Tomava um vinho chileno e lia algo sobre Sartre. Sartre sempre o interessou assim como um bom vinho francês ou, no caso de estar desprovido financeiramente, chileno. E estava nesta condição celibatária de vegetação: um vinho e alguém escrevendo sobre o seu maior filósofo. Para falar a verdade, ele não entendia muito de “filosofia normativa” nem sobre o debruçamento acadêmico e a complexa reflexão do ser. Para usar de completa sinceridade, ele não entendia Sartre tão bem assim e nem era um sofisticado apreciador de vinhos. Ignorava completamente a safra, os gostos intrínsecos e a disciplina do paladar. Entendia era de gostar de um bom vinho e de Sartre que, na medida da existência, sempre foi de uma ótima safra. E estava nesse estado de completa felicidade quando algo o interrompeu – um pensamento daqueles que acontecem como um relâmpago e paradoxalmente são tão preguiçosos em cair na sua cabeça. Pulou da cadeira como se houvesse levado uma picada, um tiro de sal grosso; a cadeira virou, a taça de (e com) vinho virou e o jornal só não virou porque voou em delírio quase que para o Éter, mas acabou mesmo é no chão, afirmando a posição de Newton. Um pensamento genuíno, uma idéia daquelas raras e adjetivas! Porém, e como todo “porém” vem “pós” definindo uma situação contrária a anterior, imitando o substantivo trovão, adjetivamente verbalizou na frase: “trovejou um esquecimento raro e de muita simplicidade”. Ele, talvez na euforia de o ter e por praguejar inconscientemente o seu acontecimento em hora tão inapropriada, esqueceu a idéia deslumbrante e incomum. Esqueceu-se da formidável idéia cândida e profunda. Restou a incompreensão e a difícil resposta para o fato. Talvez esses lampejos não fossem para ele e, percebendo o erro, tal idéia saiu a procura do verdadeiro dono.
4 comentários:
"percebendo o erro, tal idéia saiu a procura do verdadeiro dono."
Sacanagem. (Hehehe)
"In vino veritas", MARCELO querido...
Muito legal, Marcelo!
Um beijo.
Gostei da idéia que procura sue origem.
Muito bom.
Bj.
Bom Findi.
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