domingo, 30 de março de 2008

Dengue como substantivo próprio

A Dengue, na verdade, é a materialização de tudo o que está errado nos governos (todos) que administram (?) o Rio de Janeiro e a Baixada Fluminense, é a materialização de rosto do Serra, enquanto Ministro da Saúde, e dos outros que sentaram a bunda em cadeira tão séria (mas que parece ser administrada com muita estupidez). A Dengue, na verdade, é a resposta que chegou para a pergunta que muitos já fizeram: estamos abandonados?
Estamos abandonados por tanto tempo que esquecemos a dignidade, a noção de que a Dengue só existe porque há políticos assassinos nos degraus mais altos do poder. 59 pessoas morreram da doença no Estado do Rio porque sucateamos ambulâncias e não punimos os culpados, porque vimos José Serra extinguir os agentes responsáveis pelo controle da Dengue e, ao invés de o repreender, resolvemos o presentear com a cadeira de Governador em Sampa. A Dengue existe porque moramos no trópico. A Dengue mata porque não porramos os responsáveis por esta chacina.
O que mete medo é a consciência de que o Estado faliu. A saúde no Rio (e não só) é ineficaz, marginal e absurdamente amadora. Impressiona a maneira inumana de como o povo é tratado nos hospitais públicos, sobre como os números são escondidos da imprensa, sobre como não há estrutura possível para tratar a todos. Mortes, na Baixada, principalmente, estão acontecendo porque, na falta de leitos ou recursos, os doentes estão voltando para casa, depois de medicados, muitas vezes, com um simples tylenol. Não há plaquetas para se injetar nas vítimas.
59, mas serão mais, tenho certeza. Certeza essa que nasce da impotência que sinto, na culpa que tenho e na sordidez da política, demasiadamente humana.

sexta-feira, 28 de março de 2008

A liberdade

Mais uma vez, Pilar surpreende com a sua boa construção. Há outros contos e poemas em seu blogue igualmente bonitos. É conferir e viciar.
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Quando Apolônia foi libertada, depois de mais de 30 anos de cárcere, não tinha mais forças nem nas pernas nem na crença que a pusessem para correr de encontro à liberdade.

O carcereiro abriu o cadeado, escancarou a porta de ferro e disse "vai, minha filha". Todos olhavam para ela, esperando que saísse em disparada, como um bicho fugindo do caçador. Mas Apolônia não correu. Ela olhou para o carrasco lá no fundo de suas vísceras e implorou para ficar. Estava tão habituada aos seis metros quadrados que temia o mundo lá fora, ameaçador como um engolidor de espadas.

O carcereiro achava que lhe fazia um favor e a pôs para fora a pontapés do mesmo modo como, décadas antes, a havia posto para dentro.

Acostumados à escuridão e secos com passar dos anos, os olhos dela não agüentaram tanta luz de uma só vez e cegaram-se para o mundo.

Todos assistiam ao andar cambaleante da índia cega, encontrada morta dias depois afogada em tanta liberdade.
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quarta-feira, 26 de março de 2008

A atualidade da "aposta" de Pascal


Depois de um Fausto quase "teológico", repasso a coluna do grande Leonardo Boff sobre uma teoria do filósofo Pascal e que sempre achei o máximo. Obviamente, Leonardo aprofundou de uma forma encantadora. Aliás, a arte da nossa Sandra Camurça também está fantástica.
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A atualidade da "aposta" de Pascal
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Leonardo Boff
Jornal do Brasil - 06/11/2006

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Blaise Pascal (1623-1662) foi um dos grandes gênios do Ocidente como matemático, físico e filósofo. Em pleno debate com a razão moderna nascente, depois de uma profunda experiência espiritual, escreveu uma Apologia da religião cristã. Ela deveria responder às objeções da época de forma cabal e irrefutável. Não conseguiu seu intento pois, muito doente, morreu com a idade de apenas 39 anos, em Paris. Deixou somente anotações e pensamentos dispersos que vêm sob o título Pensées (Pensamentos), apreciados até os dias de hoje.
Depois de tentar todo tipo de argumento em favor da fé, deu-se conta, de forma honrada, de que nenhum deles era cabalmente convincente. Foi então que forjou o famoso argumento da "aposta" válido até os dias atuais.
No parágrafo 233 de seus Pensamentos, Pascal colocou a seguinte questão: "Dieu est, ou il n'est pas" (Deus existe ou não existe). Sustenta que a razão pode aduzir tanto argumentos a favor quanto contra a existência de Deus. Destarte não se consegue determinar uma resposta convincente. Como sair desse impasse? É aí que Pascal afirma: "il faut parier" (É necessário apostar). Você não tem escapatória porque, uma vez que suscitou a questão, você se encontra "embarcado nela", diz ele. A razão não sai humilhada pelo fato de ter de apostar. A resposta apresenta a seguinte vantagem: "Ou você tem tudo a ganhar ou você não tem nada a perder". Portanto, a aposta é racional.
Se você afirmar que "Deus existe" e Ele de fato existe, você tem tudo a ganhar, a vida e a eternidade. Se você afirmar "Deus não existe" e Ele de fato não existe, você não tem nada a perder: o sentido da vida e a eternidade eram meros devaneios. Então é racional, aconselhável e justo que você afirme "Deus existe" e assim você tem tudo a ganhar.
Qual a atualidade da "aposta pascaliana"? Culturalmente a questão não é mais posta em termos de "se Deus existe ou não", mas em termos: "Que futuro tem o planeta Terra e a vida se tomarmos a sério os alarmes dados recentemente por cientistas renomados? Há galáxias que engolem outras galáxias. Que sentido tem o Universo que, pela lei da entropia, irrefragavelmente, caminha para a morte térmica? Tem sentido a vida humana depois da experiência dos campos de extermínio nazista e da tsunami do sudeste da Ásia? Tem sentido o destino das grandes maiorias submetidas à fome, a todo tipo de exploração, com crianças estupradas e mulheres submetidas à escravidão sexual?".
Somos desafiados também a apostar: apostamos que apesar de todas as contradições, trabalha um sentido secreto no universo. Ele um dia vai se manifestar e será a suprema felicidade da criação e assim ganhamos tudo. A luz tem mais direito que as trevas. Ou então tudo não passa de absurdo e a felicidade é ilusória e acabaremos todos no pó cósmico e assim não perdemos nada quando deixamos de acreditar.
Vale, então, apostar numa atitude de confiança e de entrega radical (é o sentido bíblico de fé) de que o mundo é saldável e o ser humano resgatável a ponto de descobrir a irmandade universal até com as formigas do caminho. Apostando nisso, teremos tudo a ganhar aqui e na eternidade.

terça-feira, 25 de março de 2008

Meu Deus

Depois de duas crônicas, esperava ficar algum tempo sem Fausto Wolff, mas não consegui. Sua conclusão "teológica" é quase o que penso. Portanto... Vamos ao Fausto!
.Um amigo voltou de San Francisco impressionado com o fato de que quase 100% dos americanos que fazem trabalhos manuais ou mais humildes são estrangeiros. Há mexicanos, por exemplo, que, vão um vez por semana para casa, correndo risco de vida na ida e na volta. Ganham uma miséria que, porém, é uma fortuna comparada ao que ganhariam no México. Muitos negros mais pobres, sobre cujo sangue se construiu a nação, preferem não trabalhar a ganhar o mínimo e vivem do welfare que lhes paga o Estado. Alguns dólares a menos do que ganham os clandestinos que trabalham de sol a sol e ainda economizam para mandar algum para a família que ficou no país de origem.
O ódio está parado à espreita no ar. Os arianos protestantes odeiam os irlandeses e vice-versa. Os mexicanos odeiam os negros e estes odeiam os latinos e todos os estrangeiros clandestinos que lhes roubam os empregos. É claro esse ódio ignorante se transforma em ação e alguém vai parar no cemitério ou na cadeia. A maioria volta, pois ninguém dá dinheiro a um ex-condenado. Os cárceres em sua maioria são lotados de negros, latinos, mafiosos menores e uma minoria de brancos. Primeiro o governo os divide, depois permite que se odeiem, pois gosta que se matem entre eles, e no fim temos a maior população carcerária do mundo. São presos políticos, pois se o Estado e a empresa privada cumprissem honestamente sua parte, os presídios estariam vazios, uma vez que ninguém gosta de estar preso.
O Código Penal americano, como o nosso, foi feito para proteger os ricos, apesar das belas palavras. Eventualmente algum rico acaba preso, mas paga para passar bem. Dou minha cara a tapa se esse governador de Nova York for em cana. Não vai, como não o foram o assassino milionário e astro de futebol O.J. Simpson nem o molestador de menores Michael Jackson.
Os mais religiosos são os latinos e o sonho de todos é ganhar o green card e tornarem-se cidadãos de um país que os trata como cachorros. Os irlandeses são um caso à parte, pois, embora esnobados, formam mais de 50% da força policial americana: bela corporação. A exploração do homem pelas mais diversas máfias é pre-histórica, pois os mais espertos meteram na cabeça do homem comum que ele precisava de deuses, demônios e seus representantes.
Marx surgiu apenas no século 19 e já dizem que o marxismo morreu. Conseguiu botar água no chope da burguesia exploradora e muitas foram as reivindicações que os barões das indústrias e dos bancos tiveram de aceitar. Mas agora inventaram o neoliberalismo, que explora o consumismo e lhe dá liberdade para ter o que quiser do modo que quiser desde que não seja apanhado em flagrante. Para evitar flagrante existem os advogados das grandes corporações, que recebem bilhões para que nenhum cliente seu seja perturbado nem por um guarda de trânsito. No marxismo o Estado é responsável pelo bem-estar do homem. No neoliberalismo o homem é obrigado a cumprir contratos que assinaram muito antes de nascer. É claro que é muito mais fácil tornar-se um homem de bem e enriquecer quando se nasce com um milhão de dólares no banco do que quando se nasce de mãe prostituta e pai drogado.
A hipocrisia é total e a confiança na burrice eterna do pobre também. São os pobres que acreditam em Deus e querem a pena de morte que só atingirá a eles e aos serial killers, moda inventada nos EUA e executada por sociopatas dos quais ninguém desconfiaria normalmente.
Recebi uma carta gentil do leitor Antônio Carlos Oliveira, que, embora afirme o contrário, não deve ler meus artigos diariamente. Agradeço os elogios, mas se isso fosse verdade saberia que acho a existência de Deus mais plausível do que o contrário. Sou um cético e um homem de fé que estuda teologia para entender o mundo e acho mesmo que algumas religiões são necessárias. Quanto a odiar Deus, seria uma estultice. Como odiar alguém responsável pela maravilha da harmonia que o homem, sim, quer destruir A existência ou não-existência de Deus não é importante. Importante é a paz na Terra aos homens de boa vontade. Pessoalmente, gostaria de acreditar no inferno, um hotel para os patifes que machucaram, humilharam e feriram seus irmãos mais fracos e indefesos. A propósito: dizem que um homem rico e mau quis entrar no céu, mas foi impedido por jamais haver feito uma boa ação. Vira daqui, vira daí, descobriram que dera 50 centavos a um cego quando jovem, bêbado e distraído. Deus teria pedido a Pedro que devolvesse os 50 centavos ao sovina e o mandasse com um pontapé pra o inferno. Um Deus assim tem toda a minha simpatia.
Como eu, meu Deus não acredita na pena de morte e na minha constituição o primeiro artigo rezaria que todo governante que declarasse guerra seria decapitado no ato. Quanto à pena de morte, posso até concordar se forem prefeitos, governadores, presidentes e reis a executá-la em praça pública diante de todo mundo. Um belo close do presidente enfiando um punhal no coração de um condenado entre vendedores de picolé e cachorros quentes.
Dizem que um judeu muito religioso passara 80 dos seus 85 anos de vida indo todos os dias ao Muro das Lamentações. Perguntaram-lhe o que pedia. E ele:
– Paz entre cristão, judeus e muçulmanos.
– E como o senhor se sente?
– Como de estivesse falando para uma parede.
Quanto a mim, não estou preocupado com Deus e acho que ele tem mais o que fazer do que se preocupar com meus pecadinhos. Se ele existir, quando eu estiver na frente dele, estarei com a papelada pronta. Procurei ser um sujeito decente. Não foi fácil, mas também não foi tão difícil.


sábado, 22 de março de 2008

CPMF faz falta?

Ano passado, diante da queda da CPMF, escrevi achar estranho o Governo receber tal derrota de maneira tão pacífica. Disse que quem perdia com a sua queda (da CPMF) era a própria oposição que a eliminava porque geraria desgaste político entre seus pares e porque, num futuro não muito distante, não poderia reclamar da falta de repasse do Governo na área da saúde, pois o corpo estendido, aniquilado, da CPMF anulava qualquer choro.
Sexta-feira, diante da notícia publicada no Jornal do Brasil, página Economia (A19), de que a “Arrecadação sobe 10% sem CPMF”, comecei a acreditar que o achismo de outrora havia ganho uma pulga a mais na minha orelha. Quem de fato perdeu com a sua extinção? Governo Federal ou Governos Estaduais e Municipais que fazem oposição ao Lula?
Na página A18, uma reportagem sobre publicação da revista “The Economist” diz claramente que, apesar da Argentina ter um desempenho numérico melhor que o nosso, somos nós, e não os “hermanos”, que crescemos com consistência e segurança.
Sei não... Mas parece que a política Pós-Moderna está além dos ideais filosóficos do passado. Hoje, ela se parece mais com um jogo de xadrez.
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Ps.: espero que o surto de dengue que assola o Rio de Janeiro não seja obra de nenhum jogo medonho. Seria uma puta “bola fora” do Governo.

quarta-feira, 19 de março de 2008

Madeleine

Notícias da BBC chegam e a Folha de S. Paulo noticia:
“Um grupo de jornais britânicos foi condenado a pagar 550 mil libras (R$ 1,8 milhão) aos pais da menina Madeleine McCann por ter publicado matérias que sugeriram seu envolvimento no desaparecimento da filha, em maio do ano passado, em Portugal.
A sentença é resultado de um processo por difamação movido pela família contra a empresa Express Newspapers, dona dos títulos ‘Daily Express’, ‘Daily Star’, ‘Sunday Express’ e ‘Daily Star Sunday’".
A questão de “lá do exterior” lembra um pouco o caso da “Escola Base” daqui. A notícia precisa virar notícia (em nome do furo jornalístico) mesmo quando pouco apurada?
Prefiro sempre um jornalismo errante a um jornalismo calado (“Paz sem voz não é paz, é medo”), mas para os excessos e estupidez, medidas precisam ser adotadas. Não é justo denegrir (ou matar) a imagem de alguém em nome da liberdade. Democracia não mata ninguém, antes cria e transforma. Jornalista mal intencionado ou incompetente precisa pagar o preço da irresponsabilidade. A questão é complexa e a minha superficialidade não estanca a ferida, mas é preciso o debate. Quantas vezes assistimos, via televisão, ao “apedrejamento” público dos pais da menina Madeleine? Imprensa é isso? Duvido muito.

terça-feira, 18 de março de 2008

Ignorância minha

Começaram as obras do PACman na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro. Em seu primeiro dia, traficantes entusiasmados com a possibilidade de asfalto e melhorias na locomoção do Estado resolveram comemorar com vários tiros em direção às obras. Dizem que foi protesto. Na minha opinião, os tiros foram de alegria, já que o projeto engloba a construção de um teleférico no meio da favela. Enfim, Estado ausente, polícia repressora e teleférico são coisas que dão certo na cabeça dos nossos governantes...
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Os brasileiros impedidos de entrar na Espanha, segundo o consulado espanhol, estavam sem os documentos necessários ou, em alguns casos, os documentos não condiziam com o que estava sendo justificado. Não vou discutir os elementos políticos que fizeram a Espanha se comportar desta maneira, acredito apenas que o Brasil deveria fazer o mesmo. Afinal, quantos espanhóis, americanos, entram em Terra brasilis desta forma? Se vale lá, deve valer aqui. Ninguém nos levará a sério enquanto formos as prostitutas dos países ricos.
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Um cretino explodiu-se (menos um no mundo), contudo, levou consigo um punhado de judeus. Dia seguinte, era capa nos jornais mais importantes do país o velório, a família das vítimas abraçadas. Realmente comovente e revoltante a atitude extrema, mas por que Gaza nunca é primeira página com suas milhares de vítimas? Aborto e Holocausto Judeu são tabus quase instransponíveis dentro da nossa sociedade. O aborto é com a consciência de cada um, o Holocausto é fato histórico e deve ser estudado para nunca mais acontecer. Entenderam? Nunca mais acontecer! Mas parece que em Gaza...
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A pergunta que não quer calar: o que o Gabeira está fazendo no PSDB, meu Deus?
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Abraço forte a todos!

sexta-feira, 7 de março de 2008

A barbárie em Gaza e a arrogância em Madri

Queria quebrar esse jejum de textos próprios. Ultimamente ando sem muito tempo para olhar com atenção o blogue, o que é uma pena, porém, hoje havia decidido produzir. Foi quando abri o Jornal do Brasil e deparei-me com os dois assuntos que gostaria de discorrer. O texto? Mauro Santayana! Obviamente desisti. Fica para a próxima.
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A barbárie em Gaza e a arrogância em Madri

Mauro Santayana
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Enquanto a revista Forbes divulga a nova lista dos grandes bilionários do mundo, várias organizações filantrópicas internacionais, de reputação comprovada, nos dão conta do que está ocorrendo na Faixa de Gaza. Segundo o relatório da Anistia Internacional, da Christian Aid e da Save the Children, sob o título de A implosão humana, Israel converteu a pequena área - de apenas 363 quilômetros quadrados - onde se amontoam mais de 1,5 milhão de palestinos, em campo de extermínio. Sem a água potável necessária, com a energia elétrica cortada, sem combustíveis, sem alimentos suficientes e sem remédios, o desemprego atingindo 40% da população, e a indústria reduzida a 10% de sua capacidade, em conseqüência do bloqueio israelense, os palestinos estão sendo dizimados pouco a pouco. Até mesmo a distribuição de comida pela ONU está prejudicada pelo bloqueio. Nem mesmo a alta taxa de natalidade - uma astúcia contra o genocídio - lhes serve de esperança.
A partir de 1948, a organização das Nações Unidas para os refugiados instalou em Gaza um campo para os árabes e palestinos expulsos de suas casas no território entregue pelos aliados a Israel. O mínimo que se poderia esperar dos vencedores da guerra seria dar aos espoliados de seu território histórico a oportunidade de uma vida igual à que conheciam antes da criação do Estado de Israel, mas lhes destinaram o inferno. A concentração demográfica é das mais altas do mundo (3.581 habitantes por quilômetro quadrado) e a agricultura, em áreas reduzidíssimas, continua sendo a principal ocupação dos ali depositados.
O mundo está salpicado de áreas como a faixa de Gaza - embora ela seja a mais antiga de nossos tempos. Nelas, a pretexto da segurança dos fortes, os débeis são contidos por muros, arame farpado, vigilância eletrônica. E quando - como ocorre em Gaza - as vítimas reagem, atirando contra os sitiadores com armas improvisadas, a reação é desproporcionada. Por cidadão israelense morto pelos mísseis de quintal disparados em Gaza, matam centenas de palestinos, como ocorreu nos últimos dias. Os mísseis fizeram um morto em Sderot - e mais de 100 palestinos pereceram nos ataques judeus a Gaza. Era assim que agiam os nazistas na Europa ocupada, com uma diferença: ao recolher, aleatoriamente, nas ruas, os que pagariam pelos atentados a suas tropas, os alemães poupavam as crianças, embora não as poupassem quando arrasavam localidades como Oradour. A retaliação judaica é indiscriminada, e muitos dos mortos em Gaza são crianças, que nada sabem do mundo e nele não encontram a vida para a qual vieram, mas a fome, a tristeza, a morte. O relatório faz referência ao estresse permanente a que elas estão sujeitas, mas dessa tensão não escapam os adultos e os idosos. Alguns ali viviam antes de 1948, mas a maioria nasceu e envelheceu nas tendas e nas cubatas de alvenaria de Gaza - sem direito a um dia de paz, a uma primavera de alegria, a uma tarde de memórias felizes, antes da morte, que ali chega de repente, mas sem surpresas.
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É hora de reagir
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O Itamaraty está exigindo dos espanhóis que tratem com respeito os brasileiros que usam o aeroporto de Barajas, como porta de entrada da Europa. Não se trata apenas de negar a entrada no país - e à União Européia - daqueles que arbitrariamente considerem indesejáveis, mas da humilhação e da ofensa a que são submetidos os brasileiros, tratados como delinqüentes vulgares. As jovens são particularmente insultadas, como se fossem prostitutas à procura do mercado europeu. Em outros tempos, eles acorriam ao nosso país em busca do pão que lhes faltava em casa, e eram acolhidos pelos brasileiros pobres com respeito. A prosperidade de hoje não lhes confere o direito à arrogância.
Informa-se que o governo brasileiro irá iniciar operação de limpeza nas praias do litoral - a fim de expulsar, sumariamente, os europeus que ali vivem de explorar o jogo clandestino, o trabalho mal remunerado dos brasileiros e a prostituição. Há também os que se encontram ilegalmente explorando várias atividades comerciais. A mesma providência será tomada nas grandes metrópoles, onde quadrilhas de fora participam do crime organizado. Pouco importa se se trata de mafiosos ricos ou não, donos de hotéis luxuosos ou tendinhas de praia.
E, sem prejuízo dessa operação, devemos negar a entrada em nosso território - e aleatoriamente como fazem - de europeus procedentes dos países que discriminam brasileiros. Não se trata de agir com a mesma grosseria com que atuam. Basta negar-lhes a entrada, de forma cortês, e devolvê-los a seus países, sem explicações, como eles fazem.
No momento que um cidadão brasileiro é humilhado, é a toda a nação que humilham.

quarta-feira, 5 de março de 2008

Ciclo

Este poema estava lá no Moacy (que eu adoro). Cliquei no link e descobri o Grupo Casarão de Poesia. Recomendo uma passada lá.
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CICLO
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irrigaram mel
na minha veia
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mês passado
menstruei formigas

IARA CARVALHO