sábado, 3 de agosto de 2013

Qual era o nome da marca?


Claro que as coisas na Baixada Fluminense não aconteciam como no resto do mundo, tudo demorava uma eternidade para chegar por aqui, inclusive (e principalmente) a música nas casas noturnas e clubes com pista de dança. Portanto, os anos 80 duraram até a metade dos 90, quando aqueles garotos depressivos da chuvosa Seattle com camisa flanelada botaram para foder e mudaram tudo.


Claro também que nada no mundo é como se apresenta nos livros didáticos de História, de Literatura ou Filosofia, a coisa nunca é um isolamento de época onde o Barroco se estende até acabar e dar lugar ao Neoclassicismo, o Romântico ao Realismo e assim por diante. Não, a coisa é Barroca-Neoclássica, Romântico-Realístico, tudo-ao-mesmo-tempo-agora, portanto, os 80 misturavam-se com os 90 e houve muita curtição entre as guitarras do Slash e os teclados do Depache Mode. O Guns e o The Cult estavam lá, entrelaçados por mechas de cabelo e laquê, o Faith no More fantasiado de Cyndi Lauper Muito 70 também nas guitarras do David Gilmour e Pink Floyd, o Genesis e o Phil, o Peter, Os Stones sempre, Hendrix, Beatles forever. Mas a maioria dos que lá estavam eram “oitentistas” espirituais, sem as ombreiras. Ira, Titãs, Legião, Capital, Plebe, Barão, Engenheiros, Paralamas, Biquini e mais trocentas outras internacionais como REM, Cure, Pixies, Talking, Siouxsie, Pretenders, Clash, Bangles, B-52`s, sem contar as coisas bizarras ou legais que não passaram de uma música apenas, um sussurro na esplendorosa e vibrante supernova de exageros, cores e modismos estratosféricos. Enfim, o auge de uma era fadada ao próximo passo: os anos 90 e toda a sua dor, ausência de glamourização, absorção pós-modernista. E Seattle choveu em todos nós como uma ressaca depois de muito pró-seco, muita putaria e muito colar barato feito globo de vidro misturado à luz negra, deixando todos os dentes neons.

Claro novamente que não há a intenção de ser preciso quando se tenta afunilar uma gama de informações. O cenário musical da Baixada não foi apenas isso, mas “isso” também foi o cenário musical da Baixada, num quesito específico que nem abrange todo um estilo musical. A coisa aqui tende a parcialidade, a tendenciosidade sem cerimônias. Senos e Cossenos são em outros blogs, aqui o papo é sobre empirismo, gosto doce nos lábios causado pelo cravo no cigarro, defeitos e chuva (o resumo dela).

Talvez, o mais impressionante é ter gasto toneladas de palavras como prefácio para escrever sobre coisas como: a lembrança de um comercial de marca de roupa surf wear com uma música específica que era transmitida por uma rádio. “A Rádio”.

Sim, ouvia-se o comercial em outras rádios, óbvio, e tinha coisas boas vindo delas. Tinha a Transamérica com programas maravilhosos, show no estúdio, clube da insônia, etc; a Rádio Cidade, que era o lado adolescente do Jornal do Brasil, e mais tarde, para quem gostava de ritmos mais dançantes, a RPC, todas na frequencia FM.

Mas não, não falo delas. Falo daquela rádio mitológica chamada, carinhosamente, de Maldita. A Fluminense.

O comercial era de uma marca que eu não usava, mas juntava coisas bem minhas, pois falava de surfe (que não pratico há séculos depois de todo o álcool, cigarro e 95 quilos socados em 1,70m), com uma música dos Smiths (banda que eu escuto até hoje!) e era anunciada na minha rádio Maldita. Percebo, hoje, que nunca fui muito de me deixar influenciar por comercial, mesmo por esse que tanto me marcou pela música, esporte e divulgação. As marcas de surf wear estavam para os 80 como a manteiga para o pão. Os campeonatos de surfe Alternativa aconteciam na Barra, saquarema despontava, os acampamentos na Macumba e o Pepê era o cara da vez. A Barra formigava.

Eu assinava a Fluir, gostava do Pedro Müler, Jojó de Olivença, Teco Padaratz, Dadá Figueiredo (que tinha uma banda louca chamada Tubarões Voadores) e consumia duas revistas de música: Bizz (bastante razoável até virar Show Bizz e ficar uma merda) e International Magazine (ótima). E meu sonho era ter uma BZ, mas ainda tenho uma Mash 7.7 (surfe de preguiçoso, diziam os parafinas) em perfeito estado que, hoje, serve para eu apoiar a garrafa de cerveja e o copo sempre cheio quando estou dentro da piscina de plástico; minha filha também gosta daquele pedaço de espuma amarelo e cor de abóbora.


E sempre entrava esse comercial com a música Girl Afraid, dos Smiths, e a voz da Moniquinha ao fundo. Monika Venenerabile era uma sensacional locutora e apresentava o programa Classic Rock, sempre às 18 horas, e, vez em quando, ia aos clubes em eventos que tinham patrocínio da Fluminense FM. Foi a Maldita que lançou o Paralamas ao tocar a demo com Vital e sua Moto, tocou Legião, Plebe, a Fluminense tinha público fiel e era essencialmente roqueira, mas também abria espaço para o Reggae de Peter Tosh, Bob, Shabba, tinha um programa semanal para a galera do Rasta. Acabou como acabam todos os empreendimentos mal planejados: esmagada pela concorrência e pela falta de estrutura. Pena. Depois dela não apareceu ninguém. Fez legado. Daqui há 20 anos, quando toda a nossa memória sobre ela for mais ficção prazerosa do que realidade convincente, virará lenda.

E tinha esse comercial com essa música dos Smiths... Qual era a marca de roupa, mesmo?



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