quarta-feira, 25 de julho de 2007

O fim do mundo

O sol estava insuportável, calor imenso e intenso. As folhas quando caíam, caíam simplesmente, sem malabarismos no ar, sem ânsia ou felicidade; desprendiam-se dos galhos e apenas caíam. Os automóveis arrastavam-se com os vidros levantados, as calçadas vazias, as lojas vazias. As crianças dentro da piscina agüentavam com leveza os protestos da mãe sobre o sol escaldante e o perigo da exposição em horário tão impróprio a pele; na casa vizinha, outras crianças, sem o recurso da piscina, tomavam banho de mangueira e se divertiam sem culpa. Sim, somente as crianças tiravam proveito do tempo, do clima. Na cozinha, uma mulher ensopada de suor praguejava diante do fogão calorento e penitenciador. No trabalho, um sujeito tirava a gravata e abria a camisa úmida a fim de respirar melhor. Os ventiladores vomitavam um vento morno, desanimador. Nas torneiras, era preciso esperar um pouco para que a água derramada adquirisse uma temperatura agradável. E o sol estava insuportável, o rosto quase que ardia frente à chuva de fogo. “Sim!, chuva de fogo! Era isso!” Em um escritório refrigerado, um homem de meia idade digitava uma estória sobre o fim do mundo inspirada no próprio clima e na sensação de agonia provocado naquele instante. Digitou mais alguma coisa com relação a pingos de fogo caindo do céu. Parou nesse momento para observar as pessoas lá embaixo. Foi quando notou pontos de fogo no asfalto, na capota dos carros, as pessoas feito baratas tontas – ou formigas desgovernadas se se levar em conta a altura de seu escritório – correndo sem direção, sem rumo, sem esperança. “Meus Deus! Não é possível!” Olhou para o céu e viu a “chuva”, o impossível. Apavorou-se. Não podia ser. Um estalo na cabeça e correu para a frente de seu computador como que movido por um efeito automático e instintivo. Não que ele tivesse sentido o pavor das pessoas, mas porque sabia que aquilo iria o atingir também e ele era o causador daquilo tudo... Mas como? Como poderia ser? Não soube ele, só sabia que precisava mudar a estória bruscamente, destruir a magia, alterar o destino! Mas quando ameaçou recomeçar, o conto sinistro, uma forte luz veio em sua direção, os vidros da janela estouraram. Uma bola de fogo carbonizou-o completamente. Fim.

5 comentários:

Jens disse...

Marcelo:
Clap! Clap! Clap!
Intrigante, sufocante, excelente.

Fernanda Passos disse...

Faço minha as palavras do Jens.
Clap!Clap!Clap!

Beijos.

AB disse...

Lê-se em "staccato", MARCELO. Muito denso. E tenso. Parabéns!!!

Fernanda Passos disse...

Passei pra deixar aquele bj.

Moacy Cirne disse...

Como foi dito, um texto sufocante. E bem escrito, acrescento. Abraços.