quinta-feira, 10 de maio de 2007

Primavera

O sorriso em seu rosto era inevitável? Esperava há quanto tempo àquela proposta? O que se sabe são os fatos, mas esses, quando não fotografados ou filmados, necessitam das vistas e das bocas humanas para vibrarem como acontecimentos, e essas, não são confiáveis, haja visto que cada um possui a sua própria interpretação, a sua maneira de ver (e não ver) as coisas; se bem que dependendo do posicionamento das câmeras, o seu foco,... Enfim, a proposta fora esperada por muitos anos. Uma vez ele se viu por baixo, havia cometido uma das piores formas de erro: a omissão; fora julgado moralmente pelos que se diziam seus amigos e moralmente violentado pelos que não o conheciam. Em um estalo de lucidez, decidira consolar-se, refugiar-se nos braços do seu único amor... Um olhar de desdém, superioridade exalado da mulher que venerava aniquilou-o profundamente. O que a sociedade pensava ou exigisse, para ele, era apenas isso: um preço a se pagar de cabeça baixa, mas aquele olhar – logo ela! – vindo do seu porto-seguro, do cristal que o energizaria, que o abraçaria e o reergueria, das cinzas do erro ao vôo do triunfo... (pensara ele na época). Lastimou-se, morreu um pouco a cada dia, várias vezes, até que em um dado momento resolveu viver, deu-se a chance que outros recusaram-lhe dar, furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio, assim como a flor de Drummond; sentou-se na Capital e nele mesmo, vislumbrou-o como em um espelho e aceitou-se. Trabalhou duro e obteve um parcial perdão. Bem, na verdade, com o tempo, muitos esqueceram o seu feito – ou não-feito, em se tratando de omissão – e outros, apenas acostumaram-se devido aos outros acontecimentos abruptos e acumulados, muitos mais graves e excitantes. Trabalhou pesado em prol de tudo, quis se levantar aos poucos mas de uma vez por todas e em todos os sentidos, tanto moral quanto financeiro. Conseguiu. E ali estava ele!, outrora tão longe dele mesmo, hoje, tão líder de si. Ela pegou em suas mãos com delicadeza, havia sinceridade no seu olhar, ambos pensavam no preço que fora pago. Ela pensou que também cometera um grave erro. Ele sabia que ela um dia compreenderia e aceitaria o seu erro, então, deixou que suas mãos fossem conduzidas ao rosto suave da mulher, ela cheirou e beijou-as com carinho e ele sorriu. Era inevitável? E por que não? Esperou anos para que isso acontecesse, odiou, bradou, corroeu-se, odiou-se, serenou, conheceu-se. Estava ali, ali ficou consigo e com ela durante um bom tempo. Ela fez novamente a proposta achando que talvez ele não a tivesse escutado claramente. Foi quando olhou-a desarmado, lágrimas nos olhos, comovido com a paz, o vento em seu semblante, a transpiração no copo com suco de laranja, e disse:
– Sim.

Um comentário:

Anônimo disse...

Aí vem a pergunta: devemos procurar provar algo pra nós mesmos ou para os outros?