sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

The name of the game

Por Fausto Wolff

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Dizem que o Tio Sam não tem filhos porque é mais fácil mandar para a guerra apenas os sobrinhos, de preferência, pretos, asiáticos, caipiras. Eventualmente, um louco, intelectual ou milionário, pois alguém precisa distribuir e vender a coisa toda. Das tripas de um correspondente de guerra, de um jovem escritor, hoje em dia, pode-se fazer um império que vai da má literatura ao sabão em pó. E essa grana é suficiente para comprar cocaína durante dezenas de anos para as centenas de milhares de sobrinhos do escritor e quem mais estiver na fila da boca.
The name of the game is Mame, ou o nome do jogo é Tifodo. Lembram-se dos soldados jogando roleta russa no Vietnã depois que os americanos fugiram? Tudo bocó enlouquecido.
Todos os pobres são prisioneiros políticos em qualquer nação. Nos USA mais ainda. Meninos viciados são induzidos a se apresentar como voluntários. Soube de mexicanos que se alistaram para que as irmãs pudessem continuar a ser prostitutas nos USA, pois como cidadãs não teriam mais de dar, pelo menos oficialmente, a comissão ao cafifa. Outros são tão desgraçados que não precisam ser induzidos. Vão pela casa, comida e a bala. Ou vocês acham que os soldados brasileiros enviados para o Haiti (promessa antiga, não é seu Silva?) não queriam ficar por lá, onde são tratados como semideuses apenas porque nasceram num país chamado Pelé? Estive em três guerras e vi que a maioria da garotada preferia estar por lá a continuar sendo tratada como cachorros nas ruas das grandes cidades. Nessas horas tem sempre algum patife para dizer: "Mas nas democracias alguém sempre chega lá." E quem te disse, ô bepedeuta, que o mundo existe para que alguém chegue lá? Lá chegaremos todos e espero que o inferno exista para os que lucram com a guerra.
Conheci alguns meninos pobres e talentosos ou simplesmente espertos que mudaram pelo menos metafórica ou semaforicamente de cor ou estão com os corpos tão picados de agulhas que precisam encontrar um lugarzinho de veia que não quebre entre o tarso e o metatarso.
Num mundo que abriu mão da cultura em nome da publicidade, da verdade em função de uma realidade de superfície, da honra em lugar do dinheiro, fica difícil acreditar que ainda exista gente para a qual os americanos estão invadindo o mundo. Tem gente que não entende por que aquela garotada que está há mais tempo no Iraque do que a turma anterior no Vietnã esteja se suicidando. Pelo menos um por semana. Tem gente que não entende que guerra de invasão sem total auxílio interno é suicídio. Hitler só chegou até onde chegou porque era praticamente amado nos países que invadia, pois o povo gosta do vencedor como gosta do Flamengo. E mesmo que os USA ganhem a guerra? O que vão fazer com as ruínas depois que acabarem com as obras de arte mais antigas do mundo? Estarão salvando a Amazônia. Mas até mesmo aqui são capazes de perder, apesar de todos os testas de ferro do Coiso: algumas cabeças de furúnculo dos três poderes e mais imprensa já estão estendendo o tapete sobre os corpos dos índios mortos a bomba, canhão, metralhadora, rifle, pistola, espada, machete, revólver, faca, veneno, álcool, prostituição, ignorância. E logo em seguida aparecem no Fantástico, sempre um gringo à frente do trabalho cultural e educacional das fundações sem fins lucrativos. Experimentem para ver como é romântico ignorar os sanguessugas, os mosquitos e o calor a 45 graus apenas por um ideal, mostrando como um brasileirinho já sabe esrever "Eu love Dick."
Deixem os nossos aborígenes em paz. Dêem um tratamento nos autóctones de vocês. Jamais fizeram nada por ninguém e atrás de si só deixaram crianças podres, famintas, pobres e aleijadas. Enquanto isso, nos Estados Unidos a moda é a autofagia. Recomeçou com Nova Orleans, onde a região mais atingida foram os guetos e onde só moravam brancos pobres e negros um pouco mais pobres. Dia desses nossos governantes entenderão a sugestão e aplicarão o método. Venderão as favelas às transnacionais depois das águas de março.
Ainda não sabemos quem derrubou as torres, ainda não sabemos se Bin Laden existe, mas há alguém mais além para suportar as canalhices do mundo? Trata-se do inca Hugo Chávez e, em escala menor, Evo Morales, os "ditadores" que querem impedir a Venezuela e a Bolívia de serem salvos das drogas e do Fantástico ou Manhattan Conection locais. O Globo voltou a publicar histórias nas quais os comunistas matam camponeses aborígenes como o faziam nos primeiros anos da revolução cubana.
Por que esse desabafo? Porque queria escrever sobre outras coisas além do crime que os office boys do poder, da justiça, da administração, da legislatura cometem contra o povo. Normalmente, esta deveria ser a época do resguardo - entre 15 de novembro e 15 de abril - quanto estão ocupados contando o quanto roubaram no ano anterior. Mas agora tem os filhos, os netos, os sobrinhos, as amante etc enchendo-lhes os sacões: "Como é ? E a minha eleição?"
O Brasil é a prova mais viva nos últimos dois séculos de que é possível impor a ignorância ao povo sem medo de que um dia exploda em seu peito a necessidade do sol da liberdade.

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[ 20/02/2008 ] 02:01
Jornal do Brasil (caderno B)

Um comentário:

Só Magui disse...

Sugiro ao autor deste texto dar um tiro no ouvido.
http://somagui.zip.net