quinta-feira, 11 de junho de 2009

O Pós-Humano

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Era o vazio.
Esse sentimento oco e desgraçado da perda. O cigarro consumido em doses cavalares, a dor, a dor insuportável porque massiva, desavergonhada, mesquinha. Foda-se o bom mocismo de dizer que quem ama quer o bem, quer deixar livre. Conversa fiada. O homem é tosco, bruto, egoísta. Nós queremos a prisão, a posse, o coito no escuro, a trepada fundamental.
Era o vazio.
As horas dentro da penitenciária, o desbotar da cor, a rosa de Hiroshima, o vento morno trazendo más notícias, a dor, dor insuportável... E o mundo pulsando, e as pessoas alegres dentro das vidas melancólicas e entorpecidas de nada. Que ódio das pessoas felizes! Que ódio da gargalhada na esquina!
Era o vazio.
A necessidade da televisão ligada para ter com quem conversar, o café sobre a mesa, o jornal com notícias de ontem, planejada, editada, diagramada, distorcida. Mas não se pode demonstrar tamanho transtorno, é preciso maquiar esse erro humano, botar uma roupa bonita, a sociedade não te deixa ser humano.
Era, agora(?), o vá...
Vai com deus, filha-da-puta, que eu vou pras outras! Tudo mentira. Ele queria era ter uma família de novo, queria trabalhar descansado, queria fazer um churrasco com os amigos e as esposas, queria o limite do pêndulo. Mas é preciso não dizer isso, é preciso ser sufocado, carimbado e ser alcoólatra.
É o Tudo.
E o tudo, diferente do vazio, não é reflexivo. Não há espaço para a humanidade. E o mundo continua a pulsar.

Um comentário:

Jens disse...

Dolorido, Marcelo.