Por Marcelo Salles, 24.01.2010
A semana passada nos mostrou que o fascismo continua em alta no Rio de Janeiro. Parece até que virou moda. O cineasta e o ator se divertem com expressões do tipo “vou terminar o roteiro no caveirão” e “se eu contar mais sobre o filme vou pro saco”, enquanto um diretor da associação de cabos e soldados espalha cartazes ao estilo faroeste, em que oferece cinco mil reais para quem lhe trouxer o assassino de um policial – estando ele vivo ou morto.
Não cabe mais a cineasta e ator dizerem que não houve intenção, desculpa amplamente utilizada quando, à época do lançamento do primeiro filme, foram confrontados por jornalistas, escritores, antropólogos, advogados e professores preocupados com o golpe desferido contra a democracia.
Assim como não vale a pena aceitar o cinismo do diretor da associação policial, que garantiu que não estava incitando o assassinato de ninguém. “Apenas para o caso de esse indivíduo já estar morto”, disse, esquecendo-se que, se assim fosse, a autoridade competente para receber o corpo é o Instituto Médico Legal, e não a associação de cabos e soldados.
Brincar com tortura em público é, no mínimo, irresponsabilidade. No caso, irresponsabilidade que conduz ao fascismo. Assim como pedir a cabeça de quem quer que seja é inaceitável numa sociedade que se pretende civilizada.
O assassinato dos policiais deve ser condenado, evidentemente. São servidores públicos que perderam a vida trabalhando para o bem coletivo. Agora, esse fato não pode, em nenhuma hipótese, servir como ode ao fascismo. Melhor seria se cineasta, ator e diretor empreendessem uma campanha nacional pela valorização profissional do policial e contra a política de extermínio do governador Sérgio Cabral, esta legitimada e incensada pelas corporações de mídia. Política essa responsável, em grande medida, pela escalada da violência no Rio de Janeiro – contra o cidadão comum e contra o profissional da segurança.
4 comentários:
Sao mais "avessos dos avessos" nesse mundinho velho de cada dia.
Abrax
RF
Pois é, Marcelo, se agimos como os bárbaros, somos o quê?
Reistir é preciso.
Um abraço.
Oi, professor Marcelo,
Nenhuma violência tem justificativa concordo com você. Agora, cineastas visam principalmente o impacto. Eles querem "causar"...e faturar.
beijo.
Às vezes penso que as pessoas não conseguem nunca ficar na coluna do meio e tentar entender os outros lados com alguma crítica. Tá ficando difícil viver nesse mundo.
Beijo pra você.
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