terça-feira, 19 de junho de 2007

O papel da mídia


Luiz Garcia em sua coluna de hoje (19/06), no jornal O Globo, escreveu que o “melhor momento de um repórter talvez não seja quando sabe o que vai dizer, mas quando sabe o que perguntar”. Tal afirmação é parte de um elogio que faz às reportagens investigativas dos repórteres da TV Globo no interior de Alagoas sobre o “caso dos bois” e as enormes contradições do senador Renan Calheiros relativas ao caso.

No Jornal eletrônico Montbläat desta semana (nº 242), Luiz Flávio Gomes cita uma excelente coluna, publicada na Folha de S. Paulo, de Elio Gaspari que expõe o seguinte: “Em quatro anos, foram apresentadas 646 propostas relacionadas com o crime. Delas, 626 destinavam-se a agravar penas, regimes e restrições. Só duas relacionavam-se com as delinqüências da turma do colarinho branco. Esse mesmo Congresso atravessou seis CPIs e absolveu 12 dos 19 parlamentares incriminados”.

O que essa equação de referências a jornais e formadores de opinião quer mostrar? Que se não for pelas mãos da sociedade mobilizadora, pelos meios de comunicação ávidos em noticiar e investigar (aqui não vai nenhuma referência sobre os motivos de certas mídias estarem mais ávidas que outras) e os que debruçam sobre o problema social colocarem os seus nomes em textos “convocadores” ou “denuncistas”, não será o Congresso e suas patéticas CPIs e conselhos éticos que extirparão as falácias e virulências que assolam a política brasileira. Se a mídia não assumir o seu papel e representar a sociedade menos abastada, tudo vira pizza ou “cosa nostra”, ainda mais rocambolesca.

No mesmo Montbläat é possível ler um artigo excelente de Teócrito Abritta, intitulado: Anatomias de Kriptonita, denunciando, entre outras coisas, as mazelas do governo Lula no IBAMA e a desistência de muita gente que veio com o título de coerente e íntegro, mas que acabaram cedendo à rajada constante do vento governista.

Quando os jornais (todos os veículos de comunicação de uma maneira geral) investigam e assumem seus devidos papéis publicando com coerência, mesmo estando errado, enriquece o debate e é desculpado pelos debatedores (sociedade), mesmo parcial, ajuda no crescimento intelectual do cidadão e forma outros opinadores, mesmo nanico, enobrece o discurso e engrandece a reflexão. Quando não faz nada disso e ainda por cima usa de subterfúgios escusos para impor seus interesses “mercantilistas”, mesmo certo, empobrece o debate, mesmo grande, todos torcem para um dia cair, pois nubla o debate e atrofia a reflexão.

Fiquemos, então, sempre sedentos e atentos. A mídia, como no caso do presidente do senado, anda muito correta, mas às vezes sente uma incontrolável vontade de meter os pés pelas mãos. Cabe a nós, consumidores, a responsabilidade de dizer: “hoje eu não vou te comprar”.

Um comentário:

Jens disse...

Grande Marcelo: infelizmente, nos últimos tempos a mídia em nosso país vem portando-se como um partido político de oposição de inclinações golpistas - não suportam o metalúrgico na presidência (não sei porque, visto que o Meirelles continua dando as cartas no Banco Central, para alegria de barões e tubarões). Renan deve ter desagrado alguém poderoso - até recentemente era benquisto na Rede Globo, o que houve? - por isto vai cair. Mas não nos iludamos, logo após a mídia nativa vai voltar suas baterias contra o presidente Lula, o alvo principal. Contra este vale tudo, inclusive sonegar as boas informações e fazer acusações levianas. Depois ainda têm a cara de pau de queixar-se da falta de liberdade de imprensa. É o Brasil. É dose (dupla).
Um abraço.