A primeira coisa de se observa quando se vai a uma manifestação é
o nível de entusiasmo. A alegria de estar reunido com pares, pessoas
que compartilham uma ideologia parecida, uma tribo com vertentes
diversificadas, porém, unida num sólido objetivo.
Foi assim que eu me desloquei da Baixada Fluminense. Entusiasmado,
certo de estar a caminho para encontrar a minha tribo, os meus
admiráveis “vagabundos”. Peguei o trem até a Central do Brasil
e, de lá, caminhei à ALERJ. E ela estava linda! A sua volta, ao
invés dos engravatados deputados e seus assessores puxa-sacos, uma
massa multicolorida, vagabunda e politizada cantarolando,
conversando, ouvindo os discursos que flutuavam das caixas de som. E
era “Primeiramente, #ForaTemer” pra cá, “Como vai? #ForaTemer”
pra lá, que eu, totalmente #ForaTemer desde o início, já me sentia
dentro.
Depois de algum tempo por lá, recebendo a energia daquele todo e
desfrutando da coletividade daquele tudo, encontrei vários amigos de
trabalhos antigos e de lutas eternas e resolvi acompanhá-los na
caminhada à Candelária. Estávamos há 100 metros da ALERJ quando
as bombas começaram. Resolvemos não correr, calejados desse
instrumento imposto pelos governos idiotas deste Estado.
Ao barulho da terceira ou quarta bomba, um coro de #ForaTemer se
ouviu e repetiu-se mais duas vezes. Foi maravilhoso!
Mas o que eu gostaria de escrever, de fato, depois de muitos dias do
acontecido (até para afastar o puro entusiasmo do momento
verdadeiro), é o seguinte: os governantes, por serem os nossos
empregados representativos na política, deveriam ser dotados de mais
inteligência. Talvez, sair do lugar-comum já seria um avanço.
Polícia com cara de mauzinho, bombas e gás, se antes apavoravam,
hoje é motivo de luta intensificada. A maioria sabia que a repressão
viria em algum momento, mas estávamos lá, mesmo assim. Sabe por
quê? Porque perdemos o medo das bombas, perdemos a paciência com os
telejornais noticiando mentiras, com a enxurrada de milhões de Reais
em propaganda midiática, os bilhões perdoados dos banqueiros,
empresários e industriais. Encheu o saco. O cassetete quebrado na
cabeça do estudante não nos acua, revolta-nos. E, cá entre nós,
só a vergonha de termos o presidente que temos já é motivo mais do
que suficiente para irmos às ruas.
Eu sei que o país sempre foi governado por uma elite irresponsável
e babaca, que o nosso sonho democrático é algo pingado, um banco de
areia num mar de golpe. Contudo, quando você joga muitas bombas nos
nossos ouvidos, chega uma hora que não ouvimos barulho, mas
batucada. E pensando em música, vou citar uma cantarolada por jovens
lindíssimos no decorrer da manifestação e lembrar uma coisa:
amanhã vai ser maior.
“Se o povo soubesse o talento que ele tem
Não aturava desaforo de ninguém”
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