Vinte e cinco mortos em uma cela... Apenas uma pergunta: Existe correção neste sistema carcerário ou jogamos "humanos indesejados" em um cela para o abate?
Gostaria de ser mais abrangente, mas o grande Meneau já disse tudo no seu blog:
Meneau cita Drummond, eu também. Ele por causa de Chaplin, eu por Martin L. King e porque preciso acreditar.
O Morto de Mênfis
A arma branca
e o alvo prêto
Não cabem
no sonêto.
A mão
que move o fuzil
destrói o til
da canção.
Fica no ar
o som
do verbo matar.
Na varanda, sem côr,
os restos
do amor.
Nos vergéis da justiça
o sol faísca sôbre
carniça.
O ódio e seu ôlho
telescópico
formam um demônio
ubíquo.
Seu nome, Legião.
Não
perdoa a vida.
Onde a vida brota
seu talo verde,
êle vai e corta.
Onde a vida fala
sua esperança,
êle crava a lança,
borda o epitáfio:
Aqui jaz,
desossada, a paz.
Na linha de côr,
na linha de dor,
na linha de horror
da calçada,
a mata é basculante
de banheiro; mais nada.
(Ou janela debruçada
sôbre o carro
Caça ou curra?)
O homem não se reconhece
no semelhante.
O homem anoitece.
O que mais o assusta,
o que mais o ofende
é a luz vasta.
O homem ignora
tudo que já sabe.
E não chora.
Sua intenção
é matar-se na morte
do irmão?
É negar o irmão
e seguir sozinho,
sêco, surdo, torto
espinho?
As artes, os sonhos
dissipam-se no projeto
medonho.
Mas renascem. De lágrimas,
pânico, tortura,
emerge a vida pura,
em sua fraqueza
mais forte que a fôrça,
mais fôrça que a morte.
A raiz do homem
vai tentar de nôvo
o ato de amar.
Vai recomeçar,
Vai continuar.
Continuar.
O morto de Mênfis
continua a amar.
Ninguém mais o pode
matar.
Carlos Drummond de Andrade
8 comentários:
Uma boa postagem. Na medida certa: da indignação à montagem dos versos. Abraços.
Um poema forte.
Ah, Marcelo com relação ao aeu comentário na postagem do zeppelin: o orgulho que eu falo é sobre o fato de Recife ter sido a primeira cidade da América do Sul a receber os dirigíveis. Quanto a eles acho formidáveis, apesar de não terem vingado.
Beijos.
Um por Chaplin, você por M. L. King e eu por acreditar(também) sempre e sempre, mas sobretudo pela própria humanidade. Essa precisa, acreditar.
Humanidade não no sentido de um conceito totalizante, universalizante, mas no sentido de pessoas que convivem e que precisam fazer dessa convivência algo melhor, algo mais justo. Uma humanidade, mais humana.
Lindo Marcelo.
Grande beijo.
Como disse o Cronista, lá no Banalidades, MARCELO, apenas uma notação em alguns blogs.. Que sirvam de epitáfio aos anônimos "ninguém"...
Marcelo, agradeço por me citar aqui no seu blog e, principalmente, por citar Drummond. Como escreveu a Acantha aí em cima, talvez estes versos sejam os únicos epitáfios dessas pessoas. Um abraço.
Marcelo, por vc ter sido o primeiro a postar algo meu a minha consideração por ti é imensa. Assim, resolvi PRESENTEAR vc. Tá lá no POESIA NA VEIA. Passa lá. Vê se aceita. Um beijo grande.
É um tempo de guerra, Marcelo. Os bárbaros estão vencendo.
Que bom que a Fernanda Passos guiou meus passos até aqui. Parabéns!
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