terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

O Sal do Hadock

Eu simplesmente adoro a forma poética que ela tem quando faz prosa. Simplesmente adoro. E ponto final. Encontrei-a recentemente no fantástico Escritoras Suicidas. Recomendo todas. Vale a conferida!
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o sal do hadock

ro druhen

Certa vez Valéria permitiu que Fernanda colasse sua prova de matemática. Quando veio o zero, não se importou, Fernanda ganhara um dez.

Quando seu irmão beijou Fernanda, Valéria não se importou. Seu irmão era um muito dela nos gostos e bem querenças, nas madrugadas no quintal, naquele silêncio de contar estrelas.

E Valéria não se importou quando Fernanda conheceu Daniel. Daniel era amigo de Fred e os quatro passaram muitos finais de semana juntos, no sítio de seus pais, e Valéria jamais se importou com os gemidos de Fernanda, no quarto ao lado.

Quando, em maio, Fernanda casou-se com Daniel, Valéria não se importou e, em dezembro, casou-se com Fred.

Quando compraram casas no mesmo condomínio, quando vieram os filhos, quando fizeram churrascos aos domingos, quando Fred morreu num acidente, Valéria não se importou. Fernanda dormiu em sua cama de viúva e lhe segurou a mão durante toda a noite em que velou o cuidado da amiga, descuidada de sua viuvez.

E naquele jantar de sábado, quando Maria do Sol, filha de Valéria, e Ana Terra, filha de Fernanda, fizeram com que seu amor sentasse à mesa da burguesia emergente da Barra da Tijuca, Valéria chorou. E se importou que suas filhas pudessem viver toda aquela história que ela, Valéria, transformara em apenas uma lágrima salgada, sobre o hadock.

3 comentários:

Fernanda Passos disse...

Belíssimo! A Ro realmente é fantástica. Excelente postagem Marcelo.
Um grande abraço pra vc.

Jens disse...

Porra, a guria é das boas.
Abração, Marcelo.

Loba disse...

Menino, boa noite! Li a página inteira, de tanto que gostei da sua seleção.
Dizem que nossas escolhas tb nos fazem. se assim é, vc é muito bem feito! rs...
beijão