quinta-feira, 23 de maio de 2013

Sinais

O diretor de cinema M. Night Shyamalan é muito conhecido por ter feito O Sexto Sentido, bem recebido por crítica e público, e por me fazer crer que o tal Bruce Willis, apesar de ter ficado milionário como quase-ator, não possui o ego que aflige a todos os que chegam ao seu patamar de prestígio e, surpreendentemente, não se importa de ser trampolim para um garoto brilhar. O Sexto Sentido é um ótimo filme com uma sempre talentosíssima Toni Collette.
                Acredito que Shyamalan tenha encontrado a receita secreta da obra-prima com o excelente A Vila. Claro, depois de atingir o cume da montanha, resolveu jogar a receita de bolo fora e confiar no seu próprio instinto. Nunca mais foi o mesmo. A verdade verdadeira é que, depois de A Vila, só emplaca filmes dignos do troféu Framboesa. Um desastre, enfim.
Cacete! Virei um tremendo especialista em cinema? Digo o óbvio ululante: entendo tanto de cinema quanto de seres humanos, ou seja, porra nenhuma. Mas como não pretendo ser o blogueiro do filme Contágio que, bêbado pelo perigoso reconhecimento e oportuno enriquecimento que consegue, caminha a passos tortos para a irresponsabilidade e, claro, para o crime, farei aqui e agora esta afirmação: sou um cara que gosta de dar pitaco nos filmes dos outros, só isso. Assim como todos são meio técnicos de futebol em Copa do Mundo, eu sou quase um Coppola lisérgico analisando uma obra cinematográfica.
Dito isso, vou direto para a obra do Shyamalan que quero compartilhar sem festa, pois não foi grande e não é excelente: Sinais.
A primeira vez que vi o filme tive a impressão de ter assistido a uma boa obra. Contudo, as criticas que saíram, mais as conversas dos meus amigos, deixaram aquele sabor de que havia sido iludido por mim mesmo. O filme prestava tanto quanto a atuação do Mel Gibson, logo, merda nenhuma. Mas eu quis insistir e deixei os meus sentidos (não o sexto!) em alerta máximo. Coloquei uma parede de desconfiança na sala e liguei o aparelho televisivo.
Saí de lá com um gosto terrível na boca (e não era nem sêmen e nem a Legião tocando Daniel na Cova dos Leões). Era a conclusão louca de que, apesar do enredo, do arrastado mal traçado e de Mel Gibson, a proposta do filme sobre contraste (já flertada, mas sem grande sucesso em Corpo Fechado), dualidade e dúvida fora de uma sacada estupenda.
Um camarada meu, depois de algumas cervejas, disse: “porra, cara, mas os ETs nem apareceram no filme direito!” De fato, o trabalho fora absurdamente mal vendido por aqui. Apesar dos ETs anunciados, o filme não era sobre isso. Sinais, como o próprio nome revela no longa, é sobre fé e a perda da fé devido aos caminhos traçados pela vida, pelo acaso ou, como quer o filme, pelo processo matemático que é a ligação de todos com tudo no mundo e acima dele. A interligação entre a bronquite do filho, a esquisitice da filha em relação à água e o taco de beisebol do irmão é o prenúncio do que, mais tarde, será retratado de forma espalhafatosa (e sem a beleza do simples e do cru) por James Cameron e a sua árvore-mãe em Avatar (nome sugestivo, inclusive); ligação, essa, que se estende até na morte da esposa, claro, e a sua famosa revelação, já partida ao meio – que tanto aniquilará a fé do jovem religioso quanto será o mote para a explosão de sinais deixados por Shyamalan.
 No longa, Mel Gibson interpreta o jovem Graham Hess, pai de Morgan e Bo (ótimos) e pastor episcopal que perde a sua fé depois da morte da esposa (mais pelo que ela fala ao morrer e sobre como ele interpreta e conclui o fato, do ponto de vista científico, do que unicamente pela morte como personagem central) e, agora, ao lado do irmão mais novo (ex-jogador de beisebol), vive, apenas, da plantação de milho em sua fazenda, localizada no interior dos Estados Unidos da América, na Pensilvânia, longe do mar. Após uma série de sinais aparecerem pelas fazendas do mundo inteiro, uma invasão alienígena acontece. Mas, como disse meu camarada, não espere ver muito disso no filme. Espere, sim, uma boa atuação do Joaquim Phoenix e de cenas hilariantes como as tocas feitas de folha alumínio para, supostamente, impedir que os “marcianos” leiam as suas mentes.
Os sinais, contudo, não são, como Shyamalan nos faz pensar a princípio, os desenhos nos campos que servirão de mapa, localização para as demais naves extraterrestres, mas os inúmeros eventos que, juntos, formarão uma coisa apenas; a ligação de todos nós, não com o Uno, mas tornando-nos Uno. Aliás, é bem típico do diretor nos guiar até um lugar para nos desviar do foco principal e do fechamento do filme.
No final fiquei com uma nota 6,5 para o filme, pois não é excelente, mas recomendo; vale uma assistida pelo belo exercício de conflito interior que o Sr. Shyamalan desenvolveu. Pena ter sido o Gibson interpretando este pai quase cínico e profundamente desacreditado dele mesmo. Um ator mais talentoso faria uma diferença grande.


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