quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Onde Bebel brilhou

Depois de deitar meus olhos sobre este texto que o Zuenir Ventura produziu e que está em O GLobo (03/10 - Opinião - Pág.7) , devo admitir que algo subiu pela garganta e desceu sem vontade, arranhando, azedo. Incrível a capacidade do Senado brasileiro de piorar as coisas. Cabe a nós, cidadãos, varrer a sujeira de uma vez por todas. E a vassoura, todo mundo conhece, se chama voto.
Vamos ao Zuenir:
Onde Bebel brilhou
O Senado parece incansável no esforço de piorar sua imagem junto à opinião pública. Pois se não bastasse tudo o que Renan Calheiros e sua tropa de elite vêm fazendo nesse sentido, eis que a casa onde Bebel brilhou na semana passada aprontou mais uma. Diante de um minucioso relatório denunciando trabalho escravo na Fazenda Pagrisa, no Pará, enviou ao local uma comissão de cinco senadores, que quase três meses depois do ocorrido não encontrou nada de anormal, claro, e encerrou a visita desqualificando as denúncias dos auditores-fiscais. A operação do Ministério do Trabalho resgatara mais de mil trabalhadores submetidos a degradantes condições de vida, análogas à escravidão.
Em 18 volumes de cinco mil páginas, o documento relata histórias como a de 45 operários cujo pagamento em dois meses seguidos foi de 0,00 de salário líquido. Em lugares com capacidade para 30 trabalhadores, estavam alojados 50. "Havia um esgoto a céu aberto que era despejado na represa utilizada pelos empregados para tomar banho e lavar roupa", diz outro trecho, acrescentando que a própria empresa admitiu que "o ambulatório médico registrou 38 casos de sintomas de diarréia que poderiam estar relacionados à alimentação". Quanto aos remédios, o relatório apurou que um medicamento que custava R$ 13 em Marabá era vendido na fazenda por R$ 23,20.
Os proprietários da fazenda reclamaram de excesso por parte dos fiscais e negaram maus-tratos a seus trabalhadores, como se esperava que fizessem. Estavam no papel deles. Estranha foi a atitude do Senado, a começar por ter escolhido, entre 520 ações que estão em curso, justamente essa da Pagrisa, só ela. O monistro Carlos Lupi ficou surpreso e não entendeu como e por que a empresa conseguiu "tantos apoios". Como partiu com um certo atraso, a comissão formada pelos senadores Flexa Ribeiro (PSDB - PA), Kátia Abreu (DEM - TO), Cícero Lucena (PSDB - PB), Romeu Tuma (DEM - SP) e Jarbas Vasconcelos (PMDB - PE) encontrou lá não mais os abusos denunciados, mas os "excessos" dos fiscais.
Um detalhe dá a medida do grau de independência dos enviados: Flexa Ribeiro, líder do grupo, viajou em avião da empresa que devia ser investigada. "Os empresários apenas viabilizaram minha ida ao local", justificou-se candidamente. E se indignou com a repercussão que o caso teve. "A polêmica denigre (sic) a imagem do Pará e do Brasil." Do Pará e do Brasil, não sei. Mas a do Senado certamente que sim. Não por acaso, 73% dos internautas que acabam de ser ouvidos numa pesquisa se manifestaram favoráveis ao seu fim. Na visão dos votantes, não importa que os (poucos) justos também paguem pelos (muitos) pecadores. O que eles querem é varrer a instituição da face do país. Trata-se de uma proposta muito radical. Basta varrer por dentro.
(Zuenir Ventura)

3 comentários:

AB disse...

Vergonha profunda me acomete, MARCELO.. Mas, concordo com você, plenamente: não deixarei de usar a vassoura!!

Jens disse...

Marcelo:
Reparaste no partido dos senadores? - todos bravos defensores da ética e da moral. Estou aguardando, sentado, a manifestação de outras vestais, mais especificamente o Pedro Simon, o Jefferson Peres e a estridente deputada Luciana Genro.
Vassoura? Acho pouco. Pra limpar aquela pocilga só com esfregão de aço, acompanhando de baldes e baldes de criolina.
Um abraço.

Marcelo F. Carvalho disse...

Acantha, é da nossa união que espera o mundo... Quem sabe?
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Jens, sou a favor da bomba lá dentro. Nada de fazer testes atômicos em ilhas distantes, vamos fazer lá! Hehehe
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Abraço forte!