O diretor de cinema M. Night
Shyamalan é muito conhecido por ter feito O
Sexto Sentido, bem recebido por crítica e público, e por me fazer crer que
o tal Bruce Willis, apesar de ter ficado milionário como quase-ator, não possui
o ego que aflige a todos os que chegam ao seu patamar de prestígio e,
surpreendentemente, não se importa de ser trampolim para um garoto brilhar. O Sexto Sentido é um ótimo filme com uma
sempre talentosíssima Toni Collette.
Acredito
que Shyamalan tenha encontrado a receita secreta da obra-prima com o excelente A Vila. Claro, depois de atingir o cume
da montanha, resolveu jogar a receita de bolo fora e confiar no seu próprio
instinto. Nunca mais foi o mesmo. A verdade verdadeira é que, depois de A Vila, só emplaca filmes dignos do
troféu Framboesa. Um desastre, enfim.
Cacete! Virei
um tremendo especialista em cinema? Digo o óbvio ululante: entendo tanto de
cinema quanto de seres humanos, ou seja, porra nenhuma. Mas como não pretendo
ser o blogueiro do filme Contágio
que, bêbado pelo perigoso reconhecimento e oportuno enriquecimento que
consegue, caminha a passos tortos para a irresponsabilidade e, claro, para o
crime, farei aqui e agora esta afirmação: sou um cara que gosta de dar pitaco
nos filmes dos outros, só isso. Assim como todos são meio técnicos de futebol
em Copa do Mundo, eu sou quase um Coppola lisérgico analisando uma obra
cinematográfica.
Dito isso, vou
direto para a obra do Shyamalan que quero compartilhar sem festa, pois não foi
grande e não é excelente: Sinais.
A primeira vez
que vi o filme tive a impressão de ter assistido a uma boa obra. Contudo, as
criticas que saíram, mais as conversas dos meus amigos, deixaram aquele sabor
de que havia sido iludido por mim mesmo. O filme prestava tanto quanto a
atuação do Mel Gibson, logo, merda nenhuma. Mas eu quis insistir e deixei os
meus sentidos (não o sexto!) em alerta máximo. Coloquei uma parede de
desconfiança na sala e liguei o aparelho televisivo.
Saí de lá com
um gosto terrível na boca (e não era nem sêmen e nem a Legião tocando Daniel na Cova dos Leões). Era a
conclusão louca de que, apesar do enredo, do arrastado mal traçado e de Mel
Gibson, a proposta do filme sobre contraste (já flertada, mas sem grande
sucesso em Corpo Fechado), dualidade
e dúvida fora de uma sacada estupenda.
Um camarada
meu, depois de algumas cervejas, disse: “porra, cara, mas os ETs nem apareceram
no filme direito!” De fato, o trabalho fora absurdamente mal vendido por aqui.
Apesar dos ETs anunciados, o filme não era sobre isso. Sinais, como o próprio nome revela no longa, é sobre fé e a perda
da fé devido aos caminhos traçados pela vida, pelo acaso ou, como quer o filme,
pelo processo matemático que é a ligação de todos com tudo no mundo e acima
dele. A interligação entre a bronquite do filho, a esquisitice da filha em
relação à água e o taco de beisebol do irmão é o prenúncio do que, mais tarde,
será retratado de forma espalhafatosa (e sem a beleza do simples e do cru) por
James Cameron e a sua árvore-mãe em Avatar
(nome sugestivo, inclusive); ligação, essa, que se estende até na morte da
esposa, claro, e a sua famosa revelação, já partida ao meio – que tanto
aniquilará a fé do jovem religioso quanto será o mote para a explosão de sinais
deixados por Shyamalan.
No longa, Mel Gibson interpreta o jovem Graham
Hess, pai de Morgan e Bo (ótimos) e pastor episcopal que perde a sua fé depois
da morte da esposa (mais pelo que ela fala ao morrer e sobre como ele
interpreta e conclui o fato, do ponto de vista científico, do que unicamente
pela morte como personagem central) e, agora, ao lado do irmão mais novo
(ex-jogador de beisebol), vive, apenas, da plantação de milho em sua fazenda,
localizada no interior dos Estados Unidos da América, na Pensilvânia, longe do
mar. Após uma série de sinais aparecerem pelas fazendas do mundo inteiro, uma
invasão alienígena acontece. Mas, como disse meu camarada, não espere ver muito
disso no filme. Espere, sim, uma boa atuação do Joaquim Phoenix e de cenas
hilariantes como as tocas feitas de folha alumínio para, supostamente, impedir que
os “marcianos” leiam as suas mentes.
Os sinais,
contudo, não são, como Shyamalan nos faz pensar a princípio, os desenhos nos
campos que servirão de mapa, localização para as demais naves extraterrestres,
mas os inúmeros eventos que, juntos, formarão uma coisa apenas; a ligação de
todos nós, não com o Uno, mas tornando-nos Uno. Aliás, é bem típico do diretor
nos guiar até um lugar para nos desviar do foco principal e do fechamento do
filme.
No final fiquei
com uma nota 6,5 para o filme, pois não é excelente, mas recomendo; vale uma
assistida pelo belo exercício de conflito interior que o Sr. Shyamalan
desenvolveu. Pena ter sido o Gibson interpretando este pai quase cínico e
profundamente desacreditado dele mesmo. Um ator mais talentoso faria uma
diferença grande.
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