quarta-feira, 14 de outubro de 2009

da memória

Dona Maria tem 77 anos e já não consegue reter quase nada na memória: faz a mesma pergunta diversas vezes; não toma banho porque pensa que já tomou ou toma vários porque esquece que já tomou; adora sorvete mas não lembra que saboreou um há minutos atrás. Raquel, sua filha, a leva para passear de vez em quando mas ao voltar Dona Maria já nem se lembra que saíra de casa. Raquel se questiona sobre o sentido de levá-la para passear :


- De que vale uma manhã de lazer se ela não consegue lembrar depois? A vida tem sentido sem lembranças?

Naquela manhã de primavera Raquel levara sua mãe ao parque, pensou nela apreciando o viço das plantas e o colorido das flores. Aquela manhã Dona Maria já esquecera mas à tardinha cantava uma canção enquanto regava suas plantas na varanda. Raquel a observou comovida e sorriu: pensou que de alguma forma Dona Maria registrara o passeio, se não na memória, em seu corpo, na memória dos sentidos.

www.dimensaosalvadora.blogspot.com

12 comentários:

AB disse...

Amo a Sandra, minha irmã internética, Marcelo. Poeta doce, poeta amarga, poeta encanto!

Jens disse...

"A vida tem sentido sem lembranças?" Brrr, esta foi direto no coração. Por sorte, existe a memória dos sentidos.
No mais, é a Sandrix que aprendemos a amar: lúcida, poética, transbordando ternura.

Um abraço.

analuiza disse...

Olá, navegando encontrei a ternura das flores e do ocaso da vida. Belo os passeios. Paz e amor.

Fernando Palma disse...

"De que vale uma manhã de lazer se ela não consegue lembrar depois?"

Isso me toca muito. De verdade.

É um dos maiores medos que temos: o de não lembrar, ou pior: não ser lembrado.

Passando para dar um oi.

Fernando Palma
http://fernandopalma.blogspot.com

Marcelo F. Carvalho disse...

Acantha, também acho a Sandra uma explosão criativa.
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Jens, essa frase também me pegou, fora essa: "Dona Maria registrara o passeio, se não na memória, em seu corpo, na memória dos sentidos".
Putz, vai escrever bem assim na China!
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Analuiza, linda presença a sua, obrigado por vir.
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Fernando, quanto tempo, menino! Já tinha desistido de acessar o seu blogue... Grata surpresa saber que voltaste a postar novamente!

o refúgio disse...

Marcelo, querido, dia desses estava comentando com o outro Marcelo (Pirata) sobre o seu talento e sensibilidade pra escrever mas que você pouco publica seus textos delicados e poéticos. Sei que a vida muitas vezes não nos dá trégua mas faça um esforço, se possível, você tem fãs que muito te estimam e admiram, viu?
Grata pela publicação do texto.
Beijos

Cris disse...

Oi, Marcelo,

Ee texto da Sandra já tinha feito um estraga aquí no peito. Ela é sensível demais. Parabéns pela publicação.

Beijo.

Marcelo F. Carvalho disse...

Sandra, eu tento, mas a falta de tempo é constante. Obrigado pelas palavras!
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Cris, Sandra faz desconstruções-reconstruções em nós.

AB disse...

E por onde você anda, Marcelo?

vais disse...

Olá Professor,
A Sandrinha foi muito sensível, fiquei arrepiada com esta
"Dona Maria registrara o passeio, se não na memória, em seu corpo, na memória dos sentidos".
Você um pescador de bom gosto
Em super tempo, sua filhota Clarice, moço que fofa, fofura, criança é o que há de melhor.
beijo prati Professor Marcelo
inté mais

vais disse...

Ô Professor,
o 'foi', não foi bem usado.
A Sandrinha é uma Dona Moça altamente sensível e linda.
beijo

Marcelo F. Carvalho disse...

Acantha, eu volto! hehehe...
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Vais! Grande Vais! Obrigado pelas palavras. Como diz o Capitão Pirata: "minha casa, sua casa".