez, e sobretudo, através da morte, uma ode ao amor.
.
Queria falar do ano novo e dos desejos de prosperidade, saúde, paz e dindim, mas Gran Torino representa algo mais; representa a verdadeira mudança, a compreensão do companheirismo e a redenção através do próprio homem.

sábado, 12 de dezembro de 2009

Resumo da Chuva

E mais um ano passa por estas bandas, largas ou discadas, e o que se viu quase sempre foi chuva feia, esquisita.

Muitos PMs esquecendo dos seus deveres enquanto policiais (tudo bem, isso não é novidade, mas este ano extrapolou) e descambando de vez para o paralelismo do bandido de uniforme, muito político safado (tudo bem, outra vez, novidade alguma em terra brasilis) fazendo maracutaia com o dinheiro do povo, esquecendo de construir o coletivo, o social para satisfazer o bem-estar particular e familiar. Partidos partidos, racha na oposição, no governo... PED petista muito dividido e a certeza de que nem quando estamos no rumo, estamos no prumo.

É certo que houve coisas de estancar a pipa e aflorar o coração. Finalmente um Campeonato Brasileiro digno das antigas emoções. A maior torcida do mundo (ou a que existe no mundo todo) em polvorosa! Meu Mengão (êta timinho sofredor!) campeão outra vez e, outra vez com duas pratas da casa: Andrade (o heroi mineiro) e Adriano (feliz na favela, na laje e de chinelos). Tudo bem, pela terceira vez, o Pet é quase brasileiro (e muito Rubro-Negro). Desculpa, Jens, o seu Colorado quase chegou, mas, pense no lado positivo: não foi nenhum tricolor (ops... Desculpa, Professor Moacy)!

A Educação no país continua uma merda, mas a gente vai levando... O que eu vou dizer quando minha filha perguntar se deus realmente protege os corruptos? Será que eu vou lembrar que, com o advento do youtube, o povo pode ter memória curta, mas a Internet não? Que está tudo lá, a oração dos ladrões, depois de embolsarem o dinheiro sujo, pedindo para deus protegê-los, nas barbas do DEMocratas, do Brasil e de tudo que está errado em Brasília? Aliás, só o DEM é demoníaco?

É certo que continuamos por aqui, sobrevivendo aos BBBs, as Fazendas, as bundas de verão, das frutas, das revistas; tentando encontrar a nossa tribo, acomodar as ideias que, frutíferas, perambulam pela rede à procura de poesia. Continuamos aqui, chovendo de várias formas e expressões, buscando os pares, abrindo a roda e distribuindo nossas dúvidas no único e (ironia?) invisível espaço que, por enquanto, ainda é democrático.

Abraço a todos da tribo! Até 2010!

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

A piada e o Projeto

Deu nO Globo online: “PIB do Brasil sobe 1,3% no 3º trimestre, menos que o esperado. Sobre 2008, queda de 1,2%”.

Este jornal é de uma graça fantástica. Mais informativo que ele só o Rolando Lero, personagem do saudoso Rogério Cardoso. Impressionante como, com 2 linhas, o portal consegue informar e desinformar ao mesmo tempo. Explico.

Alguém consegue dizer o que, no final de 2008 e durante todo o ano de 2009, aconteceu financeiramente ao mundo? Pois é, acho que a imprensa marrom esqueceu da CRISE FINANCEIRA MUNDIAL... Talvez porque o Brasil, assim como apregoou o nosso presidente (e por isso fora defenestrado por este mesmo jornal), recebeu apenas uma marolinha da crise. Ah!, é claro, fomos o 3º país a sair da marola, provando mais uma vez que, além de fodões, não gostamos de maconha.

É claro que tal jornal não está sozinho nessa cruzada em favor do alarme e do projeto Que-se-Foda-o-Brasil, muitos, inclusive, abraçam a causa com tentáculos maiores, mais desinformativos e menos sutis. Contudo, ao contrário do que era feito no passado (as Kombis da Folha que o digam), graças a Internet, nada mais fica sem respostas imediatas, tanto de apoio quanto de repúdio.

Assim como fora apregoado que a “gripe suína” contaminaria milhões no Brasil, que a crise financeira mataria inúmeros patrimônios e que o efeito Dunga na seleção celebraria o retorno da ditadura militar (brincadeirinha), nada, absolutamente nada de verdade se concretizou, para desespero da direita brasileira (sim, ela existe! E está dentro da sua casa, no primeiro televisor ligado).

Portanto, continuemos com nossas vidas, celebremos a abertura das cervejas e os suculentos churrascos, o resto é pura palhaçada!

terça-feira, 17 de novembro de 2009

sábado, 14 de novembro de 2009

Os talebans da Uniban e a tensão entre a saia curta e a orelha comprida

Por Marcelo Soares
.
do (ótimo) blogue E você com isso?
.

Pois a Uniban expulsou a hoje famosa Geisy Arruda, que causou alvoroço na faculdade por ir de vestido curto pra aula. Segundo anúncio publicado pela universidade hoje, a culpa pelo tumulto foi da aluna, por ir à aula em trajes inadequados e fazer um percurso maior do que o habitual. Os próceres da academia sentenciam que a aluna feriu a ética, a moralidade e a dignidade acadêmica.

Eu continuo achando que, se a universidade institucionalmente considera que a roupa era inadequada, tinha jeitos menos selvagens de informar isso à estudante. Quando ela entrou, a batata-quente do ridículo estava na mão dela. Quando ela saiu, estava na mão de centenas de alunos e no colo da faculdade, muito mais quente e muito maior. E, sinceramente, também continuo achando que entre adultos o que se veste é problema de cada um. O blog do Marcos Guterman resume bem: a culpa acabou sendo da vítima.

Mas não era exatamente da loira da Uniban que eu queria falar. Queria falar de educação, num sentido mais amplo. Acho que o caso comprova, mais do que nunca, um ponto importante e que volta e meia volta à discussão de maneira rasa: a diferença abissal que existe entre educação e canudo.

Nesta semana, o presidente Lula entrou no foco desse debate. Começou com o Caetano Veloso botando lenha na fogueira ao elogiar por contraste a ex-ministra e futura presidenciável Marina Silva com um "ela não é analfabeta como Lula". É um tipo de argumento que sempre aparece e no qual eu nunca toco porque eu acho de uma imbecilidade colossal. Verdade que o Lula teve tempo suficiente pra fazer supletivos e até uma faculdade, mas não fez - a Marina Silva fez, o Vicentinho fez. Só que nem por isso ele é "burro" - pelo contrário, é esperto o suficiente pra saber quando dizer que não sabia de nada. Ele e seu governo têm problemas mais sérios do que isso.

O presidente tem respostas muito boas pra esse tipo de crítica. Está acostumado, enfim, após tantos anos de vida pública. Em discurso no congresso nacional do PC do B, Lula falou uma grande verdade em serviço próprio:

"Tem gente que pensa que a inteligência está ligada à quantidade de anos de escolaridade que você tem. Não tem nada mais burro que isso. A universidade te dá conhecimento, aperfeiçoamento. Inteligência é outra coisa."

De uma maneira mais comprida, ele basicamente explicou a frase antológica do mestre Barão de Itararé: "canudo não encurta orelha".

Já tive longas discussões com minha avó sobre isso. Mulher sábia, do alto de seus 90 anos, ela insiste em se dizer "burra" porque só estudou até a terceira série. Porém, alguns insights que saem de sua cabeça, a partir do que viu e viveu, são mais profundos do que a maior parte da produção intelectual de ciências humanas do Brasil, ou pelo menos na área da comunicação. (Antes que venham com pedras: sim, eu tenho o hábito de ler trabalhos acadêmicos. Geralmente acho que sou masoquista.)

Outro debate interessante em que essa confusão se fez notar recentemente foi no rolo da obrigatoriedade do diploma para jornalistas. Eu, pessoalmente, acho que estudar jornalismo é muito útil para um futuro jornalista. Mas acho que a obrigatoriedade era um prêmio para as faculdades ruins. Prêmio que elas aproveitaram bem, no boom de faculdades de esquina que surgiu a partir dos anos 90. Lucraram muito com isso. Durante quatro anos, ensinavam qualquer coisa basicamente para justificar as mensalidades. Ao final, entregavam um canudo que valia tanto quanto o de uma faculdade boa - afinal, era isso o que importava - e o aluno que se virasse pra aprender tudo no mercado de trabalho. Ou para achar outra profissão, sei lá.

Muita gente bem-intencionada critica a decisão do STF de derrubar a obrigatoriedade do diploma. Acham que isso "desvaloriza" a profissão. Eu acho que não. Acho que isso tira o prêmio das faculdades ruins. As boas estão seguras. As médias vão ter que melhorar pra sobreviver, e isso é ótimo. A finalidade de estudar jornalismo não é ter acesso a um pedaço de papel, e sim a um conjunto de conhecimentos. Ainda nesta semana, meu mestre Plínio Bortolotti, do jornal O Povo, publicou em seu blog a informação de que, após a decisão do STF, o Ministério do Trabalho não está mais fazendo registro profissional de jornalistas. Também acho ótimo: acho que obrigar jornalistas a pedir licença para exercer sua profissão é resquício ditatorial. Quando precisava pedir, estávamos acompanhados de atores, sociólogos e flanelinhas. Agora, que não precisa mais pedir, estamos na companhia de engenheiros, advogados e médicos. Se não tinha critério, melhor não ter. (Que desobriguem também os atores e sociólogos!)

Mas esse pessoal bem-intencionado gosta da segurança que o papel dá. O canudo, o carimbo, a marca d'água, as assinaturas de três testemunhas, as diferentes destinações de vias de cores diferentes, a firma autenticada em cartório, a obrigatoriedade de apresentar certidão de nascimento junto da carteira de identidade indo pessoalmente ao local.

Isso está na base da cultura brasileira, cartorial e bacharelesca. O antropólogo francês Claude Lévi-Strauss, que morreu nesta semana, foi um dos fundadores da Universidade de São Paulo. Em seu clássico "Tristes Trópicos", porém, Lévi-Strauss fez observações ácidas sobre os hábitos intelectuais dos estudantes brasileiros:

"Nossos estudantes queriam saber tudo; mas, em qualquer campo que fosse, só a teoria mais recente parecia merecer-lhes a atenção. Fartos de todos os festins intelectuais do passado, que aliás só conheciam por ouvir dizer, já que não liam as obras originais, conservavam um entusiasmo sempre disponível pelos pratos novos. No caso deles, conviria falar mais de moda que de gastronomia: idéias e doutrinas não ofereciam, em seu entender, um interesse intrínseco, consideravam-nas como instrumentos de prestígio cujas primícias deviam conseguir. Partilhar uma teoria conhecida com outros equivalia a usar um vestido já visto; expunham-se a um vexame. Em compensação, praticavam uma concorrência ferrenha à custa de muitas revistas de vulgarização, periódicos sensacionalistas e compêndios, para conseguir a exclusividade do modelo mais recente no campo das idéias. (...) No entanto, a erudição, da qual não tinham o gosto nem o método, parecia-lhes (...) um dever; de modo que suas dissertações consistiam, qualquer que fosse o tema, numa evocação da história geral da humanidade desde os macacos antropóides, para terminar, por meio de algumas citações de Platão, Aristóteles e Comte, na paráfrase de um polígrafo enfadonho cuja obra tinha tanto mais valor na medida em que, por sua própria obscuridade, era bem possível que nenhum outro tivesse a idéia de pilhá-la." (evoé, @mrguavaman)

Isso era bem antes dos tempos atuais. Ele viveu no Brasil entre 1935 e 1939. Em 1936, o brasileiro Sérgio Buarque de Hollanda escrevia, em "Raízes do Brasil":

"A dignidade e importância que confere o título de doutor permitem ao indivíduo atravessar a existência com discreta compostura e, em alguns casos, podem libertá-lo da necessidade de uma caça incessante aos bens materiais, que subjuga e humilha a personalidade. Se nos dias atuais o nosso ambiente social já não permite que essa situação privilegiada se mantenha cabalmente e se o prestígio do bacharel é sobretudo uma reminiscência de condições de vida material que já não se reproduzem de modo pleno, o certo é que a maioria, entre nós, ainda parece pensar nesse particular pouco diversamente dos nossos avós. O que importa salientar aqui é que a origem da sedução exercida pelas carreiras liberais vincula-se estreitamente ao nosso apego quase exclusivo aos valores da personalidade. Daí, também, o fato de essa sedução sobreviver em um ambitente de vida material que já a comporta dificilmente. Não é outro, aliás, o motivo da ânsia pelos meios de vida definitivos, que dão segurança e estabilidade, exigindo, ao mesmo tempo, um mínimo de esforço pessoal, de aplicação e sujeição da personalidade, como sucede tão frequentermente com certos empregos públicos".

E o que é que o caso da Uniban tem a ver com isso?

Bom, pra mim pareceu mais ou menos claro que aquelas centenas de alunos não estavam lá para estudar. Se todo mundo podia sair da sala de aula pra chamar uma colega de puta, é porque isso era mais importante do que estudar. Se a faculdade acha que é mais importante expulsar a aluna saliente do que tomar medidas contra os alunos talibãs que mataram aula pra linchar moralmente a aluna saliente, é porque a faculdade não apenas sabe desse vezo como também o apoia - ao menos nesse caso, em que atribuiu a culpa do tumulto de centenas alunos a uma aluna só.

E como não apoiaria? É mais negócio perder uma mensalidade ou 700? O canudo está garantido lá no final. E, afinal, é ele que importa. Com o canudo na mão, ninguém vai chamá-los de burros como chamamos o presidente, não é?

Como eu falei no comentário da TV, mais dia menos dia esses caras estarão nas empresas e na política. Com seu senso de moral peculiar reforçado, porque até a faculdade lhes deu razão no caso, e toda a empáfia da cultura bacharelesca brasileira.

O problema do Brasil nunca foi a saia curta. É a orelha comprida.

por Marcelo Soares

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Relato de um sol eterno


Este lindíssimo poema em prosa me surpreendeu. Uma tremenda confissão de amor. Roubei do blogue da Vanessa Bencz.
Boa aventura!
.

Relato de um sol eterno
.
A primeira pessoa que vejo, ao abrir os olhos pela manhã, é a minha irmã mais velha. Dividimos o mesmo quarto faz 23 anos. Ela dorme na cama à minha direita. Como se fosse meu braço direito, meu leste. Ela me amanhece.
Em pequena, eu tinha dificuldades para pronunciar seu nome. Me acostumei a chamá-la por uma simples sílaba: Di. Só eu a chamo assim, ela só atende ao apelido quando é dito pela minha voz. A alcunha necessita de tom musical, carga emocional e um riso no canto da boca que apenas eu sei dar.
Di é dois anos mais velha que eu. Quando eu tinha seis anos, minha tia fez para mim a fatídica previsão que os parentes sempre fazem para adivinhar as crianças da família:
- Essa menina vai dar baixinha. Sua irmã mais velha, não. Vai dar moça alta, de pernas compridas.
Escondi-me ainda mais na baixa estatura e na franja loira. Di era criança alta, bonita e precoce. Criança irreal de filme estrangeiro. Criança que sabe conversar sobre a previsão do tempo, o governo Collor e a queda da bolsa de valores. E eu mal sabia soletrar meu próprio nome. Tinha dificuldades com a letra s.
Tornei-me uma pré-adolescente tímida e egoísta. A lição de solidariedade veio pela minha irmã. Certa vez, no colégio, meus colegas riam de mim por um motivo que não lembro mais. Di chegou, fez um sermão com dedo em riste, e as crianças se calaram. Exceto por um menino gorducho e feioso, que teimava em continuar rindo. Di deu-lhe quatro murros na orelha, e o moleque se calara. Tempos depois, eu faria o mesmo pelo meu irmão mais novo.
No começo da fase adulta, Di precisou fazer uma cirurgia de emergência. Fui visitá-la no hospital e, ao vê-la na cadeira de rodas, desabei num choro frenético e desmaiei de pressão baixa. Saímos juntas do hospital, cada uma em sua cadeira de rodas.
Hoje em dia, Di e eu temos a mesma altura. Nós somos o mesmo território vasto de lembranças. Nossos sonhos se misturam de noite e nossa telepatia se entrecruza durante o dia. Di me amanhece.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Como escrever sobre o amor

A mão da mãe manhava

Trêmula, fosca, fatigada

Ao perder a direção, prumo

Do mar do filho curvo

.

Chegou e quase não disse

Sua voz miava quinze

E eu perguntava: quinze anos?

Enganos? Sem planos? Cu?

.

O filho no mundo voava?

Ela, sem chão, mergulhava

Perdendo a procura, o tempo

O nome, a febre, a dor

.

Quem sabe se vive?

A polícia não sabe ou suspeita

Como não sabe ou suspeita

Da Baixada e da chacina.

Por indicação do Professor Halem, no seu blogue, reproduzo uma ótima visão sobre o homem e a sua incontestável humanização.
Como não sou mais assinante da folha, nem do UOL, peguei a crônica aqui.
Boa leitura!

A turba da Uniban


CONTARDO CALLIGARIS
Folha de S. Paulo - Ilustrada - 5/11


As turbas têm um ponto em comum: detestam a ideia de que a mulher tenha desejo próprio


NA SEMANA passada, em São Bernardo, uma estudante de primeiro ano do curso noturno de turismo da Uniban (Universidade Bandeirante de São Paulo) foi para a faculdade pronta para encontrar seu namorado depois das aulas: estava de minivestido rosa, saltos altos, maquiagem -uniforme de balada.

O resultado foi que 700 alunos da Uniban saíram das salas de aula e se aglomeraram numa turba: xingaram, tocaram, fotografaram e filmaram a moça. Com seus celulares ligados na mão, como tochas levantadas, eles pareciam uma ralé do século 16 querendo tocar fogo numa perigosa bruxa.

A história acabou com a jovem estudante trancada na sala de sua turma, com a multidão pressionando, por porta e janelas, pedindo explicitamente que ela fosse entregue para ser estuprada. Alguns colegas, funcionários e professores conseguiram proteger a moça até a chegada da PM, que a tirou da escola sob escolta, mas não pôde evitar que sua saída fosse acompanhada pelo coro dos boçais escandindo: "Pu-ta, pu-ta, pu-ta".

Entre esses boçais, houve aqueles que explicaram o acontecido como um "justo" protesto contra a "inadequação" da roupa da colega. Difícil levá-los a sério, visto que uma boa metade deles saiu das salas de aula com seu chapéu cravado na cabeça.

Então, o que aconteceu? Para responder, demos uma volta pelos estádios de futebol ou pelas salas de estar das famílias na hora da transmissão de um jogo. Pois bem, nos estádios ou nas salas, todos (maiores ou menores) vocalizam sua opinião dos jogadores e da torcida do time adversário (assim como do árbitro, claro, sempre "vendido") de duas maneiras fundamentais: "veados" e "filhos da puta".

Esses insultos são invariavelmente escolhidos por serem, na opinião de ambas as torcidas, os que mais podem ferir os adversários. E o método da escolha é simples: a gente sempre acha que o pior insulto é o que mais nos ofenderia. Ou seja, "veados" e "filhos da puta" são os insultos que todos lançam porque são os que ninguém quer ouvir.

Cuidado: "veado", nesse caso, não significa genericamente homossexual. Tanto assim que os ditos "veados", por exemplo, são encorajados vivamente a pegar no sexo de quem os insulta ou a ficar de quatro para que possam ser "usados" por seus ofensores. "Veado", nesse insulto, está mais para "bichinha", "mulherzinha" ou, simplesmente, "mulher".

Quanto a "filho da puta", é óbvio que ninguém acredita que todas as mães da torcida adversa sejam profissionais do sexo. "Puta", nesse caso (assim como no coro da Uniban), significa mulher licenciosa, mulher que poderia (pasme!) gostar de sexo.

Os membros das torcidas e os 700 da Uniban descobrem assim um terreno comum: é o ódio do feminino -não das mulheres como gênero, mas do feminino, ou seja, da ideia de que as mulheres tenham ou possam ter um desejo próprio.

O estupro é, para essas turbas, o grande remédio: punitivo e corretivo. Como assim? Simples: uma mulher se aventura a desejar? Ela tem a impudência de "querer"? Pois vamos lhe lembrar que sexo, para ela, deve permanecer um sofrimento imposto, uma violência sofrida -nunca uma iniciativa ou um prazer.

A violência e o desprezo aplicados coletivamente pelo grupo só servem para esconder a insuficiência de cada um, se ele tivesse que responder ao desejo e às expectativas de uma parceira, em vez de lhe impor uma transa forçada.

Espero que o Ministério Público persiga os membros da turba da Uniban que incitaram ao estupro. Espero que a jovem estudante encontre um advogado que a ajude a exigir da própria Uniban (incapaz de garantir a segurança de seus alunos) todos os danos morais aos quais ela tem direito. E espero que, com isso, a Uniban se interrogue com urgência sobre como agir contra a ignorância e a vulnerabilidade aos piores efeitos grupais de 700 de seus estudantes. Uma sugestão, só para começar: que tal uma sessão de "Zorba, o Grego", com redação obrigatória no fim?

Agora, devo umas desculpas a todas as mulheres que militam ou militaram no feminismo. Ainda recentemente, pensei (e disse, numa entrevista) que, ao meu ver, o feminismo tinha chegado ao fim de sua tarefa histórica. Em particular, eu acreditava que, depois de 40 anos de luta feminista, ao menos um objetivo tivesse sido atingido: o reconhecimento pelos homens de que as mulheres (também) desejam. Pois é, os fatos provam que eu estava errado.


ccalligari@uol.com.br

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Esta é a capa da edição de hoje do jornal carioca O Dia. Impossível não postar!

"O Rio não é violento"
Assinale com um X quem disse ontem a frase acima.
1- Homem-Aranha - que está no Rio para shows no Maracanizinho a partir de amanhã;
2 - Secretário Beltrame - diante da Comissão de Segurança Pública na Câmara, em Brasília;
3 - Papai-Noel - que ainda se recusa a blindar seu trenó para distribuir os presentes da criançada.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Queria postar todo o blogue do professor Moacy (Balaio Porreta 1986), mas os dois poemas já é abusar do roubo. Então, fiquem com estes e, depois, confiram o resto!
___________________________________
CONFISSÃO DO LATIFÚNDIO
D. Pedro Casaldáliga
[ cf. Barbaridades críticas, de Marcius Cortez ]

Tudo é relativo
menos Deus e a fome.
(Noemas 34)

Por onde passei,
plantei
a cerca farpada,
plantei a queimada.
Por onde passei,
plantei
a morte matada.
Por onde passei,
matei
a tribo calada,
a roça suada,
a terra esperada...
Por onde passei,
tenfo tudo em lei,
eu plantei o nada.
_____________________________________________


POEMA

Líria Porto


não queiras ser o único
o último
o primeiro
sê aquele de quem eu me lembre
todas as noites


quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Também morre quem nunca atirou

Pense nisso: dois marginais abatem um cidadão na cidade do Rio de Janeiro, roubando seu casaco e tênis. Neste momento, dois policiais surgem, rendem os ladrões, prendem-nos, socorre o cidadão, dão entrada no processo... Dia seguinte, a mídia descobre que as câmeras, instaladas nos interiores das lojas, captaram tudo e exibem-nas em horário nobre. Governador e Comandante vão à TV falar da incrível capacidade da polícia, do excelente preparo dos soldados. Os policiais dão entrevistas ao lado do Secretário de Segurança, são condecorados. A opinião pública dorme sossegada.

Pense nisso: dois marginais abatem um cidadão na cidade do Rio de Janeiro roubando seu casaco e tênis (mas poderia ser apenas a carteira, o relógio, uma cédula de cinco reais). Dois policiais, 60 segundos depois, aparecem em uma viatura, descem, olham para o sujeito estirado na calçada, prosseguem o curso, rendem os dois marginais, pegam os frutos do roubo, guardam na viatura, liberam os marginais (agora, assassinos), batem ponto e vão para casa sem socorrer a vítima ou fichar o acontecido na delegacia.

Pense nisso: o céu ou o inferno é uma questão de segundos. Daqui a pouco, algum maluco vai declarar à mídia que as câmeras poderiam estar externas no Rio de Janeiro todo. Alguém lembrará que George Orwell está mais vivo do que nunca e que isso seria invasão de privacidade, que daqui a pouco estariam nas escolas, hospitais, em casa! Mas a opinião pública não dará bola, monitoramento no cidadão agora! E tudo por causa de dois policiais(?) que, ao invés de fazerem o que deveriam, inverteram o jogo, a moral, o juramento, e botaram tudo pra foder. Inclusive com a já desprestigiada Polícia Militar.

O cidadão assaltado está morto. Assim como todos nós.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Como bem publicou a revista Veja, edição 2108, de 15 de abril, 500 universidades adotariam o novo sistema de seleção para o Ensino Superior. O Enem ganhava confiança e credibilidade.

Aí, um belo dia, um segurança vaza a prova e várias universidades que lucravam com a taxa do vestibular, milhares de cursinhos pré-vestibulares e outras centenas de políticos sorriram, quase gozaram, com a falha estrutural: “o sistema lucrativo, a indústria, está garantido!”

Não acredito que houve interferência do tradicionalismo tacanho e retrógrado ou dos “homens de preto” nessa história, apenas percebo a vitória da selvageria nisso tudo: dinheiro, a pura e simples motivação do dinheiro. Motivação essa que pode ter atrasado um recurso educacional superior ao vestibular. O Enem é muito mais justo e democrático.

Vamos esperar para ver. Que o Governo consiga reverter a situação e a credibilidade volte.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Vamos falar sobre a matemática absoluta do caos

O mundo não brinca de roleta-russa. Na verdade, se se olhar bem, poder-se-á dizer que tudo é baseado na lei da causa e do efeito. Bem, como adentrarei no orifício rugoso do ser humano, deixarei a mesóclise de lado para que a lei física não seja corrompida e tudo fique no mesmo nivelamento.

Todos sabem o que é uma favela, certo? Ah, ta, não existem favelas no Brasil, existem as “comunidades”, um eufemismo barato para dizer que você mora mal pra cacete e, vira e mexe, é acordado com tiros, fogos ou gritos. Enfim, uma “comunidade” só existe porque, lá nos primórdios, o Estado, sem saber o que fazer com aquela “renca” de pobres, retirantes ou não, afastou-os da classe alta, dividindo o Rio de Janeiro com um muro invisível, preconceituoso e miserável. Como todos os acessos (emprego, diversão, escola, etc.) só existiam onde moravam os donos do mundo – e no Rio, quem manda no Rio não quer morar em morro, mas na praia – os “comunitários” resolveram adentrar em áreas próximas ao trabalho, às praças, à escola... Como o asfalto era e é da classe alta, o que sobrou?

Com o passar do tempo, nós, a sociedade, percebemos que aqueles filhos-da-puta, quer dizer, comunitários, sem instrução, proteção, comida ou perspectiva, começaram a incomodar, a ficar visível, e isso era um absurdo! Logo, criamos uma corporação repressora à altura: violenta, odiosa e robótica. Sem essa de “proteger o cidadão”. Cidadão vem de cidade e os metropolitanos não reconhecem os comunitários como “pessoas da cidade”, logo, não são gente. E dá-lhe porrada nos pobres!

Um dia, os repressores perceberam que estavam dando porrada neles próprios (Ora, com esse salário de merda que o repressor ganha, onde vocês acham que eles moram?) e resolveram que não iriam apenas dar porrada, iriam dar porrada e “negociar”.

Enquanto isso, os inocentes morreram, os valores acabaram e a sociedade... Bem, a sociedade descobriu que poderia educar e distribuir melhor o Rio, mas sai muito, mas muito mais barato eleger políticos que adotem o seguinte procedimento: matar bandidos e dar porrada nos pobres.

Portanto, quando você vir outra vez bandidos derrubando helicópteros e incendiando ônibus, ou vir o aparelho repressor da sociedade deixando bandidos fugirem e ficando com o produto do roubo, enquanto o roubado morre, não se assustem! Tudo faz parte da implacabilidade lei da causa e efeito.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

da memória

Dona Maria tem 77 anos e já não consegue reter quase nada na memória: faz a mesma pergunta diversas vezes; não toma banho porque pensa que já tomou ou toma vários porque esquece que já tomou; adora sorvete mas não lembra que saboreou um há minutos atrás. Raquel, sua filha, a leva para passear de vez em quando mas ao voltar Dona Maria já nem se lembra que saíra de casa. Raquel se questiona sobre o sentido de levá-la para passear :


- De que vale uma manhã de lazer se ela não consegue lembrar depois? A vida tem sentido sem lembranças?

Naquela manhã de primavera Raquel levara sua mãe ao parque, pensou nela apreciando o viço das plantas e o colorido das flores. Aquela manhã Dona Maria já esquecera mas à tardinha cantava uma canção enquanto regava suas plantas na varanda. Raquel a observou comovida e sorriu: pensou que de alguma forma Dona Maria registrara o passeio, se não na memória, em seu corpo, na memória dos sentidos.

www.dimensaosalvadora.blogspot.com

quarta-feira, 7 de outubro de 2009


Este Alexandre, professor de História, amante da boa cozinha, resolveu criar este espetáculo de blogue: cozinha e história (porque os dois são saborosos). O nome é: Cozinhando Delícias com Gosto de História. Vale a conferida!
Aliás, para deixar todos com água na boca, aqui vai uma dessas postagens que dá vontade de comer (e estudar)!
__________
__________________________________
Ao percorrer a Serra das Carrancas, em Minas Gerais, no ano da Independência do Brasil, o naturalista
Auguste Saint-Hilaireassim descreveu as diversas tropas de muares que palmil
havam então aquela região:
"Depois de nós, várias caravanas vieram sucessivamente ab
oletar-se no rancho. Vêm umas do Rio de Janeiro para São João e Barbacena,
carregando sal; vão outras destes arredores para a capital e levam toucinho e queijos. Estes gêneros, que
constituem dois ramos de comércio muito importantes para a comarca de
São João, transportavam-se em cestas de bambus achatados e quadrados: cada cesto contém cinquenta queijos
e dois formam a carga de um burro.(...) O sal é transportado em sacos. Quando c
hegam os tropeiros arrumam as bagagens em ordem e de modo a ocupar o menor lugar possível.(...)"O desconforto não era o único fardo dos tropeiros.As tropas ou eram propriedades das fazendas ou dos
próprios tropeiros, que trabalhavam à frete, subindo e descendo os í
ngremes caminhos da serra. Pelo caminho do Inhomirim, primeira estrada calçada mo Brasil, no início do s
éculo XIX e onde viu todo o ouro das gerais, escorrer em direção à Côrte, assis
tia agora a descida do café para o Porto da Estrela, a margem do Rio Inhomirim, escravos também eram tran
sportados pelos tropeiros.
O feijão do tropeiro, como o arroz do carreteiro, er
a e é a comida de uma gente trabalhadora que fazia suas refeições pela estrada a fora. O próprio indio serv
ira de exemplo com a sua farinha de guerra.O historiador Alípio Goulart, por exemplo, escreveu em Trop
as e tropeiros na formação do Brasil:
" o cozinheiro era outr
a figura importante da tropa (...) logo que a tropa arribava, para o descanso, a atividade desse elemento se desdo
brava, pois os camaradas , mal deixavam os animais no pasto, depois da série de afazeres que lhes competiam,
corriam céleres para o prato de feijão com carne seca e a caneca com café fumegante (...)."
Para seis tropeiros esfomea
dos, de vésperas o cozinheiro da tropa catava e lavava 500 grs. de feijão mulatinho, colocava no caldeirão o qu
e iria ao fogo, devia juntar outros tantos gramas de bacon, outros tantos de toucinh
o de fumeiro. E a carne seca quando tem.

Pesquisa:
PERES, Guilherme. Tropeiros e Viajantes na Baixada Fluminense (Ensaio) - Gráfica Shaovan Ltda. 2000
.

ALVES FILHO,
Ivan. Cozinha Brasileira. Editora Revan.2000
______________
____________________________________

INGREDIENTES:

1 xícara (chá) de farinha de mandioca
1 Kilo de toucinho para torresmos
1 quilo de linguiça tropeira
1 Kilo de feijão preto
2 ovos cozidos.

Temperos:

3 colheres (chá) de salsinha
3 dentes de alho picados
1 cebola picadinha
sal a gosto

MODO DE PREPARO:

Cozinhar o feijão (não deixar desmanchar). Deixar escorrer o caldo numa peneira. À parte, picar o toucinho, temperar com sal e fritar os torresmos até ficarem amarelinhos. Fritar a linguiça numa panela tampada com um pouco de água. Destampar logo que a água secar, para corar. Em ½ xícara da gordura deixada pelos torresmos ao fritar, refogar os temperos e o feijão cozido sem caldo. Adicionar a farinha e os torresmos. Transferir para uma travessa e enfeitar o feijão tropeiro com rodelas de ovo cozido e contorne com pedaços de linguiça frita. Acompanhe com couve refogada.

MILHÕES DE CONTAMINADOS (pela mídia)

Infelizmente, continuarei postando opiniões e notícias sobre a Gripe Suína, mas explico:
Uma coisa é o alarmismo, outra, muitíssimo diferente, é o oportunismo. Acreditando na segunda hipótese, prefiro massificar, entorpecer e chatear com o tema, para que outra dessas não aconteça de novo...
_____________________________________
Folha não se emenda na gripe suína

Por Luiz Antonio Magalhães em 6/10/2009

Reproduzido do blog do autor, 4/10/2009

A matéria reproduzida ao final deste comentário saiu escondidinha, no segundo caderno do Cotidiano da Folha de S.Paulo, e não mereceu chamada de capa. É inacreditável que o jornal tenha feito o que fez na edição de sábado (3/10). Resumindo a história, depois de afirmar, no dia 19 de julho, na primeira página, que 35 milhões de brasileiros seriam contaminados pela gripe suína, o jornal mandou a campo o seu próprio instituto de pesquisas, o Datafolha, para realizar uma das coisas mais ridículas da história do jornalismo brasileiro.

Sim, porque a enquete mesmo é algo surreal: o Datafolha mandou seus pesquisadores para as ruas perguntar às pessoas se, nos últimos meses, elas tiveram "sintomas de gripe". Com o resultado em mãos, a Folha escreveu outra pérola que não resiste a dois minutos de análise. Segundo o jornal, "27% dos brasileiros tiveram sintomas de gripe desde junho", o que equivale a 51,3 milhões de pessoas. Bem, aí o jornal faz uma continha malandra, diz que 40% desses casos devem ser da variante suína e chega aos 20 milhões de infectados pela doença no Brasil. No meio do texto, a ressalva de que o "auto-diagnóstico" não é propriamente a melhor maneira de se aferir as coisas, mas, enfim, está lá o número grandão – 20 milhões, uma enormidade, e ainda assim, 15 milhões abaixo do "previsto" pelo jornal em julho.

Um espanto

É evidente que a pesquisa não vale coisa alguma e que o número está superdimensionado. Dos tais 27% dos entrevistados (e não de toda a população brasileira, conforme a própria pesquisa mostra, porque não foram pesquisados os menores de 16 anos) que disseram ter tido sintoma de gripe, é bastante provável que um percentual expressivo tenha respondido afirmativamente mesmo no caso de ter passado apenas por um mero resfriado, muito mais comum do que a gripe, conforme apontam os especialistas.

Ademais, a estupidez cometida pelo jornal não se sustenta pela taxa de letalidade da doença. Se de fato fossem 20 milhões de brasileiros com a suína, apenas na faixa acima de 16 anos, admitindo a taxa de 0,4%, já deveriam ter morrido 80 mil pessoas em consequência da doença. Só que não morreram nem duas mil. Realmente, espanta que um jornalista inteligente, estudado e bem formado como Hélio Schwartsman se preste ao triste papel de assinar uma sandice como a que se pode ler a seguir.

27% dos brasileiros tiveram sintomas de gripe desde junho

Pesquisa Datafolha mostra que, nos últimos três meses e meio, o equivalente a 51,3 milhões de pessoas experimentou quadro gripal

Até julho, o vírus da gripe suína correspondia a 40% dos casos leves, o que sugere que 20,5 milhões de pessoas podem ter contraído a doença

HÉLIO SCHWARTSMAN

DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Pesquisa Datafolha mostra que 27% dos brasileiros com mais de 16 anos relataram ter tido "sintomas de gripe" entre junho e a data da entrevista (de 9 a 11/9). Extrapolando essa porcentagem para a população geral, isso significa que algo em torno de 51,3 milhões de pessoas experimentaram um quadro gripal nos últimos três meses e meio.

Mais ou menos a metade delas (14% dos entrevistados, ou cerca de 26,6 milhões) declararam ter procurado um médico -o que explica, com folga, a superlotação dos hospitais.

Evidentemente, nem todo "sintoma de gripe" é de fato provocado por vírus, nem todo vírus respiratório é o da gripe e nem toda gripe tem como agente causador o H1N1 pandêmico.

Dados do Ministério da Saúde sobre os casos menos graves indicam que o novo H1N1 respondia por 40% das amostras processadas até o fim de julho. A partir daí, a pasta concluiu que o esforço de fazer o diagnóstico laboratorial de quadros leves não compensava e passou a testar só os mais graves. Nessa situação, no auge da epidemia (primeira semana de agosto), o H1N1 foi identificado como causador de 58% das síndromes respiratórias agudas graves notificadas e testadas.

Se aplicarmos o "deflator" de 40% aos 51,3 milhões de quadros gripais, chegamos a 20,5 milhões, que representam, na opinião de infectologistas, uma estimativa bruta defensável dos casos de gripe suína ocorridos até o momento.

"Não dá para publicar um artigo científico no "New England Journal of Medicine", mas, com as devidas ressalvas, [esse método] serve para dar uma ideia do tamanho da epidemia aqui", disse Esper Kallas, da USP e do Hospital Sírio-Libanês.

O principal problema, aponta, é que não dá para equiparar o autodiagnóstico a um diagnóstico médico. "Mas não há como avançar mais numa entrevista simples [como a do Datafolha]."

O médico afirmou também que não se surpreenderia nem se os 27% tivessem tido a gripe suína. Ele disse que já há estudos apontando para uma circulação de 30% do H1N1 no Chile.

Celso Granato, do Laboratório Fleury, que ajudou a Folha a preparar o questionário do Datafolha, considerou os 27% um índice elevado: "Não esperava tanto!". Relativizou o problema do autodiagnóstico lembrando que o ministério acaba de fazer uma longa campanha na TV para explicar o que é gripe.

Também disse que o índice de 14% de procura por um médico sugere consistência no comportamento dos entrevistados. "Ninguém vai ao médico por um resfriadinho", afirmou.

Nordeste

O diretor do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, David Uip, surpreendeu-se com a porcentagem de quadros gripais apurada no Nordeste, que superou a do Sudeste. "Só isso já merece uma investigação."

Uma possibilidade aventada pelo médico é que a ampla repercussão midiática da epidemia tenha contribuído para inflar os números nordestinos.

A literatura médica é quase unânime em apontar incidência decrescente de gripe conforme se avança para o norte. Também não se verificou, no Nordeste, pressão tão forte sobre o sistema de saúde quanto a observada no Sul e no Sudeste.

Kallas, porém, disse que, com a circulação cada vez maior de pessoas entre cidades e regiões, não esperaria taxas tão menores no Nordeste.

Vale ainda observar que os 51,3 milhões constituem uma extrapolação conservadora, pois a metodologia do Datafolha não considera a população até os 16 anos, justamente a mais suscetível a contrair vírus respiratórios em geral. Esse recorte etário representa cerca de 25% da população.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Ganhamos? Sim (ou não?)

Somos os escolhidos, enfim.

Esperemos que, a teoria vire a prática (70% já está bom), pois quem sempre paga os custos e o pato somos nós, os de sempre.

Que as estruturas sejam bem administradas depois do evento.

Que as contas sejam melhor direcionadas antes, durante e depois do evento.

Que os ingressos sejam cabíveis no bolso dos brasileiros.

Eu adoro Olimpíadas e Copa do Mundo, portanto, sinto-me orgulhoso.

Orgulhoso, mas preocupado.

O Brasil ganhou, agora é tempo de fiscalizar!

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

O Rio de Janeiro continua... Gastando...

Moradores de Chicago (não todos, é claro) fizeram um sitio delicioso sobre a corrida olímpica para 2016. Chama-se Chicagoans for Rio.

Vale a conferida e os risos debochados (para quem lê inglês...Como eu não falo, leio a notícia aqui, ó, no Lance).

A ESPN Brasil (este puta canal de esportes), que sempre levou a notícia a sério, também trouxe a sua visão:

Os prós e os contras dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2016 no Rio

por Vinícius Moraes Scarpini, do ESPN.com.br

A realização de um evento grandioso que interfere em questões sociais, políticas e econômicas como uma Olimpíada divide opiniões. Nesta sexta-feira, em Copenhague, o Rio de Janeiro pode ser escolhido pelo COI para sediar os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2016. Saiba quais são os prós e contras das Olimpíadas serem na Cidade Maravilhosa, o que precisa ser feito e o que já está pronto, o que pode ser benéfico e o que pode ser prejudicial após o evento.

Prós:

Entre os dias 27 de abril e 03 de maio, os organizadores da candidatura carioca receberam o COI. O orçamento proposto foi de aproximadamente R$ 29,5 bilhões, divididos em infraestrutura urbana, construções e reformas de instalações esportivas. Estes investimentos ficariam como legado para cidade e sua população.

As instalações esportivas construídas para os Jogos Pan-Americanos teoricamente deram ao Rio de Janeiro uma base para a proposta visando a Olimpíada. Segundo os organizadores da candidatura, 29% das instalações exigidas para os Jogos de 2016 já estão totalmente prontas, enquanto outros 24% precisam de modernização. Entre os locais prontos destacam-se o Maracanãzinho (vôlei), a Arena Olímpica (ginástica) e o estádio do Maracanã (cerimônia e futebol). No entanto, até mesmo esses locais necessitam de uma boa reforma para os Jogos.

Para garantir o fluxo e deslocamento prático e rápido dos envolvidos nos Jogos Olímpicos sem causar um colapso no trânsito da cidade, as autoridades prometem tirar do papel um projeto para o uso de ônibus em corredores exclusivos como parte de um investimento total em transportes de cinco bilhões de dólares. Além disso, as novas linhas de BRT (Bus Rapid Transit) devem ficar prontas até 2015 como planejado, integrando as quatro principais regiões de competições.

A poluição é inimiga de vários locais de instalações esportivas. A Baía de Guanabara está poluída há décadas. A Lagoa Rodrigo de Freitas, outro ponto alto das belezas naturais que receberá provas durante os Jogos, também precisa ser limpa. Mas um plano do governo federal prevê um investimento de quatro bilhões de dólares para a despoluição das águas, enquanto os organizadores prometeram plantar 214 milhões de árvores no Estado do Rio para neutralizar as emissões de gases causadores do efeito estufa geradas pelas operações dos Jogos Olímpicos.

Contras:

Das quatro concorrentes a sediar os Jogos de 2016, o Rio de Janeiro é a cidade indicada com menor infraestrutura previamente pronta e terá muitas promessas para cumprir.

A acomodação de turistas, trabalhadores, voluntários e atletas é um dos maiores problemas. No relatório de avaliação do COI, a proposta carioca foi a única a receber ressalvas sobre o tema, já que a maior parte dos quartos oferecidos ainda precisa ser confirmada. Pela proposta da cidade, serão 48 mil quartos disponíveis.

A má reputação devido ao insucesso do Complexo Habitacional dos Jogos Pan-americanos pode dificultar a estratégia que será a mesma do evento de 2007: mais de 25 mil estão localizados em três condomínos de edifícios que serão construídos em pontos diferentes da cidade e depois vendidos no mercado imobiliário, assim como a Vila Olímpica.

O histórico de gastos do Pan também preocupa. O orçamento inicial nos Jogos de 2007 teve aumento de 1.000% no final da competição (de R$ 400 milhões para R$ 4 bilhões), o que aumenta a desconfiança nos políticos, administradores, dirigentes e empresários mal intencionados.


Outra preocupação contra os Jogos Olímpicos no Rio são os projetos mal planejados. O Parque Aquático Maria Lenk (saltos ornamentais e pólo aquático), legado do Pan, está entre as instalações que precisarão ser modernizadas, mas ainda assim não terá o tamanho necessário para as provas de natação, que serão disputadas em um outro estádio a ser construído com capacidade para 18 mil pessoas. No caso de Madri, das 33 propostas de instalações esportivas, 23 já existem, oito precisam ser feitas e duas são temporárias.

Propostas ambiciosas de transporte para o Pan-2007 não foram cumpridas - como a extensão do metrô e o uso de barcas pela orla carioca -, o que provocou congestionamentos ainda maiores do que o comum pela cidade devido às faixas de trânsito exclusivas destinadas aos credenciados durante o Pan.

Problema recorrente nos últimos anos, o tema segurança preocupa bastante o COI. As favelas controladas por facções criminosas que disputam o controle do tráfico de drogas dividem a paisagem da cidade com os belos cenários naturais e bairros luxuosos. Nessas comunidades, centenas de mortes acontecem todos os anos em confrontos com a polícia.

Apesar de a maioria das instalações esportivas estar fora do alcance das favelas, dois eventuais ícones dos Jogos no Rio estão em áreas consideradas de risco: o Estádio Olímpico João Havelange, situado no subúrbio do Engenho de Dentro, e o próprio Maracanã (palco das cerimônias e do futebol), distante poucos quilômetros da favela da Mangueira, cenário de conflitos internos e operações da polícia contra o tráfico de drogas.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

DIPLOMATA AFIRMA QUE O POVO HONDURENHO VAI RETOMAR O PODER

Por Marcelo Salles (do ótimo Fazendo Media)

Acabo de conversar, por telefone, com Gioconda Perla, Consul-Geral de Honduras no Rio de Janeiro. Refugiada no Canadá depois que o governo golpista cancelou seu salário e a verba de representação, ela disse ainda não ter uma situação clara que lhe garanta o retorno ao Brasil.

Com a volta do presidente Manuel Zelaya a Honduras, Gioconda acredita que aumentam as chances de retomada do poder. “Esse povo vai conseguir, Marcelo. Sabíamos que teríamos apoio no país, mas a reação do povo superou todas as expectativas”, disse. A diplomata afirmou ainda que o povo já não acata as ordens do toque de recolher, a resistência está nas ruas.

Gioconda confirmou os cortes de energia elétrica e água na embaixada do Brasil, que dá abrigo a Zelaya. Também confirmou a explosão de bombas de gás lacrimogêneo e a utilização de uma antena que produz um barulho ensurdecedor, nas imediações da embaixada, além da repressão armada contra o povo.

A Cônsul-Geral encerrou a conversa agradecendo ao povo brasileiro e à imprensa democrática, que não distorce as informações: “o povo hondurenho está grandemende agradecido ao povo e ao governo brasileiro pela proteção”.

Em discurso que terminou há poucos minutos, o presidente Manuel Zelaya disse que os golpistas têm um plano para invadir, ainda nesta madrugada, a embaixada para sequestrá-lo e assassiná-lo, fazendo parecer suicídio.

PS: Você pode ler esta notícia gratuitamente, mas sua produção tem um custo. Ajude a manter o Fazendo Media assinando o jornal impresso ou doando qualquer quantia: clique aqui.
.

REPRESSÃO EM HONDURAS



sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Eu já sabia!

A leitura inspira a escrever e escrever inspira a tudo…

Esta eu tirei do blogue Ler pra Crescer, da Cristiane Rogerio, editora de Educação e Cultura da Revista Crescer :
.
Uma das coisas maravilhosas de se ler é poder escrever. Parece óbvio ou pouco, mas escrever é o nosso canal mais incrível de comunicação. E as crianças já aprendem que as palavras estão aí para brincarmos com elas - e o ideal é que elas nunca desaprendam isso.

Conforme vão crescendo, entendem também que nós temos regras para nos comunicar pela escrita. As ortográficas acabaram de mudar e uma coisa que pensei muito aqui era como isso ia se dar com as crianças em uma determinada fase escolar que tivesse uma curta vivência com as regras antigas. Ou seja, quase que mal aprenderam as regras, já viram tudo mudar.

Mas a sobrinha de uma querida colega de CRESCER, a jornalista Renata Rangel, nos enviou um poema enviado por sua sobrinha e justamente sobre o tema. Renata ficou abismada com o fato de ela escrever tão bem. E, o melhor: escreveu sobre o escrever.

Vejam que lindo. Mostrem aos seus filhos, e inspire-os a escrever todos os dias assim que eles se sentirem ‘dominantes’ da nossa tão linda língua portuguesa. Theodora, parabéns!!

.
NOVA REGRA

Mataram o acento,
Assassinaram o hífen,
Agora sentem-se no assento,
que lá vem nova regra.

A onomatopeia ficou muda,
A assembleia, sem assunto,
A centopeia perdeu as pernas
e a ideia saiu da minha cabeça

Tadinha da velha senhora,
Que agora não sabe de nada
E o senhor?!
Que horror!

As crianças estão confusas,
Sem saber
o que fazer
para a nova regra aprender

escrito por Theodora Rangel Carvalho, de 11 anos e que cursa 6º ano do Ensino Fundamental

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

11 de Setemnbro - Nada Mudou

.
Onde estávamos no dia 11 de Setembro?

Todos os anos, a mesma pergunta. Onde você estava quando as Torres Gêmeas do World Trade Center caíram no dia 11 de Setembro de 2001?

Para mim, passados oito anos, a pergunta verdadeira é: E o que importa onde cacetetes eu estava no dia 11, ou o que eu fazia, ou o que eu pensava, ou como percebi a mudança mundial à minha volta?

Entendo que queiramos remontar da memória e reconstruir a passos ligeiros uma compreensão (interpretada através de nossas experiências, logo interpretada subjetivamente) do que nos lembramos dessa data. Mas oito anos passados e, em termos mais técnicos, nada mudou.

Há um artigo publicado no
The New York Times de hoje contando como os novaiorquinos estavam errados quando pensaram que sua cidade nunca mais seria a mesma. Algumas indicações simbolizam que, hoje, Nova York é mais Nova York do que antes do marco histórico de 2001. A sociedade americana não é mais solidária por causa disto. O governo não se tornou melhor, e sim pior, e hoje em dia com um presidente democrata já controverso, apenas procuramos nos afastar em parcelas dos erros mais graves do passado recente.

As relações internacionais continuam as mesmas. Até mesmo segundo realistas clássicos (como Hans Morgenthau) ou neo-realistas ferrenhos (como Kenneth Waltz), que afirmam a guerra como parte da natureza humana intrínseca, sequer fazia sentido contra-atacar como fez George W. Bush. Menos sentido ainda fazia invadir o Iraque, e a guerra no Afeganistão, o novo xodó de Barack Obama, tampouco findou eliminando grandes necessidades. Os mesmos erros feitos antes do dia 11 foram repetidos imediatamente depois. O mundo não vive tempos mais seguros, mas tampouco menos.

O terrorismo existia antes de 2001. Em Israel, duas a três vezes em anos pacatos um ataque terrorista toma conta das notícias populares. Na Europa, grupos como o IRA e o ETA são quase tão antigos, ou mais, do que alguns estados novos. Na África, enquanto isso, mais um genocídio estava prestes a ocorrer e, novamente, a comunidade internacional deu as costas até tarde demais. Centenas de milhares de pessoas morreram nas mãos de facções que, como terroristas, lutam pela auto-afirmação de identidades étnicas exclusivistas. Barfur, Sudão. Nova Rwanda... Novo Appartheid... E ninguém prestou atenção.

Aqui, preocupavam-se com cores laranjas, verdes, vermelhas e liláses. “Alertas X, Y e Z”, diziam os âncoras. Lentamente, as chamas dos escombros no Ground Zero na baixa Manhattan deram lugar a pedras, poeira, e suor de operários e voluntários a reconstruir a fortaleza. Hoje, Manhattan é tão Manhattan quanto sempre foi.

Enquanto temiam ataques terroristas, a economia explodiu. Enquanto temiam imigrantes ilegais, foi o mercado imobiliário que estourou. Enquanto relutavam contra um governo liberal, temendo a negligência de nossos líderes, os preços do petróleo escancararam. A paranoia não contribuiu à liberdade. A insegurança, mesmo contradita, desviou-se de hipóteses fantasiosas sangrentas para a realidade dolorosa.

E nada mudou. Nada. É claro que muito foi teoricamente construído com base nos acontecimentos da terrível data. Mas são as mesmas construções humanas e subjetivas que criaram o nacionalismo radical em suas formas mais pervesas, ou as mesmas construções humanas que permitem a existência de seres improváveis, como um deus, ou as mesmas construções que compõem, na essência, todos os “ismos” em suas retóricas implausíveis. São apenas construções abstratas para compensar o que foi concretamente destruído.

O mundo não mudou depois do 11 de Setembro. Nem nós mudamos. Nem os novaiorquinos mudaram. Nem os integrantes do Taliban. Nada mudou, tudo ficou no lugar depois da queda das Torres Gêmeas.

Mas nós, por nós, para nós, fingimos que mudou... E tentamos sempre nos lembrar onde estávamos quando mudou. “Como éramos quando tudo mudou?” “Como era o mundo ao nosso redor antes de tudo mudar?” Nos perguntamos e respondemos. Mas nunca sabemos realmente diferenciar-nos do que éramos antes dessa data, porque éramos os mesmos. E seguimos sendo. E seguiremos sendo para todo o nosso sempre.
.
Roy escreve no Blogue Não Leiam Este Blog!
e também twitta aqui!

Um drops e uma bala de chumbo

USA já possui vacina para a Gripe Suína. Levando-se em conta que Donald Rumsfeld é um grande acionista na empresa que fabrica o Tamiflu, tenho a obrigação de acionar a minha fixação por teorias conspiratórias...

E terminou o julgamento dos PMs envolvidos na Chacina da Baixada Fluminense. Está lá, no jornal O Dia:

A noite de horror que culminou no assassinato de trinta pessoas na Baixada Fluminense começou entre 21h e 22h do dia 31 de março de 2005, em Nova Iguaçu e Queimados. Os tiros partiram de grupo fortemente armado que ocupava um Gol de cor clara. O massacre estaria ligado à prisão dos policiais militares acusados de jogar uma cabeça dentro do 15º BPM (Duque de Caias), na madrugada de quarta-feira.

O ataque começou no bar Caíque. Todas as pessoas que estavam no estabelecimento, incluindo crianças, foram baleadas pelos criminosos que chegaram atirando. Nove pessoas morreram e duas ficaram feridas. Seis morreram no local, incluindo a dona do bar, Elizabeth Soares de Oliveira, 43 anos, e seu filho, Felipe Soares de Oliveira, 13. As outras vítimas são: Jaílton Vieira da Silva, 25, Douglas Brasil de Paula, 14, Jonas de Lima Silva, 19, e Robson Albino, 25. Outras três vítimas morreram no Hospital da Posse.

Um dos PMs acusados, foi assassinado antes do depoimento. Este é um ponto interessante: como o Estado não protege, talvez, o bandido que denunciaria TODOS os envolvidos? Alguém aí acredita que sete (07) loucos saíram embestados pelas ruas da Baixada atirando a esmo sem ordem ou apoio algum? Seis condenados, mas poderiam ser 20! Quem sabe?

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Bienal do Livro 2009 (RJ)

Estava na Bienal domingo. Realmente, devido ao insuportável número de pessoas, estava difícil de transitar (leia-se aproveitar melhor os stands e livros), mas não teve jeito – minha patroa trabalha aos sábados e só tem tempo neste dia.

Valeu a pena? Valeu por dois motivos: Ziraldo autografando um livro para minha filhota e sendo o que sabemos que o Ziraldo é (simpático ao extremo, prosador, belíssimo) e porque, de repente, não mais que de repente, deparei-me com Leonardo Boff, este encantador iluminado!

Valeu o dia? Não. Os livros, como sempre, muito caros, comida muito cara e entrada a R$12,00. Pena para quem, como eu, não dispõe de “tutu” para aproveitar à Bienal e sair de lá com alguns livros debaixo do braço.

Pena para todos.


Minha filhota: Clarice

O homem lindo: Ziraldo


O Encantador: Leonardo