quarta-feira, 31 de março de 2010

Eles

Ela sempre age como se o mundo fosse acabar daqui a um minuto. Sempre desesperada com o nada, com um copo d’água.

Ele, ao contrário, sempre circula muito na dele, apesar do carisma que emana quase instantaneamente. Sagaz na arte de entreter as pessoas.

Eles combinam ao modo deles. Nada muito pão com manteiga, nada muito lixa com seda. São na medida um do outro. O que falta em um sobra consideravelmente no outro. Assim assado. Sempre.

Ela quis alguma coisa que, para ele, era o fim do mundo (ao modo dele, apesar de ser ela a gostar do copo d’água). Brigaram.

Ele estava saturado com alguma coisa passada e, paradoxalmente, resolveu encarar as ofensas ofendendo também. Aliás, disse logo um “foda-se” de cara.

Eles ficaram nesse termo por muito tempo. Foi aí que ela explodiu e ele se fechou. Tudo voltara ao normal, mas alguma coisa ficara fora do lugar.

Ela diz que ele só quer fazer sexo e que não conversa mais sobre nada.

Ele afirma que nunca faz sexo porque ela está quase sempre com cefaleia.

Eles, enfim, concordam com uma coisa: é o sexo (ou a falta de), apenas ele (ou sua ausência), o responsável por tudo (ou por nada).

Ela foi trabalhar mais cedo do que o de costume.

Ele havia escrito isto para ela:

“Queria sair do presente quase

Ansiava o instante já

Estar dentro, dentro, completo

Salivar, transpirar, pulsar

.

Morrer um pouco naquele agora

Acarinhar o momento depois

Como se nada fosse tudo ou macro

Além do querer de nós dois”

Eles são assim.

4 comentários:

Moacy Cirne disse...

Um ótimo texto, meu caro. Como ótimo é também o texto sobre Armando Nogeuira.

Um abraço.

Jens disse...

O que era doce acabou e o que era vidro se quebrou. Mesmo assim eles continuam - cada qual no seu canto em cada canto uma dor. Infelizmente, não se trata apenas de ficção. Acontece com frequência na vida real.

Abrtaço, Marcelo.

Cris disse...

Eles são maravilhosamente assim.

Beijo, Marcelo.

ASPERATUS disse...

Excelente texto professor!