O que vale são as formas estáticas e utópicas daquilo que se apresenta como “o certo”? O que vale são as palavras loucas e locomotivas que transcorrem de forma etérea na vida comum? O que vale para o julgamento humano? Quais são as matrizes daquilo que denominamos prudente? O ser humano possui a chave para abrir o seu sentimento mais oculto? O homem entende que o que está escrito e é fundamental por hora pode ser a inutilidade de amanhã? O caminho é tão complicado a ponto de só restar pistas no que já foi escrito ou dissecado? As formas estáticas combinam com a afronta inconfundível do vento, do tempo, do ser? O que está parado não pára porque já foi, existe e existiu, será, é, já era. Escrever é um modo de eternizar a palavra pretendida, prendida, isolada, mas ocorre também o exercício do escrever, encontrar outras palavras e sobrepô-las às frases que viraram passado logo que outras linhas são preenchidas. Exercício paradoxo esse de escrever. Frases indo e vindo como a vida, mostradas e retomadas e esquecidas e afirmadas e negadas, num delicioso arbítrio, uma mutação. Palavras juntas, casadas, formando e dando um outro sentido, tanto para o absoluto quanto para a inutilidade. Espero por algum momento escolher a mais adequada oração, o mais lógico período, mas nem tudo é debruçamento, há o instante do vômito, das letras casando velozmente em milésimos de segundos, brotando do inconsciente e vazando para a tela do computador, do caderno, do bloquinho de anotações. Há o instante do assombramento, do não pensar criativo; há o instante do Eu, que rompe e arromba àquela existência dolorida que vai nascer de qualquer forma, vai tomar corpo, vai virar outra coisa e situar-se no limiar da eternidade. A mística da palavra está por trás dela, esperando pacientemente uma reflexão, o silêncio da leitura. A mística da palavra é um mistério.
5 comentários:
Denso, intenso...Gostei imenso! Parabéns.
Umbeijo.
Olá Professor,
vou te falar porque gosto, principalmente, desses textos que você faz, é que me vem um monte de situaçãoes reais que se assemelham ao que descreve.
Terminei de ler A Caverna, durante muito tempo esse livro me impressionará por todas as situações e relações que o Saramago consegui ali.
abração Marcelo
Obrigado Sandra.
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Vais, Eu também fiquei com A Caverna durante muito tempo. A situação final do livro é de uma liberdade transgrassora e eu vibro até hoje com essa aula que Saramago deu.
Abraço forte!
Sem palavras...como dar forma ao pensamento?
Lindo isso, Marcelo. E rico. E verdadeiro at� o ponto em que pode ser verdade. beijo pra voc�.
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