quarta-feira, 13 de junho de 2007

A esfinge

Olhou-a com um gosto de surpresa na boca. Ouvira falar de obra tão bela e enigmática, mas, além dos livros, nunca pudera estar frente-a-frente com tal forma. Era uma escultura relativamente pequena de um metro de altura em cima de uma pilastra de mesmo tamanho aproximadamente, estava em um pátio também relativamente pequeno. Parou e admirou tal escultura disposta ao ar livre, como para indicar ser ali uma casa de conhecimentos filosóficos e tradicionais. Bem, é claro que o seu interesse dirigia-se especificamente para a esfinge colocada de forma geométrica àquele lugar. Seu corpo de leão e sua cabeça humana, aquelas patas pesadas dispostas na base, a postura correta e vibrante, o semblante sério e plácido como deveriam ser o semblante de todos os homens que tiveram o conhecimento em suas mãos. “O conhecimento liberta!” Aquela cabeça em cujo ápice sustentava uma serpente dourada deveria certamente significar isso. Ocorreu-lhe que a obviedade intrínseca daquela forma fazia todo o sentido que esperava. Aquele corpo de leão com as patas fincadas na base era o lado “animalesco” do homem, o lado instintivo que remontava suas origens primatas e extremamente catárticas, onde o sentimento vão imperava sobre a razão e a filosofia; aquela cabeça humana era o lado racional, ou seja, a existência intelectual sobre a emoção desgovernada e a serpente sobre a cabeça instigava ainda mais à profundidade, a raiz primeira do conhecimento. Seria isso mesmo? Seria esse o significado alegórico da esfinge? O homem cujo corpo pertence à Terra, cujos desejos e ansiedades estão diretamente ligados à não-compreensão de algo maior e que, por isso, precisa buscar a purificação dos atos e dominar, através da mente, os seus impulsos “animalizados” para se desprender do que é profano e vislumbrar a verdade absoluta? Seria essa a chave que abre as portas do conhecimento “Uno”? A chave que abre os portais de Deus? As dúvidas saltavam em sua mente como pipoca e isso o fez deixar escapar um meio sorriso. Entendeu, naquele momento, que quando não se tem certeza de nada e segue-se em frente, aí é o ponto inicial do verdadeiro caminho.

2 comentários:

Jens disse...

Marcelo, meu caro: vim agradecer a visita lá na Toca e fui agradavelmente surprendido pelo teu blog. Gostei. Aparecerei outras vezes.
Um abraço. A gente se vê por ai.

Meneau (o insuportável) disse...

Marcelo, estou apenas de passagem por aqui, retribuindo a visita que fez a meu blog, dias atrás.

Estou conhecendo o espaço, lendo aos poucos. Comentarei com mais propriedade, depois de uma varredura(rs) mais atenta. Um abraço.