terça-feira, 2 de maio de 2017

Nós, os vagabundos



A primeira coisa de se observa quando se vai a uma manifestação é o nível de entusiasmo. A alegria de estar reunido com pares, pessoas que compartilham uma ideologia parecida, uma tribo com vertentes diversificadas, porém, unida num sólido objetivo.
Foi assim que eu me desloquei da Baixada Fluminense. Entusiasmado, certo de estar a caminho para encontrar a minha tribo, os meus admiráveis “vagabundos”. Peguei o trem até a Central do Brasil e, de lá, caminhei à ALERJ. E ela estava linda! A sua volta, ao invés dos engravatados deputados e seus assessores puxa-sacos, uma massa multicolorida, vagabunda e politizada cantarolando, conversando, ouvindo os discursos que flutuavam das caixas de som. E era “Primeiramente, #ForaTemer” pra cá, “Como vai? #ForaTemer” pra lá, que eu, totalmente #ForaTemer desde o início, já me sentia dentro.
Depois de algum tempo por lá, recebendo a energia daquele todo e desfrutando da coletividade daquele tudo, encontrei vários amigos de trabalhos antigos e de lutas eternas e resolvi acompanhá-los na caminhada à Candelária. Estávamos há 100 metros da ALERJ quando as bombas começaram. Resolvemos não correr, calejados desse instrumento imposto pelos governos idiotas deste Estado.
Ao barulho da terceira ou quarta bomba, um coro de #ForaTemer se ouviu e repetiu-se mais duas vezes. Foi maravilhoso!
Mas o que eu gostaria de escrever, de fato, depois de muitos dias do acontecido (até para afastar o puro entusiasmo do momento verdadeiro), é o seguinte: os governantes, por serem os nossos empregados representativos na política, deveriam ser dotados de mais inteligência. Talvez, sair do lugar-comum já seria um avanço.
Polícia com cara de mauzinho, bombas e gás, se antes apavoravam, hoje é motivo de luta intensificada. A maioria sabia que a repressão viria em algum momento, mas estávamos lá, mesmo assim. Sabe por quê? Porque perdemos o medo das bombas, perdemos a paciência com os telejornais noticiando mentiras, com a enxurrada de milhões de Reais em propaganda midiática, os bilhões perdoados dos banqueiros, empresários e industriais. Encheu o saco. O cassetete quebrado na cabeça do estudante não nos acua, revolta-nos. E, cá entre nós, só a vergonha de termos o presidente que temos já é motivo mais do que suficiente para irmos às ruas.
Eu sei que o país sempre foi governado por uma elite irresponsável e babaca, que o nosso sonho democrático é algo pingado, um banco de areia num mar de golpe. Contudo, quando você joga muitas bombas nos nossos ouvidos, chega uma hora que não ouvimos barulho, mas batucada. E pensando em música, vou citar uma cantarolada por jovens lindíssimos no decorrer da manifestação e lembrar uma coisa: amanhã vai ser maior.
“Se o povo soubesse o talento que ele tem
 Não aturava desaforo de ninguém”


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