segunda-feira, 25 de junho de 2007

Nosso Gil, Gilberto


Postei aqui uma homenagem aos 63 anos de Chico Buarque - na minha opinião, o maior entre os já grandes. Quelemém(http://racaodasletras.blogspot.com/) postou no seu BG sobre Caetano e, esta semana, Djavan. Pensei que seria uma boa fazer referência ao mestre Gilberto Gil. Péssimo político, extraordinário músico-poeta-lirista-meu-e-nosso!
O poema escolhido? Imaginei um Domingo no Parque, mas há mais brasileirismo que Refazenda (o leão não conta)? Talvez, mas não pra mim.
Mais informações: http://www.gilbertogil.com.br/

Bom é apenas lembrar que, depois de publicada/exposta, a arte é nossa, portanto, coloco aqui o que Gil diz sobre Refazenda, mas salientando que a minha/sua interpretação é a que vale mais!




Refazenda
(música e letra: Gilberto Gil,1975)

Abacateiro
Acataremos teu ato
Nós também somos do mato
Como o pato e o leão
Aguardaremos
Brincaremos no regato
Até que nos tragam frutos
Teu amor, teu coração

Abacateiro
Teu recolhimento é justamente
O significado
Da palavra temporão
Enquanto o tempo
Não trouxer teu abacate
Amanhecerá tomate
E anoitecerá mamão

Abacateiro
Sabes ao que estou me referindo
Porque todo tamarindo tem
O seu agosto azedo
Cedo, antes que o janeiro
Doce manga venha ser também


Abacateiro
Serás meu parceiro solitário
Nesse itinerário
Da leveza pelo ar
Abacateiro
Saiba que na refazenda
Tu me ensina a fazer renda
Que eu te ensino a namorar

Refazendo tudo
Refazenda
Refazenda toda
Guariroba


Nas palavras do próprio, o que tal música quer mostrar:


"Refazenda resultou de uma justaposição de nonsenses. Começou com um brainstorm com sons: fui aleatoriamente escolhendo palavras que rimassem e cheguei a um embrião interessante - um desses troncos de árvores tronchas sobre os quais o cinzel dos artistas populares vai trabalhar para fazer esculturas loucas, à la Antonio Conselheiro, do Mario Cravo, nascida de um tronco com dois galhos de braços abertos. O esboço era maior e muito mais absurdo: não tinha sentido nenhum! Aos poucos fui criando sentidos parciais a certas frases, até desejar um sentido geral para todas."


"Os versos foram feitos antes da música, obedecendo a um ritmo que eu tinha na cabeça. Para o primeiro, escolhi o alexandrino, um dos preferenciais do cantador nordestino, pois queria a priori uma canção com esse direcionamento country."


"Abacateiro, acataremos teu ato" - "Na época pensaram que eu me referia à ditadura militar (o verde da farda) e ao ato institucional, o que nem me passou pela cabeça. O que me veio mesmo foi a natureza em seu contexto doméstico, amansada, a serviço da fruição - daí a idéia de pomar e das estações. Refazenda é rememoração do interior, do convívio com a natureza; reiteração do diálogo com ela e do aprendizado do seu ritmo."



Linguagem transgressiva - "O período em que compus a canção é permeado pelo nonsense ou o que o tangenciasse; por um despudor audacioso de brincar com as palavras e as coisas; por um grau de permissibilidade, de descontração, de gosto pela transgressão do gosto. É uma fase muito ligada aos estados transformados de consciência, pelas drogas, e a consequente multiplicidade de sentidos e não-sentidos."


Guariroba - "Nome de uma palmeira do Planalto Central, a palavra dava nome também a uma fazenda que um grupo de amigos (Roberto Pinho, Pontual e outros) tinha a uns cem quilômetros de Brasília. Chegou-se a pensar em criar lá uma comunidade alternativa, onde nos juntássemos todos com nossas famílias. Não deu certo, e a fazenda foi vendida."

Um comentário:

Jens disse...

Marcelo:
Como fala o mestre. Gosto mais dele cantando do que explicando. Quanto à atuação política, ele conta com a minha simpatia moderada.
***
Abração.