terça-feira, 31 de maio de 2011

A quem interessa o juro?


Chega de hipocrisia! Quando volta e meia, surge na mídia (sinhá-mídia, como gosta o Pirata - cadê você?) um novo trailer sobre o filme: Inflação, o retorno – uma penca de economistas (às vezes nem o são) de plantão televisivo (adiciona-se aí a Sra. Leitão) e políticos hidrofóbicos ululam favoráveis ao aumento da taxa de juros, como única e salvadora forma de conter a sanha consumista. Será (a única) verdade?

Quem me lê, já desconfia que não.

Primeiro, vamos entender como funciona o mecanismo do aumento e redução dos juros.

O juro não aumenta ao bel prazer do governo. O juro é determinado pelo mercado, visto que podemos traduzi-lo como o “preço do dinheiro”, ou seja, só existe juro se existir empréstimo, assim, o juro é o “aluguel” do dinheiro, dado pelo poupador ao tomador, intermediado pelos bancos. O problema (ou solução, dependendo do ponto de vista), é que o poupador recebe 1%, o tomador paga 10% e o banco fica com a diferença de 9%, a qual chama singelamente de spread.

Seja no Brasil ou qualquer lugar do mundo, a taxa de juros média, dependerá se existem mais poupadores ou tomadores no mercado.

Vamos ao nosso caso: No Brasil, existem mais tomadores, sendo o Governo um grande cliente, assim, quando ouvimos na televisão sobre SELIC, a mesma não é determinada pelo Governo, o mesmo apenas aponta o quanto (de juro) está sendo praticado no mercado interbancário. E o que é este mercado interbancário? Diariamente, os bancos são obrigados (pelo BACEN) a fechar suas posições zeradas (para frear a alavancagem), assim, uns emprestam aos outros todo santo dia. Tudo bem, a coisa é mais complexa, mas isso aqui é um post e não uma aula de economia...

Segundo, quem ganha e quem perde com o juro alto? Se a taxa de juros é um mau negócio para a maioria que vive da produção (empresários e trabalhadores), por outro lado, ela é um excelente negócio para aqueles que vivem da especulação. O aumento da taxa de juros se traduz em transferir riquezas dos que produzem para os que atuam nos mercados financeiros.

Esta defesa do aumento da taxa de juros, se a mesma acaba não se realizando (nos percentuais que a especulação sonha), acaba ao menos, dando para realizar alguns trocados, seja numa arbitragem de câmbio ou movimento de bolsa de valores, após uma notícia especulativa ou diria até mesmo terrorista.

Qual seria o estágio final de uma expansão (a qual o aumento do juro tentaria frear)? Uma retração! Nada é mais certo, que ao fim de um período de expansão, haverá uma contração na economia, sempre foi assim, não?

Quase concluindo com as palavras de Keynes em TGEJM (p.250): “(...) a elevação da taxa de juros como antídoto para a situação (...) pertence à categoria dos remédios que curam a doença matando o paciente.”

Desta forma, se o perigo é o pico, ou o boom, deve-se tentar manter a economia (a produção, o consumo e tudo que orbita na mesma) numa situação de “quasi-boom” (p.249). Sei que seu carro pode chegar a 200km/h, mas se basta 120km/h para concluir a viagem, por que fundir o motor? Ou como diriam alguns banqueiros na crise mexicana de 95: “Não é a velocidade que mata, mas sim a freada brusca.”

Mas como não aumentar o juro, se como dito, ele obedece à lei da oferta e procura (uma lei tão poderosa quanto à gravidade) e o Governo talvez seja o maior responsável pelo lado da procura? Quase que austriacamente (ave Hayek e Von Mises!) seria óbvio recomendar contenção nos gastos deste e equilibrar suas receitas com suas despesas. Mas aí, quem seria o indutor do multiplicador de trabalho (ave Keynes!), responsável por nosso irrefutável crescimento e inexorável competência em enfrentar a última das crises financeiras mundiais?

Não existe resposta simples. Por fim, o post era apenas para expor a quem (muito) interessa o aumento dos juros...

Um comentário:

docerachel disse...

Eu sempre me assusto com tudo isso.