terça-feira, 16 de março de 2010

Símbolo e sociedade

O jogador de futebol, Wagner Love, prestará depoimento à polícia. O motivo? Bem, o citado jogador, da minha seleção flamenguista, por sinal, foi filmado (celular, certamente) na favela (desculpa, comunidade) da Rocinha, em baile funk, escoltado por traficantes.

Em entrevista à mídia brasileira, Wagner Love disse ser normal frequentar a comunidade: “Eu sempre frequentei, sempre fui e não vejo problema nenhum isso. Eu costumo ir a alguns lugares, tenho alguns trabalhos sociais em alguns lugares desses e, por isso, frequento. Tenho afilhado, tenho amigos, então, nunca vou deixar de frequentar minhas origens, minhas raízes.” (O Globo online).

Sinceramente, o que o jogador afirmou é de uma coragem e de uma adesão surpreendentes. Mas porquê digo isso? Vamos lá:

O jogador (maioria no Brasil) nasce dentro das classes mais sócio-economicamente desprovidas e humilhadas dos nossos grotões, “comunidades” ou guetos. O garoto possui amigos dentro das favelas, família, ex-namorada, colega de escola, enfim, uma vida toda. Alguns viram traficantes, outros, trocadores de ônibus, atendentes de lanchonete, dentistas, músicos, professores, jogadores de futebol. Contudo, a realidade maior é: tráfico ou salário mínimo (e a maioria, acreditem, opta pelo salário mínimo). De repente, o garoto que gostava de usar trancinha e ouvia Bob Marley atinge o sucesso futebolístico relâmpago, compra carro importado, roupa de grife, sai com as mulheres tutti fruttis e ganha dinheiro aos montes, montanhas. No entanto, por uma questão que nem eu sei explicar, alguns, ao invés de casar em castelos, com modelos e viver um sonho elitizado, voltam às origens, declaram publicamente que gostam mesmo é de churrasco, cerveja, mulher brasileira e amigos de milênios. Preferem as ruelas da favela da sua infância às boates da zona sul. Isto não é ruim, não, isto é comovente.

Desaprovo um jogador achar normal escolta de traficantes, desaprovo com veemência a ida de um atleta como o Wagner Love aos bailes promovidos (com alguma constância) por traficantes. Mas se ele vai ser interrogado, também quero que seja interrogado o Governador do Estado do Rio de Janeiro, pois, se há traficantes-guarda-costas na favela, é sinal de que não há o Estado dentro da favela. Se há o disparate de traficantes armados nos bailes dos guetos, há a ausência total de qualquer civilização cidadã nos guetos, e isto, minha gente, é culpa de um Estado omisso e de uma sociedade conivente.

Um jogador dentro da favela é um símbolo contra a carreira de traficante, pois ele mostra que é de carne e osso, mostra que é possível sair da miséria pelo trabalho honesto. É isto o que querem matar? Um aviso: símbolos não morrem.

Um comentário:

Flávio Mesquita disse...

Fala aí, Marcelo.
Agora é fato. Criei um blog!
O endereço é este aí:
www.teoriadokhaos.blogspot.com
Agora, poderei copiar sem culpa as suas postagens. Rsss
Um abraço