quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Vamos falar sobre a matemática absoluta do caos

O mundo não brinca de roleta-russa. Na verdade, se se olhar bem, poder-se-á dizer que tudo é baseado na lei da causa e do efeito. Bem, como adentrarei no orifício rugoso do ser humano, deixarei a mesóclise de lado para que a lei física não seja corrompida e tudo fique no mesmo nivelamento.

Todos sabem o que é uma favela, certo? Ah, ta, não existem favelas no Brasil, existem as “comunidades”, um eufemismo barato para dizer que você mora mal pra cacete e, vira e mexe, é acordado com tiros, fogos ou gritos. Enfim, uma “comunidade” só existe porque, lá nos primórdios, o Estado, sem saber o que fazer com aquela “renca” de pobres, retirantes ou não, afastou-os da classe alta, dividindo o Rio de Janeiro com um muro invisível, preconceituoso e miserável. Como todos os acessos (emprego, diversão, escola, etc.) só existiam onde moravam os donos do mundo – e no Rio, quem manda no Rio não quer morar em morro, mas na praia – os “comunitários” resolveram adentrar em áreas próximas ao trabalho, às praças, à escola... Como o asfalto era e é da classe alta, o que sobrou?

Com o passar do tempo, nós, a sociedade, percebemos que aqueles filhos-da-puta, quer dizer, comunitários, sem instrução, proteção, comida ou perspectiva, começaram a incomodar, a ficar visível, e isso era um absurdo! Logo, criamos uma corporação repressora à altura: violenta, odiosa e robótica. Sem essa de “proteger o cidadão”. Cidadão vem de cidade e os metropolitanos não reconhecem os comunitários como “pessoas da cidade”, logo, não são gente. E dá-lhe porrada nos pobres!

Um dia, os repressores perceberam que estavam dando porrada neles próprios (Ora, com esse salário de merda que o repressor ganha, onde vocês acham que eles moram?) e resolveram que não iriam apenas dar porrada, iriam dar porrada e “negociar”.

Enquanto isso, os inocentes morreram, os valores acabaram e a sociedade... Bem, a sociedade descobriu que poderia educar e distribuir melhor o Rio, mas sai muito, mas muito mais barato eleger políticos que adotem o seguinte procedimento: matar bandidos e dar porrada nos pobres.

Portanto, quando você vir outra vez bandidos derrubando helicópteros e incendiando ônibus, ou vir o aparelho repressor da sociedade deixando bandidos fugirem e ficando com o produto do roubo, enquanto o roubado morre, não se assustem! Tudo faz parte da implacabilidade lei da causa e efeito.

2 comentários:

Jens disse...

Pois é, Marcelo, este foi o mundo que os "homens de bem" construíram. Muitos devem estar com saudades da Solução Final do Carlos Lacerda: afogar os pobres no rio Guandu.
***
Êpa, um momentinho... Acabo de saber pela TV (Globo, of course) que a culpa é do Lula, naturalmente. Espero que "os homens de bem" me perdoem.

Um abraço.

Renato Couto disse...

A economia, lá pelos idos de Adam Smith, já nasceu com um grande problema: Como manter os pobres pobres. Pois era admitido que, se os pobres não fossem pobres, como seriam ferramentas honestas para o trabalho diário?

"Para formar a Sociedade Feliz..., é necessário que um grande número de pessoas continue a ser ignorante e pobre", assim escreveu Bernard Mandeville, ainda no século XVIII, em seu "The Fable of the Bees".

De lá pra cá, o que mudou? Como diz o Jens: "Pra cima com a viga!"