Por Carlos Brickmann em 2/3/2010 | |
O papel aceita tudo, mas a telinha aceita muito mais. A última novidade em material falso distribuído pela internet é atribuída à grande Marília Gabriela: um texto pesadíssimo em que ela diz ter medo de Dilma Rousseff, a candidata do PT à Presidência da República. O texto não é de Gabi: consultada, ela reagiu com indignação. "De jeito nenhum! Que desfaçatez! Por favor, avisa que é mentira!" É mentira, mas vai continuar circulando. As mentiras na internet não morrem: elas crescem, se espalham, saem de moda, quase desaparecem e acabam voltando, por mais absurdas que sejam, por menos verossimilhança que tenham. Alguém escreve um texto e, para dar-lhe força, assina com o nome de um autor conhecido. Luis Fernando Verissimo, por exemplo; ou Millôr Fernandes. O texto é mambembe, não tem graça nenhuma, o idioma sofre, mas está lá a assinatura que "dá credibilidade" às besteiras. Desmentidos? Bobagem: há um manifesto supostamente assinado por Franklin Martins, ainda em sua época da Globo, em que critica uma lei (que não existe) e um parlamentar (que teria apresentado o projeto, mas que não o apresentou). Há um poema de Cleide Canton amplamente distribuído como se fosse da autoria de Ruy Barbosa. A internet publica textos atribuídos a autores que não os escreveram, divulga lendas urbanas (se você acordar numa banheira com água gelada etc., etc.), espalha armadilhas para roubar dados (aqui estão nossas fotos no motel, clique aqui) e tem gente que acredita, embora nem tenha ido ao motel. E inventa histórias, como a da demissão do Alexandre Garcia por ter lido noticiário não aprovado pela Rede Globo. O fato de Alexandre Garcia continuar normalmente no ar, apresentando os programas que sempre apresentou, parece não ter a menor importância: importante mesmo é divulgar que "eles" o derrubaram. Arnaldo Jabor, Lúcia Hipólito e Salete Lemos também vivem sendo demitidos, continuam em seus postos, mas a notícia de que foram demitidos "por eles" (sejam "eles" quem forem) não deixa de correr a rede toda. Internet é território livre, onde ainda a lei não predomina. Cabe aos internautas, portanto, verificar se as coisas que estão vendo são dignas de crédito, ou se já foram desmentidas pelos fatos. Mas isso dá trabalho. Mais fácil é acreditar, indignar-se, repassar para tout le monde e son pére. E com os endereços abertos.
A banda larga e o eleitor Uma reportagem mostrou que um empresário, depois de fazer um negócio estranho (comprou por R$ 1,00 a participação numa empresa falida, passando a compartilhar dívidas na casa de milhões de reais), contratou o ex-ministro José Dirceu como consultor e se preparava para receber muito dinheiro na reativação da Telebrás. A imprensa contrária ao governo está batendo duro: embora o referido empresário tenha comprado a participação na empresa uns três anos antes de contratar Dirceu, já teria armado toda uma trama para lucrar seus milhõezinhos. A imprensa favorável ao governo diz que a operação nada tem de irregular, que não há chance alguma de o empresário obter lucros com a Telebrás, com Dirceu ou sem Dirceu. E circulam, de um lado e de outro, textos de leis, contratos, concessões, decisões judiciais. Este colunista não está entendendo nada: afinal de contas, há ou não algo esquisito no negócio? Seria muito difícil um jornal independente buscar um ou dois especialistas no assunto que possam destrinchá-lo? Ou ninguém estará interessado no tema a menos que seja contra ou a favor? Isso, em palavras mais cruas, significa que meios de comunicação independente são coisas do passado.
Balas de verdade O clima de faroeste das guerras da imprensa ainda vai acabar em coisa feia. Um blogueiro, em campanha contra empresários de um jogador que está em litígio com o clube, divulgou não apenas seu endereço como a foto do prédio em que, segundo diz, ele está morando. Perigosíssimo: um torcedor com a cabeça fora do lugar pode perfeitamente usar esse tipo de informação. Em compensação, blogueiros que fazem campanha contra o blogueiro citado divulgaram não apenas a rua para a qual, segundo dizem, ele se mudou, como também a padaria que estaria frequentando e a foto do apartamento que seria o dele. Só faltou dar o número. Mas não é difícil, pelas informações já distribuídas, encontrar o endereço completo. Nos dois casos, brinca-se com o direito à intimidade, ignorando-o; nos dois casos, abre-se para inimigos pessoais a oportunidade de vingar-se de agravos reais, imaginários ou sabe-se lá o quê. . OBS.: O conteúdo completo encontra-se no portal do Observatório da Imprensa.
|
terça-feira, 2 de março de 2010
Toma que o filho é teu
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário