sábado, 10 de novembro de 2007

Verdade nada absoluta

Certas situações ou críticas só deveriam ser feitas depois de muito empirismo. Assim como, ontem achava o máximo ter personalidade própria e, hoje, acho tal frase de uma redundância “descerebral”, certas coisas que acreditava serem exatas, hoje, são apenas coisas que passaram e nada acrescentaram (com rima e tudo, mas sem poesia).
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Digo isso por causa de um churrasco, e eu sou fã incondicional de churrasco e cerveja (foda-se se morro enfartado, viver no Rio e ganhar salário quase mínimo é mais prejudicial), uma crítica que fiz e o “tempo-senhor-da-verdade”.
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Aliás, assim como qualquer admirador de Sartre, Jaspers e existencialistas de iguais parâmetros, não acredito em verdades absolutas – o que deve ser um erro aos olhos de Deus, caso o barbudo exista.
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No tal churrasco, um amigo em comum, cunhado do dono da festa, teve o carro roubado quando já entrava na garagem da sua casa. Sua preocupação não era o veículo, mas a filha de cinco anos que estava, ao cinto, no banco de trás. Os diálogos que aconteceram não foram registrados pelo homem, ocupadíssimo em salvar a menina que, a esta altura, já estava com a arma apontada para a cabeça. Quase tomou um tiro pela demora, mas no fim, as coisas saíram a seu favor (se não for ironia escrever isso). No churrasco, meses depois, confessou que, se tivesse a chance, mataria os dois assaltantes – não por terem roubado o carro, mas pelo apontar de uma arma para o rosto da sua menina. Na época, dei uma de sociólogo e cometi a prudência de dizer que a morte não justifica porra nenhuma e que os dois sujeitos eram mais vítimas do que “vitimadores”. Enfim, fiz o certo, fui centrado. A verdade cabível é esta: muitos roubam porque a vida só lhes deu isso de esmola.
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Três anos depois, vejo-me sentado ao chão da sala com minha filhota de um ano e meio falando coisas ainda incompreensíveis a mim, mas fundamentalmente majestosas. Penso no amigo em comum e no revólver apontado para a sua cabeça e a da sua filha. Continuo acreditando nos direitos humanos e na falta de direitos que o pobre (fodido) deste país tem para suportar. Direitos negados pela mídia golpista, por cineastas intelectualóides, governo lambe-saco de imperadores e por aí vai. Contudo, devo admitir: mato o primeiro que fizer mal à minha flor.
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Admito isso aqui para dizer o óbvio ululante e – se Deus quiser – inverídico (paradoxo?): o nosso amor só dura o tempo de uma arma na cabeça de quem amamos.

7 comentários:

Vais disse...

Professor isso dá uma boa reflexão.
Não vou entrar no matar ou não matar, fico pensando sobre as violências e o que seria o mal. A violência não é só física, que hoje é condenada, mas praticada assim mesmo por muitos , ao acreditarem que EDUCAÇÃO e pescoção são sinônimos, mas vejo que estamos com uma violência velada ou explícita que é tida como não violência e é colocada como necessária para a figura ser feliz, vencer na vida, e isso está vindo desde a infância. Em muito, as crianças estão sendo criadas (diferente de educadas) dentro da lógica da competição, do individualismo, fala-se de preservação e de reciclagem, mas misturam todo o lixo..., cara, é uma merda o capitalismo, é destrutivo, é perverso, é destruidor do que o ser humano tem de mais bonito, e as nossas crianças são usadas, usurpardas, o que a televisão brasileira faz hoje com nossas crianças, as usam para venderem seus produtos, é nojento, muitas das escolas, universidades deseducam pessoas, criam seres para servirem o estuprador mercado...
Marcelo, eu fico descompensada
Eu tenho uma obrigação(prazer)com as meninas que botei neste mundo.
beijo grande

Marcelo F. Carvalho disse...

Vais, concordo com tudo o que disse. Acho isso e muito mais. Porém, precisamos incitar esse debate. Aliás, mato mesmo o estuprador que violentar a minha filha, contudo, sou um resistente dos direitos humanos (paradoxo?). Acho que somos (classe média pra cima) fabricantes de bandidos. Mas devo discutir sistema com quem acabou de matar o próximo antes de o encarcerar? Se estou errado, qual solução?
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Sou Petista com carteira e tudo, amiga, mas a esquerda, às vezes, só critica os rumos e não diz qual rua. Por isso o mundo é tão direitista. Enquanto somos teoria, os "outros" são a prática! (infelizmente)...
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Abraço forte! E vamos discutir!

o refúgio disse...

Apesar de ser contra a pena de morte, minha atitude seria a sua, Marcelo. Paradoxo sim. A vida é cheia de paradoxos. Eu sou um paradoxo (também refiro-me aquele poema da regra e da rega).

Beijão.

Anônimo disse...

Curioso, domingo num bar perto de casa, discutíamos justamente isso: se um ente querido próximo sofrer uma violência, como reagir?

Usei aquela velha argumentação: quem deve punir é o Estado. E o Estado precisa ser isento de paixões. Mas quem ainda acredita na imparcialidade e na efícácia do Estado, no caso da segurança pública e em outros mais?

A Vais acima falou sobre educação. É lógico que ela não se referiu à educação formal, feita em instituições específicas. Olha, eu não tenho filhos, mas trabalho com crianças e adolescentes há 13 anos. Digo sem receio: nosso problema com relação à violência não é educacional. Nosso problema é miséria de um lado (grande) da população e riqueza (gigantesca) do outro lado. "Só" isso. E qualquer mudança nesse estado de coisas necessita de ação revolucionária; logo, violenta. Mas quem afinal teria coragem hoje em dia de não ser "centrado" e defender uma revolução? Acredito que se mata por várias razões, por amor ou não, e que sempre é possível justificar um ou vários assassinatos.

Como disse acima, não acredito mais na capacidade de regulação e ordenação da vida social que se deseja do Estado (ainda mais no Brasil); não acredito também na possibilidade de um idílico e irreal pacto social em que os ricos vão abrir mão de parte dos lucros pra ajudar os "menos afortunados" (fodidos, pra usar o termo empregado por você e que define bem). Pra falar a verdade, já não acredito em nada(rs), a não ser, talvez, nalgumas narrativas ficcionais e nalguns poemas, o que me garante a pecha de alienado.

Bom tema debatido por aqui, Marcelo. Um abraço.

AB disse...

MARCELO querido: vou colar minha resposta ao seu comentário no Banalidades:
"Dizem que podemos afirmar que jamais roubaremos ou furtaremos ou ultrapassaremos pela direita, MARCELO.
Mas que é impossível afirmar que jamais mataremos.
E, se o assunto envolve filho, com certeza também mato e danço fado no túmulo do cabra...".
Mudo apenas a palavra túmulo. Na cova do cabra cai melhor.
E aqui, discuto apenas emoção, sem adentrar conceitos tão melhor explanados pela Vais e pelo Halem..(Se quiser "ouvir uma historinha, mande-me um e-mail: acantha.sirte@gmail.com)

Marcelo F. Carvalho disse...

Acantha, este texto provocativo foi pura reflexão daquele que você postou no seu Banalidades. Achei que era um bom tema (e é). Mas pode mandar a história, sim! salutem333@gmail.
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Abraço forte!

Jens disse...

Neste caso, Marcelo, não tenho a mínima dúvida de que teria ímpeto idêntico ao teu. Não vejo como um pai ou uma mãe poderia reagir diferente diante de agressão tão brutal a um filho. A existência do sentimento de vingança, de fazer justiça com as próprias mãos é natural diante destas circunstâncias. Caberia ao Estado dar ums satisfação a tais desejos individuais prendendo e punindo os criminosos. Escrevi "caberia" porque estamos no Brasil, onde isto não acontece. (Como bem sabem os pais da jornalista Sandra Gomide, assassinada pelo jornalista Antonio Pimenta Neves - aliás, se fosse com minha minha filha (tóc,tóc,tóc) este filho da puta não estaria vivo e impune até hoje). Aqui impera a bárbarie. Quem quiser justiça que faça pelas próprias mãos.