quinta-feira, 1 de agosto de 2013

O álcool, a gordura e o enjoo

Na verdade, nada é tão complexo que não se possa dar um jeito. Questão de boa vontade, de se perguntar se é possível e, se for mais alto que a capacidade, olhar nos olhos do outro e, espada em mãos, decretar: não vai acontecer. Simples. Mas só para quem tiver coragem. E coragem, meus caros, rateia e rareia, a cada dia e com mais força. Praxe é ficar esperando por respostas que nunca vêm, avistar sorrisos covardes e tapinhas nas costas e ser cozinhado em banho-maria. A sinceridade é produto limitado.

Não quer dizer que o mundo seja dos fracos. Não, não é isso. Ao contrário. Sem fortalezas, a máquina não avança e a lâmpada não acende. Não, milhares são esmagados diariamente, oprimidos pela força dos grandes. Não, não é disso que trato. Falo de covardia. E é ela, a covardia, que realiza o massacre dos indefesos, dos pequenos. É a covardia que assola e inunda a muralha. Só se criam fortalezas monetárias para o bel-prazer dos covardes que insistem em se proteger da verdade. São os covardes e os bandidos que controlam o dia e a noite, o céu e o inferno.

Contudo, vez em quando, a quantidade de gordura e o excesso de álcool nos afrontam, enjoam-nos, como uma parede infiltrada e mofada causando-nos alergia. É um incômodo complexo, pois obscuro, empurrado, esquecido. São os vultos e as sombras que nos apedrejam, nos xingam e clamam por algum tipo de verdade. E quando o montante fica impossível de se esconder, alguma coisa nos toca, impaciente nos invade, mistura-pura-de-escândalo. É a voz estridente e justa dos João Hélios, dos Galdinos, dos Amarildos. Identidades unicelulares que montam um coletivo sórdido de Marés, Candelárias, Belford Roxos, Carajás, Vigários. Tempestades de areia, monstros de lama.

E depois de fazermos bastante barulho, nas mídias e nas ruas, fotógrafos sedentos e cobertura vilipendiosa e parcial, discursos sobre segurança, mudança, andança, protestos do jurídico, discursos reticentes e inflamados do legislativo, depois de vir uma balofa condenação e um irrisório cumprimento da aplicação, satisfeitos pelo serviço bem feito, voltamos ao nosso mundinho medíocre de cegos e bonachões, vislumbrados e hipócritas.

E aí, àqueles covardes que mandam, que sorriem e marasmam-nos, voltam a acionar a máquina de sempre e a realizar as atrocidades de sempre, até a quantidade de gordura e álcool nos enjoar outra vez. Pior para todos, mas muito mais para o pobre, vítima, sempre, do poder dos covardes.

Pois aquele enjoo aconteceu e nós vomitamos, milhões de vômitos fizeram transbordar verdades e azedar a careta covarde de muito veículo midiático, mas os pobres continuam desassistidos e ainda há muita porcaria por aí. Visto bem de pertinho, fica quase impossível salvar alguém desse lodo que é a trindade do poder, pois se não faziam, pelos menos deixavam fluir ou, em nome de uma governabilidade, ofereceram um pedaço da torta para muito canalha na casa do povo.


Dizem que tudo começa na urna. Acho que tudo começa-termina lá. O durante é o que se esta fazendo. Também não podemos chamar isso de campanha política?   


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