...já era noite, trinta e um de dezembro, abraçou uma garrafa Black Label e com ela foi fazer a sua comemoração. Seu primo, outro amante do bom uísque, acompanhou-o nessa empreitada. Dia seguinte, sem saber muito bem o porquê, viu-se nu à beira da uma piscina que não era a sua, alguns cacos de vidro ao seu lado e um pequeno talho no braço esquerdo. Tentou levantar, mas percebeu que tal empreendimento era impossível sem que a cabeça não explodisse. Soltou a única palavra que veio à memória: “puta-que-pariu”. Levantou-se com alguma dificuldade em eternos minutos, o sol já começava a danificar a sua pele morena. Estava ardido, de ressaca e sem consciência do que tinha feito. Outras duas garrafas espalhadas pelo quintal foram os seus obstáculos até a cozinha que, muito suja, exalava um odor de comida estragada e bebida derramada – péssima rima para ele e sua cabeça. Chegou até a sala e, no sofá manchado, sua roupa e o som de música arranhada que repetia o mesmo refrão da mesma música: “Cities in Dust”. Vestiu-se rapidamente, temendo que alguém aparecesse e lhe dissesse a única verdade disponível: ele fizera alguma merda. Olhou a aliança como quem olha para os portais do inferno, sua alma arrependida tremeu junto com o corpo. O que diria? Que desculpas poderia dar? Foi quando, também nua, desceu lentamente sua noiva com as mãos à cabeça numa ressaca absoluta. “Por que você saiu da cama ontem?” Perguntou a mulher com um inchaço no rosto. “Mulher, não sei nem como eu vim parar aqui!”. Ambos contiveram a gargalhada para não terem as cabeças em pedaços. “Eu trouxe você pra cá... Meus tios só chegam semana que vem”. E um suspiro exalou pela aura como quem tira o peso de um crime das costas.
2 comentários:
Vê pq não bebo???
Porra, Marcelo: legal, muito legal. Curto e belíssimo conto. No alvo, na veia.
Golaço, garoto! (permita-me a intimidade abusada). O Nélson, lá no Céu dos Escritores deve ter adorado. O Otto também.
Um abraço.
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