sexta-feira, 30 de maio de 2008

Professor Halem

Este excelente artigo foi publicado, no dia 26 de abril, no blogue do Professor Halem Souza (Quelemém) e, dias depois, no site do velho Lobo Fausto (O Lobo). Publico-o por dois motivos: é um artigo maravilhoso e porque o professor parece ter se cansado da blogosfera ou coisa parecida (algo inaceitável!). Pessoas como o professor Halem são figuras raríssimas e o prazer da sua escrita há muito deixou de ser apreciado apenas pelos mais próximos amigos. Portanto, não é bom ficar sem ler o vulgo Quelemém. Cura essa ressaca e volta rápido!
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Saiu na Folha de S. Paulo, semana passada (23 abr. 2008, p. C1, caderno Cotidiano): "Juiz solta hackers, mas exige que leiam clássicos da literatura". Três sujeitos presos na operação Colossus, da Polícia Federal (que investigava suspeitos de roubar senhas bancárias pela Internet, em 2007) receberam liberdade provisória, após cumprirem nove meses de detenção.
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O juiz que proferiu a sentença, entre outras exigências, estabeleceu que os réus façam relatórios manuscritos, com dez laudas no mínimo, a cada três meses, sobre obras de literatura. As duas primeiras são A hora e vez de Augusto Matraga, novela que integra Sagarana, de João Guimarães Rosa e Vidas Secas, de Graciliano Ramos.
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Em entrevista à repórter da Folha, o juiz disse querer sair da "mesmice" das decisões judiciais e acrescentou:
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"Eles vão ter que ler os livros e apresentar o relatório manuscrito, não pode ser datilografado. Já os alertei que conheço todos os sites que fazem trabalhos escolares, é muito fácil comparar os textos. Também não quero uma letra muito grande para pular página e vou fazer as perguntas sobre os personagens dos livros."
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Não sei por que, mas a medida me lembrou as famigeradas fichas de leitura, ainda presentes nas escolas e adotadas por muitos professores, infelizmente. Essas fichas incluem perguntas sobre a obra lida - geralmente, de forma obrigatória - e são condenadas pela maioria dos especialistas em leitura e literatura por serem uma das mais ineficientes maneiras de incentivar o ato de ler entre os estudantes.
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Lembrou-me também algumas imagens freqüentemente associadas à leitura. Disputando espaço com visões altamente positivas, existem outras que identificam, no ato de ler, algo incompatível com a vida comum contemporânea, coisa de cdf, de nerd. Ou de louco. Ou de desocupado. E, pelo visto, agora também como coisa de criminoso.
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Na próxima postagem, falo de um poema, cujo tema violento e incômodo (o estupro) me deixa intranqüilo e me faz pensar bastante.
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Um comentário:

Vais disse...

Olá Professor,
Muito bem publicado.
O Halem bem podia lagar de lado o desânimo.
Ó, eu dando pitacos.
Beijo