terça-feira, 28 de abril de 2015

Abujamra - e não preciso dizer mais

Você pode não saber, mas toda vez que um Grande morre, alguma coisa de grandeza some de algum lugar dentro de nós. É como se fôssemos todos uns miseráveis, de uma hora pra outra, e ficássemos mendigando um pouco mais de humanidade por aí.
Sabe, um Abujamra não se faz da noite pro dia, com seu sarcasmo e sua literatura. É difícil. 


Não encontrei ele declamando o poema de Voltaire (que me tocou, na época, profundamente), mas deixo-os com este (também maravilhoso) e transcrevo o excerto de Voltaire - Poème sur le désastre de Lisbonne (1755).

(…) Ó infelizes mortais! Ó deplorável terra!
Ó agregado horrendo que a todos os mortais encerra!
Exercício eterno que inúteis dores mantém!
Filósofos iludos que bradais «Tudo está bem»;
Acorrei, contemplai estas ruínas malfadas,
Estes escombros, estes despojos, estas cinzas desgraçadas,
Estas mulheres, estes infantes uns nos outros amontoados
Estes membros dispersos sob estes mármores quebrados
Cem mil desafortunados que a terra devora,
Os quais, sangrando, despedaçados, e palpitantes embora,
Enterrados com seus tetos terminam sem assistência
No horror dos tormentos sua lamentosa existência!
Aos gritos balbuciados por suas vozes expirantes,
Ao espectáculo medonhos de suas cinzas fumegantes,
Direis vós: «Eis das eternas leis o cumprimento,
Que de um Deus livre e bom requer o discernimento?»
Direis vós, perante tal amontoado de vítimas:
«Deus vingou-se, a morte deles é o preço de seus crimes?»
Que crime, que falta cometeram estes infantes
Sobre o seio materno esmagados e sangrantes?
Lisboa, que não é mais, teve ela mais vícios
Que Londres, que Paris, mergulhadas nas delícias?
Lisboa está arruinada, e dança-se em Paris.(…)