Era um barzinho como outro qualquer, mas nela havia algo de mágico e vibrante. Seus freqüentadores eram quase sempre os mesmos, salvo uns poucos que apareciam por indicação de algum outro freqüentador ou mesmo porque estavam passando por aquele local e resolviam parar para beber um chope gelado e ouvir uma música de qualidade levada a violão e percussão. Um único garçom ficava encarregado de atender às pessoas sentadas em suas respectivas mesas. Aliás, as mesas que ficavam do lado de fora tornavam-se uma atração à parte, eram mesas de costura muito antigas, daquelas que funcionavam por uma espécie de pedal. Jorge, era o nome do garçom, servia a todos habilmente e com um sorriso discreto encantador. Às sextas, o som expandia-se graças ao casamento perfeito entre o piano e a percussão.
A aura do ambiente possuía um toque de paz interior ou simpatia de arcanjo. Até que um dia... Um sujeito excedeu na bebida e resolveu brincar com um dos castiçais que ficavam dispostos nas mesas de dentro. O princípio de incêndio não pode ser contido já que o bar estava relativamente lotado e o tumulto havia se instalado de forma seqüencial no tempo e no espaço. Em uma fração de hora as chamas haviam tomado todo o recinto. Alguém preocupado com as garrafas de uísque de envelhecimento louvável e boa marca ainda se importou em carregá-las para fora do bar e para dentro do seu próprio veículo. Os músicos não tiveram o mesmo tempo para salvar os instrumentos, ou tiveram mas decidiram retirar as pessoas que, por nervosismo, ficavam paralisadas, sem ação. O prejuízo fora total, mas as vidas humanas estavam salvas. E todos, sem exceção, ficaram na calçada oposta assistindo ao espetáculo do fogo e ao trabalho dos bombeiros; alguns choravam, outros, não compreendiam.
O bar fora erguido da mesma forma d’antes, os objetos lá estão como se fossem os mesmos de outrora. Na parede, porém, não há mais as fotos de antes. As mesas externas sobreviveram ao incêndio e continuam dispostas da mesma forma. As belas e rústicas mesas de costura com pedal de grade antigo. As fotos na parede, agora, mostram e dão um outro sentido ao espírito do bar. São em torno de doze fotos bem distribuídas pelo local com iluminação independente em todas elas. Todos que entram olham-nas com ar de reverência e emoção. Alguns levantam um brinde direcionado às fotos. E elas estão lá, pulsando, como que dando um outro sentido à ressurreição do lugar.
4 comentários:
Olá Marcelo,
por enquanto passei para retribuir a visita, venho te ler mais depois. Por enquanto apenas li este;
"As fotos na parede, agora, mostram e dão um outro sentido ao espírito do bar"
Deixou-me curioso. O texto provovca-nos por não poder ver as fotos...
Quanto à reprodução de meu texto, seria uma honra. Alegro-me por você gostar dele. Se possível, deixe um link junto com a referência, caso venha realmente a utilizá-lo.
E volte lá!
Abraços, estrelas, nuvens..
A idéia é essa mesmo, Fernando! Gosto de brincar com isso.
Postarei certamente, teu texto é lindo!
Abraço forte!
Putz, Marcelo:
Aguçou a minha curiosidade: quero conhecer este bar, beber um chope e desfrutar da sua atmosfera mágica.
Um abraço.
Jens, o bar existia! Não incendiou, não... Dizem que fechou porque o dono não pagava o aluguel, enfim. O bar era pequeno, aconchegante. às sextas: piano e percussão (de Beatles a Chico), sábado: violão e percussão (Raul, Caetano)... Quinta e domingo: jazz. E a porra do bar fechou (Exotéricos era seu nome), como tudo de bom que acontece nesse mundo...hehehe...Seu Jorge também existia... Puta garçon, quase da família...
Abraço forte!
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