O sol batia no gramado através do
enorme luar acima da goiabeira. Parecia coisa de fotógrafo de filme
hollywoodiano colocando filtro especial para que o dia parecesse noite. E ela
estava totalmente inacreditável naquele vestido de gabardine tomara-que-caia
sobre a grama, braços jogados acima do corpo e um semblante de satisfação
excepcionalmente erótico. Os cabelos despojados, a pele aveludada que, sob o
luar, refletia-o como as lâminas que o sol produz na água toda vez que ele
atravessava a ponte Rio-Niteroi.
O sol batia no gramado e ela era
toda luz quando disse que havia conseguido aquele apartamento tão sonhado,
mobiliado, lavrado, escriturado. Ela disse de forma tão orgânica e vital que ele
não percebeu o sangue se dissipar do rosto, tornando-o gelatinoso. Estremeceu
diante da pergunta que inevitavelmente teria que fazer e fez: “mas como?” E
ela, elevando as pernas em estado trigonal, deixando visível a sua calcinha
branca e os pequenos pelos dourados da coxa, encarou o homem a sua frente e com
apenas um fio de sorriso à la Mona Lisa vomitou de forma surpreeendentemente
simples: “Ora, meu amor, você não se lembra daquele velho empresário?”
O sol batia no gramado e o fogo
que, dentro dela, reluzia, nele era como o inferno que consome. Ele queria
chorar e correr enquanto houvesse sol. Queria gritar ao mundo sobre o quanto
ele era puro e honesto e, ela, uma vagabunda sem compaixão, uma rameira que não
tinha respeito por nada e nem por ela mesma. Uma meretriz que se vende de forma
nojenta e perniciosa.
Por dias ele ficou vagando pelas
ruas do Rio de Janeiro, sem precisão ou muita vontade de se barbear. Uns diziam
que ele era um tolo, outros, que ele estava certo. Ele não dizia nada. E assim
ficou por um tempo.
Um dia, quando ele assistia a
Flamengo e Vasco pela TV aberta, ela entrou toda de seda e, sabendo a reação da
seda em corpo diabolicamente perfeito e magnético, deixou-o cair pelo chão
frio. Ele deixou o copo cair. Ela disse: “comprei aquele carro que sempre achei
bonito”.
Ele, agora, mora no apartamento
dela e, sempre que podem, atravessam a Ponte sentido Cabo Frio.
O velho comprou colchão d’água
semana passada.
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