Lendo o blog do professor Halem Souza (Quelemém), sobre Drummond (http://racaodasletras.blogspot.com/) e o quanto temos, enquanto acadêmicos (ou pseudo-intelectuais?), aversão aos “monstros”, “gigantes sagrados” da nossa (boa) literatura simplesmente porque são ovacionados por crítica (muita) e público (idem); a idéia de compartilhar escritores, músicos e afins com muita gente soa, por essas bandas tupiniquins, meio “brega”, “João-vai-com-as-outras”, teleguiado, entre outras boçalidades do gênero.
Outra coisa que impressiona é a dificuldade que temos em separar o artista do homem que mora dentro do artista, do homem “que trabalha o poema com o suor do seu rosto”, àquele “que tem fome como qualquer outro homem”.
O professor Halem mencionou Caetano Veloso em seu texto como alguém considerado ultrapassado apesar de continuar escrevendo lindamente e de já ser consagrado internacionalmente por obras “monumentais” dentro da sociologia brasileira. Caetano assim o é considerado porque é retratado como “monstro” por nove entre dez entrevistados, isso causa certo desconforto para quem precisa “urgentemente” se destacar dentro do “cenário academicista” ou para que seus exemplos adquiram certa relevância ao invés de ser considerado um exemplo “mais-do-mesmo”.
Tais distorções também são uma constante quando ligamos o artista ao seu universo puramente pessoal e, portanto, teoricamente desinteressante. Muitos acham Chico Buarque mais músico que Caetano porque a “pessoa” Francisco Buarque é mais simpático e discreto. Caetano já é “meio egocêntrico, sempre quer um palco”. Ora, se separamos artistas baseado em suas vidas pessoais, não podemos sequer escutar tais baluartes – suas obras são pesadas demais para mentes tão pequenas. Já ouvi falar que Pelé nunca foi um bom jogador porque ele como pessoa... Ora, dizer que Roberto Carlos não é um fenômeno pop porque derrapa feio quando censura a Liberdade de Expressão é tentar materializar Papai Noel sem nem saber quem é ou o que significa o bom velhinho. Aliás, Caetano é antipático?
Sabemos que a mídia hoje se preocupa muito com o que não deveria virar sequer notícia de rodapé, a pessoa Renato Manfredini é tão interessante quanto Renato Russo? O fato do homem ser homossexual reflete nas minhas escolhas? Se ele for gay não o escuto de jeito nenhum? Se ela for lésbica eu não compro o ingresso do seu show? Para onde estamos caminhando?
Fechemos as revistas que não saibam quem foi Drummond!
Um comentário:
Acredito que eparar o (a) artista da obra é um exercício muito difícil, no entanto, sempre necessário pra melhor compreensão das duas coisas: a biografia e a expressão artística.
Grato pela citação ao "meu barraco". Um abraço.
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