quarta-feira, 20 de junho de 2007

Verbo

E o que não veio quando era possível agitou-se nas sombras, nos postes frios, na riqueza do caos urbano cheio de onomatopéias e palavras desconexas, na sutiliza de um roubo solitário, um vira-lata correndo atrás de uma moto, a chuva tornando a praia inviável, um sentimento fresco de que o mundo está submerso, um sussurro na bacia d’água. O que chegou atrasado, para o tempo corriqueiro, não pediu licença, não soprou uma carícia esperada, frustrou os de olhos vendados, calou os normais. O que chegou, chegou e pronto, atabalhoadamente para os céticos, ébrio em sua essência. Se foi bom ou não, ainda é cedo para saber. Sabe-se apenas que as formas mudaram, a estética se transformou em líquido lacrimejante. As gírias ganharam um outro valor, até porque as frases formais, “normativas”, estáveis, estáticas, perderam a sua significação direta, a mensagem límpida. O que veio proveio do incompreensível, do dentro de nós que não possuímos, do tempo imutável. Matou-se e não havia germinado, boiava no Éter. Só o que era Luz continuou, na esperança de bater o nosso túnel; só o que era Vida continuou, perambulando em cores nítidas e espalhafatosas; só o que era Amor continuou, brilhando nos sorrisos infantis e verdadeiros dos que continuam, sem olhar para trás.

2 comentários:

o refúgio disse...

Menino, menino! Bom demais!
Beijos.

Anônimo disse...

Quanta poesia em prosa, Professor!
Baita abraço meu