sábado, 29 de setembro de 2007

Os porta-retratos

Roubei este lindo poema em prosa num dos sítios que costumo ir sempre. Blogue bom é igual chope bem tirado. E esse barzinho de poemas ao vivo que freqüento é facilmente encontrado, chama-se Sétima Letra.
http://rodruhens.blogspot.com/



...mas, por fidelidade ao acontecido e mesmo que o acontecido seja um arrazoado de infidelidades, sua foto sempre fez morada à cabeceira da minha cama,


mesmo que a minha cama tenha sido palco e tantas vezes arena,


mesmo que nessa arena eu tenha sido estraçalhada e meus despojos alimento de sua fera esfomeada, mesmo assim, a sua foto.


seu sorriso bêbado, tropeçando em dentes trôpegos, vislumbrando a língua bífida pois capaz de vilanias e heroísmos,


seu olhar de peixe morto, congelando meus anseios, espantando a esperança pois capaz de não me ver,


seu peito nu, seus braços fortes, suas mãos que feito garras do peito me arrancaram o ofertado coração.


...mas, por fidelidade ao acontecido, sua foto hoje foi fazer morada na lata do lixo.


Mesmo que seja eu a lata onde mora o lixo que é você.

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Terráqueo

Dou as caras e os cornos hoje para ser chato, para refletir ou “opacar”. Preciso dos efeitos ultra-violeta e das verdades que nunca são absolutas.

Dou as caras (e tenho muitas, como qualquer ser humano) porque uma coisa me anda incomodando insistentemente. É a opinião que se generalizou sobre o caso Renan.

Antes de fazer a única pergunta, objetivo deste texto meio sem vida, devo admitir (e ainda com orgulho, acreditem!) que sou filiado ao PT e ainda acho ser o único partido que existe verdadeiramente no país. Gostaria de declarar minha profunda admiração a pessoas declaradamente esquerdistas (apesar de não acreditar em lados, cores e credos) de renome ou não. Encontro na esquerda um ideal mais humanista e voltado para o espírito humano. Espírito humano, sim, porque sem espírito, qualquer riqueza é niilista, mas com ele, é possível ser pobre e feliz, apesar da mídia pregar o contrário. Espírito no sentido “terráqueo”, sonhador, energia que flui do orgulho, da fraternidade e da esperança no homem; nada a ver com Kardecismo, rosacrucianismo ou algo parecido, apesar de ver com bons olhos todas as doutrinas, ordens e religiões (causam efeito regularizador em certos homens e ajudam muitos a lidar com certos medos).

Estou sendo prolixo... Volto ao objetivo.

Muitos bons formadores de opinião andam escrevendo e falando (esquerdistas, muitos deles) que a mídia bombardeou o “pobre” do Renan por quatro meses, mas esqueceu ela de apontar, cuspir ou cagar na cabeça de políticos e/ou trogloditas piores e de pior índole. Ouvi muita gente boa dizendo que Renan é pouca coisa comparado aos desgovernos em São Paulo (tucanato) e Minas Gerais (também). Querem a verdade (a minha, pelo menos)? Concordo em gênero e número. Os tucanos e as prostitutas do nosso Brasil fizeram estragos maiores que esse. Bem, os tucanos mais que as prostitutas, isso é certo. Contudo, devo absolver o presidente do Senado com a alegação de que existe coisa pior? Devo esquecer o meu querido Renan porque a mídia é “golpista”? Gente, a mídia pode ser golpista (e acredito que seja), mas há um “enorme erro” em atormentar por quatro meses um político que se recusa levantar de uma das cadeiras mais importantes do sistema democrático de um país, mesmo com todas as provas contra ele? Estamos falando do Senado, pessoal!

Ops, fiz duas perguntas e não cheguei à Pergunta... Sigo, pois!

Obviamente, o caso Renan despertou-nos para o que antes era intrínseco: o confronto entre as esquerdas e os setores midiáticos, mas não se pode virar as costas para o explícito só porque as entrelinhas são mais interessantes! Não se pode defender um corrupto só porque seu partido é o meu ou porque acredito ser ele a bola da vez, o bode ornamentado e inflado pela oposição.

Se absolvo o Renan porque quem o acusa é meu inimigo, como posso chamar de podres e blasfemos os pais que defendem ardorosamente seus filhos bandidos, delinqüentes que colocam fogo em índio e espancam mulheres, se faço o mesmo?

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Dona Coisa e seus dois partidos

A escritora e poetiza Vais anda as turras com o seu computador (que assim como o homem, também apresenta defeitos de fabricação), mas isso não a impediu de escrever, a duras penas, mas escrever, melhorando o meu dia. Encontra-se a Vais aqui:
DONA COISA E SEUS DOIS PARTIDOS
Vivia D. Coisa a procurar um marido. Quando numa estação,
poderia ter sido inverno ou verão, enamora-se pelo Seu Trem.
Viviam a viajar por tudo quanto era lugar. Numa dessas, oh, tragédia!
Aconteceu do Seu Trem descarrilar e capotar seus filhos vagões.
Morre Seu Trem. Vira fantasma. Dona Coisa fica inconsolada.
Passadas as cerimônias funebres, bate-lhe à porta o Dr. Negócio, responsável pelos interesses do finado fantasma.
Fagulhas elétricas passam da Coisa para o Negócio...
Encontros, testamentos, heranças, abundanças.
Interessa-se o Doutor...
Foi no que deuE toda vez que o Dr. Negócio negociava com D. Coisa ouvia-se:
Café-com-pão
Café-com-pão
Café-com-pão
E o leite na chaleira:
Piuiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Recebi esta por correio eletrônico da minha amiga Juju e vale repassar. Sempre me senti estuprado com a cobrança do diploma universitário e nunca fui buscar o tal papel (o certificado de conclusão resolvia o problema). Porém, agora é possível!

Meninos e Meninas da minha lista de contatos,
Para aqueles que até, como eu, não deram entrada no seu diploma por achar abusiva a cobrança, eis uma excelente notícia.
Vamos aproveitar antes que eles derrubem esta liminar.
Abraços.
Juliana Chacon


Liminar proíbe cobrança de taxa por diploma em 13 universidades do RioPlantão Publicada em 20/09/2007 às 15h46mO Globo OnlineRIO - O Ministério Público Federal (MPF) conseguiu na Justiça uma liminar para que 13 instituições privadas de ensino superior no Estado do Rio de Janeiro deixem de cobrar para emitir a primeira via do diploma. Com a liminar, ficam isentos dessa cobrança todos os alunos de graduação e aqueles que já colaram grau, mas ainda não receberam seus diplomas registrados. A liminar, concedida pela 15ª Vara Federal do Rio de Janeiro, refere-se a uma ação civil pública movida pela Procuradoria Regional dos Direitos dos Cidadão em novembro passado.

Estão proibidas de cobrar pelo diploma as seguintes instituições: Unisuam, Universidade Veiga de Almeida, Estácio de Sá, Castelo Branco, Santa Úrsula, UniverCidade, Facha, Gama Filho, Cândido Mendes, Faculdade São Judas Tadeu, Unigranrio, Unig e Universo. Prestando esclarecimentos ao MPF, esses estabelecimentos informaram que cobram para a emissão dos diplomas - as taxas variavam de R$ 50 a R$ 270.

Segundo a ação, a entrega do diploma sem custo adicional é um pressuposto e fim lógico da formação e qualificação para o trabalho destacado pela Constituição e pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação nacional. Além disso, a cobrança de taxa para a expedição de diploma é uma prática vedada pelas resoluções 01/1983 e 03/1989, do Conselho Federal de Educação.



sábado, 22 de setembro de 2007

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Extraí as palavras do blog de uma querida amiga, Fernanda (mas não é por isso que está aqui!). Digo palavras porque a poesia está na mão, o poema veio por sonhos (dela) e deixou-a para habitar em nós. Onde encontrar?
I
Na textura do tempo,
meu
ser no mundo.
Tecido velho,
fiapos da vida.
Recortes
na tessitura
incessante do devir.
Venho
de longe,
das encostas da memória.
Sorvo
tudo que alcanço.
Verto
[retocados]
traços engolidos
e
renasço de tudo que fui,
sou,
hei de ser.
Assim
me encontro,
me perco.
Mas
[sempre]
retorno
ao ponto.

II
O ponto
não é somente um ponto.
O ponto
é uma incógnita.
Pode ser o final,
o começo.
[Quiçá um recomeço!]
O ponto
é o talvez,
possibilidade
de novas portas,
velhos encontros.
O ponto
: um ignoto.
Preciso desvendar
o significante
que ele trás.
O ponto,
que me perfaz.

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

O mundo e Hollywood

O mundo não se encaixa nos parâmetros bem escritos, roteirizados, definidos e, principalmente, dirigidos e vendidos por Hollywood. O mundo nem de perto parece uma telenovela, não importando qual canal – todas vendem um produto perecível e irrealizável, todas possuem pobres morando em apartamentos requintados em zonas nobres e choram a desgraça da vida comento bolo de milho e tomando suco de laranja (alguém poderia me dizer qual pobre toma suco e come bolo no café da manhã?).
O mundo real não se encaixa dentro da literatura porque a literatura é a procura do belo. Mesmo que a sua intenção seja expor o feio, as mazelas da sociedade e do homem, sua estética e corpo o condenam à beleza, ainda que dentro do lodo. A arte não imita a vida, pois a transforma em algo melhor porque reflexiva, melhor porque espelho. A arte reflete a vida e a amplia para a imaginação, aquilo que somos em pequenas e necessárias doses de eus virtuais.
O mundo não se encaixa dentro do mundo porque é paradoxal. E existe o homem.
O homem pensa que o mundo ideal deveria ter dois lados bem dispostos para uma escolha quase no “u-ni-du-ni-tê”. Infelizmente o mundo (o homem) é cinza, carregado de complexidade, com anjos e demônios, claro-escuro, bem-mal, tudo ao mesmo tempo agora. O homem é capaz de conceber profundos gestos fraternais e, ao mesmo tempo, aniquilar uma nação inteira; tudo num piscar de olhos. Mas se repararmos bem, a aniquilação acontece mais rapidamente que a manifestação fraterna. Por quê?
Obviamente, a psicologia e filosofia tentam “dissecar” o assunto de forma mais palpável, mas o texto em questão é puro ato de indagar e chegar a (certamente) conclusões “oblíquas”. Não me importa estar errado, importa mais jogar as perguntas no ar, quem sabe não voltam com as respostas certas?
Acredito que nosso espírito obscuro é mais evidente porque somos vítimas de nós mesmos: na procura do belo, do ideal, colocamos-nos sempre no principal papel, estamos sempre representando a personagem principal e, se não temos capacidade para tanto, esperamos que ninguém a tenha, até para não roubar-nos a condição de estrela. Somos auto-destrutivos nesse sentido porque competitivos, brigamos pelo espaço geográfico e existencial, Darwin faz-se presente em cada gen humano, em cada realização. Não queremos que o outro ocupe o lugar que nos pertence (?). Infelizmente, como já escreveu Drummond (em O Morto de Mênfis), o ser humano não se reconhece no seu semelhante, o homem anoitece. Ou ainda, continuando com o poeta mineiro: sua intenção é matar-se na morte do irmão?
É claro que, como o tom é cinza, não cabe dizer se mais escuro ou claro. Há progresso humano em todas as áreas, há sede de justiça em todas as áreas, há, sim, um forte sentimento de mudança, mas como se dá isso? É aí que esbarramos na outra-mesma encruzilhada do homem: se não for coletivo, é realização pessoal, contudo, quando o coletivo é posto em prática?
Se o sucesso de outrem não nos beneficia, para que admirá-lo? Se Jesus não me trouxer a salvação, por que amá-lo? É tudo um jogo de troca? É tudo benefício próprio? Até quando cedemos o lugar no ônibus é para satisfazer o sentimento de moral que carregamos, antes mesmo de satisfazer o próximo? É para nos sentirmos “incluídos”?
As indagações não acabam por aqui, continuam numa próxima oportunidade ou em texto de melhor profissional.

terça-feira, 18 de setembro de 2007

Kérlon e o contemporâneo

Kérlon é um jogador razoável e seu time, Cruzeiro, briga por um lugar ao sol rumo à Libertadores da América, competição que aflora o sentimento “futebolesco” de todos. Kérlon possui um drible que deu apelido a sua própria pessoa: foca. Consiste em fazer embaixadas com a bola na cabeça rumo ao gol adversário. Nem sempre os zagueiros deixam tal atitude passar “impune” e, muitos, reagem de forma truculenta, mostrando que o futebol arte deve acontecer apenas no pensamento dos melancólicos, nunca nas vias de fato. Principalmente em um clássico mineiro.

Ao término da partida, em que o Cruzeiro venceu a partida em cima do seu maior oponente estadual (Atlético Mineiro), o técnico Leão veio à televisão “declamar” o que há de mais sombrio e inconseqüente dentro do direito inalienável de se expressar. De acordo com o técnico, há o perigo de, apesar de estar totalmente dentro da lei, Kérlon sofrer agressões físicas perigosas dentro de campo num futuro não muito distante. Engraçado como ele jamais temeu o futebol-arte de um Robinho quando era técnico do Santos, quando o jovem atacante “pedalou” oito vezes rumo ao gol, deixando os zagueiros desnorteados.

O caso do “Kérlon vs. Coelho” não seria um retrato do que estamos vivenciando mundialmente? Aquilo não seria um reflexo do mundo contemporâneo? Queremos matar o atacante que brilha mais que a gente, mas recebemos dinheiro de patrões corruptos e bandidos generalizados (Kia?) e não nos revoltamos. Por quê? O brilho nos incomoda mais que a lama? É mais fácil suportar o miserável a ter que conviver com o superdotado?

A intolerância passa como chuvisco pelo mundo e não há muitos indícios de que essa frente fria esteja com vontade de parar. É claro que todos nós precisamos nos reciclar sempre e incorporar ao nosso cotidiano realidades novas para o nosso próprio bem e para que o mundo não nos engula, mas por que nos revoltamos com a superficialidade e “abrimos as pernas” para os problemas complexos, sejam eles de cunho político-social ou familiar.

Por que fechamos a porta do entendimento? É um ponto a ser tratado, mas o que pergunto hoje é: por que o Coelho “atropelou” o Kérlon e absolveu o Renan?

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Quadrilha


Esta pode ser encontrada no jornal Montbläat: (http://www.montblaat.com.br/materia.php?id=675)
desta semana e comprova que, às vezes, a imprensa brasileira realiza obras quase literárias.


QUADRILHA
“Dirceu mandava em Delúbio
Que tramava com Valério
Que pagava Valdemar
Que foi denunciado por Jefferson
Que incriminou Genoino
Que não entregou ninguém
Dirceu foi para a planície
Delúbio para a Fazenda
Valério mudou o penteado
Jefferson ficou sem mandato
Genoino perdeu a pose. E
O STF, que não estava na História
Pôs todos no banco dos réus"

O cacoete gramatical

Publico um texto que achei no, ainda vivo, Jornal do Brasil (17/09 - Opinião - A12). Excelente análise do colunista convidado, o empresário Gastão Reis, sobre tema tão delicado e essencial para o avanço do país em qualquer área. Quantos Renans seriam barrados do baile se a consciência cidadã fosse outra (ou existisse)?

Por: Gastão Reis Rodrigues Pereira (empresário e economista)

Dispomos, no Brasil, do Índice Nacional de Alfabetização Funcional (Inaf). Ele nos informa que apenas 27% da população brasileira podem ser considerados funcionalmente alfabetizados. Aquele tipo de indivíduo capaz de ler e entender, por exemplo, um manual de instruções. Levando-se em conta que, no final do Império, tínhamos 20% de alfabetizados, pessoas que recebiam uma educação dita elitizada e portanto de boa qualidade, é razoável supor que elas fossem funcionalmente alfabetizadas.
Pergunta incômoda: por que esse avanço tão medíocre de apenas 7 pontos percentuais na alfabetização funcional em mais de um século republicano? Convido o leitor a me acompanhar no esclarecimento desse mistério. Em especial nesta era do trabalhador do conhecimento, em que 77% da riqueza produzida são explicados pelo capital intangível (capital humano e qualidade das instituições formais e informais) contra apenas 5% dos capitais naturais (recursos naturais) e 17% dos chamados capitais produtivos (bens de capital: máquinas e equipamentos).
Na época em que estudei na Universidade da Pensilvânia (1977- 1981), certa feita fui convidado por um judeu americano a comemorar o Dia de Ação de Graças em sua casa. Segundo ele, a língua explicaria boa parte dos avanços de um povo face aos demais. Sua explicação da riqueza e pobreza das nações não me convenceu. Anos depois, eu me dei conta de que não é propriamente a língua de cada povo que faz a diferença, mas o modo como é ensinada.
Tomemos uma aula de inglês num filme inglês ou americano. Os professores estão sempre debatendo um texto com os alunos, focados na análise e interpretação dos mesmos. Ou estão discutindo as redações feitas pelos alunos. Eu não me lembro de uma cena nesses filmes dedicada ao estudo da gramática inglesa. Isto se explica pelo fato de o inglês ser uma língua quase simplória em matéria de gramática quando comparada, por exemplo, à sofisticação e complexidade gramatical do português. O fato de a melhor gramática em língua inglesa ter sido escrita por um holandês dá bem a medida do apreço de americanos e ingleses por sua gramática.
Recentemente, uma sobrinha e seu marido, que viveram quatro anos na Inglaterra, manifestaram-me sua surpresa com a ignorância dos ingleses em matéria de sua própria gramática. Essa suposta falha jamais os impediu de formar pessoas intelectualmente articuladas e bem sucedidas economicamente no país e no exterior.
Quem está certo em matéria de gramática, nós ou eles? Já foi dito que, se os analfabetos legionários romanos, que recebiam um treinamento militar de 14 anos antes de entrarem em combate, tivessem de aprender as sutilezas gramaticais do latim, Roma não teria tido tempo de conquistar o mundo. A grande diferença a favor de quem dedica a maior parte do tempo a ler e a interpretar textos é que está fazendo um exercício fundamental na nobre arte de aprender a pensar ao acompanhar o raciocínio dos autores. Por outro lado, a ênfase, muito comum nos povos de língua inglesa, no desenvolvimento da expressão escrita dos alunos, os obriga a pensar a partir deles mesmos. Este enfoque está em linha com a sociedade do conhecimento, tornando essas pessoas aptas a tirar pleno proveito de seus frutos. Não é esse, entretanto, o dever de casa que vem sendo feito por nossas escolas públicas.
Se, para Simone de Beauvoir, "escrever é um ofício que se aprende escrevendo", podemos afirmar que pensar é um ofício que se aprende exercitando o pensamento. O caso de Machado de Assis ilustra bem esse ponto crucial. Ele não caiu na armadilha gramatical que o ensino tradicional da língua portuguesa nos arma. Autodidata, leu muito, escreveu muito, pensou muito e nunca deu muita atenção à gramática em si. Ela veio como conseqüência natural de quem se tornou um mestre do pensamento sutil. Essa opção não o impediu de ser nosso maior escritor e de produzir literatura de primeira.
Dentre as muitas loucuras que temos cometido em nosso sistema educacional, como a aprovação automática dos alunos, ainda dedicamos tempo demasiado à gramática em detrimento da arte e ciência de aprender a pensar, ou seja, de ler e escrever bem. Muita atenção dada à forma e pouca à substância.
Para terminar, uma história ilustrativa dessa incapacidade de produzir gente equipada para a sociedade do conhecimento: o caso real de uma amiga empresária que resolveu implantar em sua indústria a ISO 9000, um conjunto de normas que formam um modelo de gestão da qualidade em todo o processo produtivo e administrativo. Pois bem, em determinado momento, a implantação da ISO 9000 em sua empresa empacou. Somente bom tempo depois é que ela se deu conta de que a grande maioria de suas funcionárias era funcionalmente analfabeta, apesar de terem pelo menos oito anos de escolaridade. Teve de parar a implantação da ISO por quase um ano para alfabetizá-las funcionalmente e só então concluí-la com êxito.
Conclusão: uma tristeza e uma alegria. A tristeza é constatar o grau de desperdício e incompetência do sistema educacional público que, após oito anos, não consegue fazer com que seus alunos sejam capazes de ler e entender um manual de instruções. A alegria é ver que pessoas já adultas, quando submetidas a um ensino de qualidade, respondem à altura, desautorizando qualquer explicação idiota de incapacidade congênita de aprender. Lição final: é urgente elevar substancialmente nosso Inaf. E há como.

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

A procuração

A internação aconteceu justamente na hora em que seria agilizada a procuração. Pura falta de sorte. Ninguém sabia a gravidade do problema ou se ela, um dia, voltaria para casa. Sua filha mais velha precisava da procuração para agilizar, em nome da mãe, qualquer outra futura (quem sabe?) internação, só que agora, no hospital adequado já que a senhora era pensionista da Marinha e havia a possibilidade de transferência para o hospital naval Marcílio Dias. O cartório pediu três testemunhas que não fossem parentes e algumas pessoas foram sondadas. Apesar da explicação sincera e da tristeza devido ao quadro apresentado, a mente e a língua humanas não possuem sentimentos à altura do ser criado ou do Deus que se propaga. Horas depois já corria na rua o boato de que tal procuração era para assumir a pensão, roubar o dinheiro, vender a alma ao diabo e coisas do nível. Impressionante, mas nem tanto. Certas pessoas deveriam comer merda, mas, ao invés de serem agradecidas pelo privilégio de sentar à mesa com humanos, praguejam a própria sorte e camuflam a mediocridade (ou a falta de homem, tanto faz) no vento mundano que sempre rodeia a sarjeta. Alguns membros da família ficaram chocados com a notícia, menos um. Alguns membros quiseram mandar muitos à merda, menos um. Em determinado momento alguém pergunta para o elemento: “você não sente raiva?”. Ele responde: “eu sinto pena. Se Deus existe, fodeu pra eles.”

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Nosso eterno 16 de julho

Esta eu garimpei no blogue do Juca Kfouri:
Por ROBERTO VIEIRA

Um dia nós fomos invencíveis, imortais. A pátria de chuteiras enfeitou-se toda para comemorar em um domingo de sol, muito sol o título de campeões do mundo.
E perdemos.
Era um 16 de julho. O ano pouco importa na verdade. Podia ser até um 5 de julho em Sarriá.
E elegeram um culpado para o desastre: Barbosa, o goleiro.
Em toda nossa história esportiva, filosófica e política houve apenas um condenado: Barbosa.
Barbosa que não adivinhou o canto no primeiro gol no Maracanã. Uma bomba indefensável de Schiaffino.
Barbosa que saltou atrasado no chute de Gighia.
Mas Barbosa fez inúmeras defesas em sua vida. Defesas que dariam para compensar com folga qualquer falha daquele 16 de julho de 1950.
Só que o Brasil nunca perdoou Barbosa. Ele foi cassado pelo Senado e pelo Povo Romano, digo Brasileiro. Esse senado que não me sai da cabeça...
Hoje o Brasil sofreu outro gol de Gighia. Mais um. Eu já perdi a conta de quantos foram.
Teve gol de trivela no 31 de março de 1964.
Teve gol por baixo das pernas no 25 de abril de 1984.
Teve gol impedido em março de 1990. Feito por uma senhora de saias e um senhor narigudo é verdade (FOTO).
Pois é. Hoje teve gol secreto. Mas o juiz validou e correu para o meio de campo. A torcida silenciosa não poupou vaias, mas quem já viu juiz voltar atrás em sua decisão?
Na Dinamarca o Príncipe Hamlet se pergunta: 'Saber ou não saber, eis a questão!'
E o moço do placar foi lá contra sua vontade mudar o marcador.
40. 40. 40. 40. 40. 40. 40. 40. 40. 40. 40. 40.
Quarenta gols marcados em nossas redes.
Como não houve transmissão ao vivo, via satélite ou coisa que o valha não posso dizer se os quarenta comemoraram abraçados no congres... digo estádio.
Pode ser que sim, pode ser que não.
Pra mim pouco importa na verdade.
Mas quando a torcida não topar mais pagar ingresso, vestir camisa, confeccionar faixa e torcer nas arquibancadas desse país tropical abençoado por Deus, não venham reclamar que o povo não entende essa tal democracia.
Cá pra nós, eu só tenho pena mesmo é do Barbosa. Ele era muito, muito, mas muito melhor que qualquer um destes senhores de terno, gravata e mandato.
Ah, esse ano o 16 de julho caiu no dia de hoje.
Coisas do Brasil.

E o Keko?

Essa é impagável e foi achada lá na toca do grande Jens:
http://tocadojens.zip.net/
Na boa? A leitura é fundamental. Pode chorar, se quiser, a realidade nunca é doce. boa leitura!


- Porra, livraram a cara do Renan. É o fim da picada.
- Calma. Nada de novo. Lobo não come lobo.
- Como assim, “calma?” Foi uma vergonha, a consagração da impunidade.
- Menos, menos. Não te deixa levar pelos jornalões e pelas revistonas. O resultado era previsível. Aliás, perfeitamente adequado à nossa tradição.
- Estás muito cínico. Explica.
- Ah, não seja bobo. Lembra o Maluf, que jurou de pés juntos que não tinha conta no exterior. Quando foi comprovado que tinha, graças aos promotores de Nova York, a coisa ficou por isso mesmo. É culpado, foi condenado, será outras vezes, mas não vai ser punido. Outro exemplo: o Inocêncio Oliveira. Era presidente da Câmara, pefelê. O Ministério Público descobriu e comprovou que era um fervoroso adepto do trabalho escravo em suas fazendas de cana de açúcar. Não deu em nada. O Gabeira, o Jungmann, o Rodrigo Maia, o Álvaro Dias, o Tasso Jereissati e o Acminho não manifestaram indignação. Nem a Luciana Genro.
- É, mas o Renan...
- O Renan é um patife. Imitando a Gertrude Stein: um patife é um patife, um patife, um patife...
- E então?
- E então que os seus carrascos igualmente não são flor que se cheire. Tanto a turma do Congresso como os verdugos da mídia. São todos canalhas. Se merecem.
- Sei não, a impunidade...
- Quer ficar puto com a impunidade? Então tá, vou te dar um bom motivo. Sete anos atrás o jornalista Antonio Pimenta Neves, diretor de redação do Estadão, matou a jornalista Sandra Gomide com três tiros nas costas. Ela, uma balzaquiana incipiente, cometeu a ousadia de encerrar o affair com o velho canalha, já trilhando a casa dos 60 e picos. Rejeitado, sinhôzinho se achou no direito de matar. Foi julgado, condenado e não foi preso. Nem será. O pai da vítima já se conformou que o assassino de sua única filha ficará impune. É um homem destruído. Impunidade é isto. Se eu tivesse um jornal, publicava uma nota sobre o assunto todo o dia na primeira página. Sacanagem é o que não falta na porra deste país. Quanto ao Renan, que se foda. Ele, seus acusadores e seus defensores. Não tô nem aí.
- E o quê o Keko diz de tudo isto?
- Pois é, e o Keko? O Keko casou com a Keka, está gerando um monte de kekinhos. Que sejam todos porras-loucas e revolucionários.
- Deus te ouça. E o Renan que se foda, concordo contigo. Vamos trabalhar.
- É isto aí. O jovem Luis Inácio (onde anda?, tô com saudade) bem que avisou: são 300 picaretas com anel de doutor. Qual é a pauta?

(Jens)

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Há luz no fim da chuva?

O presidente do senado, Renan Calheiros, foi absolvido por 40 votos a favor, 35 contra e 6 abstenções. Este não é um resultado qualquer. Este é “O resultado”. Significa mais do que um simples choque. É o retrato do que pode estar se aproximando dos céus brasileiros.
Como bem escreveu Augusto Nunes, na coluna Coisas da Política (Jornal do Brasil, 12/09 – A2):
“(...)O que esses e muitos senadores parecem ignorar é que milhões de brasileiros aguardam o desfecho da sessão desta quarta-feira com o tresoitão da ética engatilhado, prontos para revidar a ultrajante bofetada. Porque o país que pensa também sabe de tudo”.
O que saiu absolvido naquela outrora tão honrada casa não foi um homem, não foi sua imagem envolvida nas angelicais pomadas para bebês. O que o senado absolveu foi a falência do próprio senado, foi a vergonha e o monstro que há muito ronda nosso sentimento em relação ao país.
Será que ser honesto compensa? Será que os valores, objeto de tanta preocupação na formação do caráter, são esses? Para que serve a dignidade? O que é ser moral?
Atravessamos um período, dentro da política e ainda mais na nossa psique, extremamente literário: estamos numa transição de claro-escuro, bem-mal muito próximo ao barroco. Somos homens em conflito. Um conflito difícil e incômodo porque reflete nas nossas esperanças. Possui tentáculos pegajosos e nubla qualquer resquício de cidadania.
Augusto Nunes fecha sua coluna dizendo o seguinte:
“Se for absolvido pelos colegas, ainda assim não ressuscitará. Mas poderá consolar-se com a eterna companhia, na cova rasa em que jaz, do que restou do Senado”.
Para o bem dos nossos filhos, é preciso que se resolvam os conflitos (morais, inclusive) e sensibilize a política, senão, adeus democracia. Mas há luz no fim da chuva?

terça-feira, 11 de setembro de 2007

João & Maria

Isto é o que chamo de "a obra". Muito bem cuidado, textos que dialogam com a alma (porque é daí que brota o amor). Tive a felicidade de ler "a obra" no blog Sétima Letra:
Vale a conferida!

João,
O que aconteceu no ontem que desde ele me rouba o sono o não saber dos teus caminhos?Chegança não houve e o sol nasceu quando o aberto dos meus olhos procurava presença na curva da ribeira e só ausência fazia ali a sombra de nada.Os passos foram pra missa e de lá voltaram com cadência de perdão. Nem eram meus que de há tempos não cruzo aquele terreiro aonde o sino acorda as andorinhas.Que de há muito vivo no esquecimento que os anjos têm de mim. E os santos, todos eles. Deus do céu, o Pai eterno.E o vigário nem me passa pela porta, vira a cara pra minha cara de mulher perdida.Nem os cheiros dos meus doces fazem rastro no quintal pras pegadas das vizinhas que de mulher de vida fácil nem os doces têm sabor.Só o moleque de recados atreve os grandes olhos em troca de levar esta pergunta feito carta de saber em que abraço tu dormiste que não no meu.Faço renda, bordo pano, lavo prato, passo o tempo que não passa e o buraco no meu peito engole tudo e faz saudade.Logo mais já vai ser noite na janela do quintal e azuis as goiabeiras, mesa posta, o café passado fresco, mas não vens.O que acontece no sempre que desde então me rouba o sono o não saber dos teus caminhos?



Maria,
Voltei!
Vi da vida, a vida quase, vi das bocas as palavras e voltei, Maria.Fiz cruzada e travessia, rios, becos, vales, vacilei na encruzilhada, mas voltei, Maria.Pela luz do seu olhar, fogo fátuo na neblina. Pela sombra dos seus gestos, flor nascida no orvalho. E o calor do seu regaço, berço frágil dos meus sonhos, voltei, Maria.Fiz passado de outros corpos que meus braços acolheram. Fiz meu norte da saudade e voltei.Seu cabelo, negro manto da nudez, cobertor do meu depois. Seu calor, os seus gemidos, melodia em tom maior no ardor do meu durante. Sua porta escancarada, seu fragor despetalado. Por isso e tudo isso, Maria, voltei.Por seus doces e temperos. Por seus dengos, vendavais. Sua faca na cozinha, o seu cofre de porquinho, seu diário, seus bordados. Por um nada e por um tudo, eu voltei.Nas pegadas dos meus passos. No traçado dessa dor que fez estrada em minha vida na estrada de nós dois, eu voltei.E encontro seu silêncio, seu olhar perdido longe, seu cabelo já tão branco, suas mãos pousadas frágeis no seu colo, abandonadas. Suas pálpebras cerradas, essa dor no seu sorriso, esse terço em sua mão, essa vida posta fora.Porta a fora a minha vida. Vida adentro a sua morte. E pra sempre o nunca mais.

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

O AVC da saúde

Algumas horas da tarde de sábado avançavam, mas ainda era dia. O forte calor nos subúrbios do Rio de janeiro já decretavam o que todos sabiam por osmose: o inverno falira. Nesse quadro encontramos a senhora de oitenta e dois anos que precisava de socorro urgente. Seu AVC era óbvio e sua saúde, outrora de ferro, esvaía-se de forma considerável. Como não havia vagas no hospital mais próximo, teve que ser “rolada” para o único posto de saúde vinte e quatro horas existente na cidade. Depois de muito “blá, blá, blá” sobre receber ou não, recebida foi, à força e à ameaça com o Estatuto do Idoso na cabeça. Os sinais do problema eram uma realidade nos exames feitos dias antes: diabetes e infecção nos rins. Remédio para neutralizar (ou apenas estabilizar) a infecção? Que nada. No posto, apenas vitaminas para manter uma sobrevida cambaleante, um rufar dos tambores antes da hora. Sem os remédios apropriados, os tambores rufariam certamente. Precisava-se de vaga em hospitais adequados para sanar a dor da paciente e confortar a dor espiritual dos parentes. Vagas? Só com algum conhecimento. O desemprego para os vivos pode ser grande, mas os moribundos não têm o direito de passar por uma transição de forma tão absurda. Vagas? E os tambores rufam. Não há remédios para doentes nos hospitais públicos, mas alguns prefeitos continuam realizando belas obras de embelezamento de praças e coisas visuais. É claro que morto não dá voto. Morto pobre, então... Mas como coisas inexplicáveis sempre acontecem em pindorama (porque a lógica sempre falha), através da Internet, uma vaga surgiu, pulou para fora do monitor e reacendeu a esperança de, pelo menos, uma internação digna, um acompanhamento relevante. E assim foi. Porém, muitos continuaram sem vagas. A senhora de oitenta e dois anos pode vir a falecer, sim, é um fato, mas uma coisa chamada saúde já morreu faz tempo. No Rio de Janeiro, saúde virou privilégio, como comer caviar, ou ser capaz de apreciar uma boa realização política. Nós já estamos mortos, só não nos demos conta. Ou ninguém falou, ou esquecemos de perguntar. Dá no mesmo.

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

O velho Luciano

Lembro de pouquíssimas coisas factuais na minha infância. Mas o que não foi verdade, a mente completou com algo parecido a isso. Minha mãe sempre foi louca por sua voz e era assim que eu o conhecia: a Voz.
Não, Sinatra nunca me despertou essa admiração, apesar do respeito que tenho por quem gosta de Sinatra. Bono tampouco, mesmo sendo um grande admirador da banda irlandesa, nunca coloquei tal estrela na minha lista de grandes vocalistas. Contudo, o velho Luciano...
Minha mãe trouxe da clínica onde trabalhou por vinte anos, um álbum dos três tenores que ganhara em festa de “amigo oculto”. Eu escutei, acho, mais que ela. O dia todo. Algumas músicas com Carreras, Domingos, mas todas e repetidas vezes às interpretadas pela Voz. Ficava entorpecido com tamanho vigor, a beleza dos seus “acordes”, a dignidade das suas sílabas, a impressionante vitalidade da sua presença.
Cresci entendendo muito pouco sobre o estilo em que a Voz trabalhava, mas a sua presença sempre me causou uma grande impressão. Ouvir Pavarotti era como amar Cândido Portinari.

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Casamento é isso (?)

Essa está em O Globo de hoje, 05/09: “Após se xingarem de tudo, César e Garotinho se unem” (O País, pg.:5). O amor não é lindo? Ou, como diria uma letra tão ruim quanto tal aliança: “entre tapas e beijos...” o mundo nunca pára de girar. Infelizmente, como é o caso, o giro é de 360º, ou seja, fala, fala, fala, mas sempre vomita no mesmo lugar.
A política contemporânea não tem a menor vergonha de estar na contra-mão do que, verdadeiramente, deveria representar: preocupação com o bem-estar da polis. Não. Isso nem passa pela cabeça da maioria dos engravatados que andam pela “casa-de-todos-nós” chamada de Congresso, fazendo dela, a verdadeira “casa-da-mãe-Joana”, prostituindo a todos nós e corrompendo os nossos filhos. Aliás, quem pode falar de Ordem e Progresso numa casa que tem como presidente um indivíduo chamado Renan Calheiros? Agora, responda quem puder: quem pode falar em ética ou algo que o valha em se tratando de César e Garotinho?
Depois de tudo o que os dois políticos já disseram um para o outro, receber tal notícia pode ser tão “mofada” e carente de sentido (ético, nunca político!) quanto o emocionante encontro entre Lula e Collor. Dizem que é para barrar o avanço do PT carioca. Pode ser. Como também pode ser que, no final, aconteceu o que qualquer novelista está cansado de saber e escrever: duas bandas sempre resultam em um “cujunto”.