quinta-feira, 16 de maio de 2013

Camisas do Che: direita ou esquerda?



                Não, eu nunca tive uma camisa do Che Guevara, nem coloco nas prateleiras mais baixas, ao alcance das mãos, o livro do Marx. Não sou dado ao socialismo e muito menos ao capitalismo. Aliás, depois de ler o (ótimo) livro A História da Riqueza do Homem, do Leo Huberman, acredito muito pouco em qualquer coisa construída pelo homem ou por deus; para mim, ambos são ébrios dentro da tacanha intelectualidade humana. E sobre a camisa do velho Che, a questão é justamente essa: ela serve aos dois propósitos para o bem e para o mal.
                Usá-la, como muitos que conheço, como reconhecimento do enorme revolucionário que foi e do imenso humanista em que se transformou é de uma legitimidade tremenda. Para ele, dialogar com a direita e com o poder vigente da época era exercer um monólogo tendo um muro à frente, logo, a revolução era o único processo libertário. Para se ter uma visualização do que foi o Sr. Guevara, e os seus pensamentos, recomendo 02 (mas na verdade são 03) bons filmes sobre ele: Diário de Motocicleta, do Walter Salles, abordando a construção do homem revolucionário, e (pasmem!) um filme americano (dividido em 02) do Steven Soderbergh chamado Che, com ótima atuação de Benicio Del Toro, ator-produtor do filme.
                Contudo, a camisa, hoje, estampa não só uma ideia, mas um produto, uma marca. No mundo capitalista que absorve e suga tudo, como um buraco negro, até o anti-capitalismo vira varejo, assim como as camisas pretas dos roqueiros que as compram como símbolo da negação consumidora e, na verdade, estão apenas consumindo a outra ponta capitalista: comprar coisas para negar o capitalismo também é capitalismo.
                E vemos milhares de camisas com aquela foto histórica do nosso Che, tirada por Alberto Diaz, exibindo-se descaradamente em grifes que ele, certamente, acusaria de estar lucrando ouro e pagando cocô na origem da sua feitura em países que exploram o trabalho escravo e infantil. Camisas do Che que custaram 30 centavos para serem confeccionadas e são vendidas por 30, 40 dólares naquelas lojas com vendedores insuportáveis que falam de chapéu Panamá sem saber da missa-metade.
                Mas seria a solução certa parar a compra das camisas do Che? Seria ousado e desafiador concluir este texto tacanho com este ápice e uma fajuta catarse contra o sistema?
                Eu digo que não. As camisas do Che precisam ser compradas, mesmo com o perigo da banalização.
                Algumas correntes querem que você tenha vergonha de usar a foto do Che porque o objetivo é fadá-lo ao marketing e extirpá-lo do conceito de revolução. Ao expor e saturar a imagem, separamos a foto da “pureza intelectual esquerdista” e da sua “virgindade”. Ao colocar a foto na posição da vergonha mercadológica (tipo: “você usa para provar algo que não é“ ou “você é incoerente comprando algo sobre alguém que não aceitaria virar produto”), matamos o conceito, o ideal. O objetivo dos críticos direitistas é esse: se eu não tenho heróis, vocês também não os podem ter.
                Nós temos. E mostrá-los e saturá-los é bem melhor do que não os mostrar e esquecê-los.
                Portanto, use a sua camisa. Por que não se pode mudar a sociedade a partir de dentro? Por que não podemos nos vestir de capital e, junto a eles, fazer o social? E, olha, não se envergonhe da maravilhosa história do Che ou da sua mensagem: 
"[...] devemos trabalhar todos os dias. Trabalhar no sentido interno de aperfeiçoamento, de aumento dos conhecimentos, de aumento da compreensão do mundo que nos cerca. Inquirir, averiguar, e conhecer bem o porquê das coisas e colocar-se sempre os grandes problemas da humanidade como problemas próprios."



Um comentário:

vai se lascar disse...

Che Guevara foi um assassino.