terça-feira, 9 de outubro de 2007

O valerioduto é mineiro ou tucano?

O Ombudsman da Folha de S. Paulo, Mário Magalhães, escreveu no domingo, 07/10, algo que preocupa as mentes partidárias ou com um mínimo de consciência democrática: até onde uma notícia pode tender para um lado e prejudicar outro, mesmo que tal fato viole o manual da redação que prega uma suposta "imparcialidade"? Existe imparcialidade nos grandes jornais? Aliás, existe essa tal de imparcialidade em algum lugar?
Vamos à coluna:
O valerioduto é mineiro ou tucano?

A RIGOR, é mineiro e é tucano.Mas a resposta depende de outra pergunta: o mensalão é nacional ou petista? Sem dúvida, é tanto nacional como petista.O que não pode é o mensalão ser nacional e, o valerioduto, tucano. Ou o valerioduto ser mineiro e, o mensalão, petista.Não se trata de joguete de adjetivos, mas do exercício de um dos pilares do projeto editorial da Folha, o apartidarismo.Foi o que faltou à Primeira Página do domingo passado, quando a manchete - "Valerioduto de MG pagou juiz eleitoral, afirma PF"- sintetizou uma boa reportagem.Na chamada, o texto curto que resume as informações das páginas internas, a expressão "mensalão do PT" contrastou com "valerioduto mineiro".Quem lê "mensalão petista" recebe uma informação correta: o esquema ilícito de pagamento a políticos de vários Estados e outros associados ao governo federal foi tocado a partir de 2003 por dirigentes do PT e próceres da administração -é a opinião do procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza, nomeado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.Já quem lê "valerioduto mineiro" se informa pela metade: o desvio de verbas públicas que alimentaram em 1998 a campanha de reeleição ao governo de Minas do hoje senador Eduardo Azeredo se concentrou no PSDB -conforme inquérito da Polícia Federal.Portanto, se o mensalão é do PT, o valerioduto é do PSDB. Sem equivalência de critério, empregam-se dois pesos e duas medidas -os petistas aparecem mal, e os tucanos são poupados.O esquema de repasses por meio de empresas do publicitário Marcos Valério de Souza conheceu seu ápice no primeiro mandato de Lula. Depois se soube de sua gênese na gestão estadual de Azeredo.O mensalão nacional favoreceu muitos partidos, mas seu núcleo foi petista. Se o valerioduto mineiro beneficiou legendas diversas, desenvolveu-se em torno do tucanato.Um exemplo de jornalismo crítico e equilibrado foi publicado pela própria Folha, também no último domingo: a reportagem que comparou o mensalão com o valerioduto.Uma contribuição inspirada ao debate sobre a cobertura é o artigo que o ombudsman do IG (e ex da Folha), Mario Vitor Santos, veiculou em seu blog, ancorado no portal.
Mário Magalhães é o ombudsman da Folha desde 5 de abril de 2007

4 comentários:

AB disse...

Ai, MARCELO.. Não acredito que possa existir imparcialidade em qualquer lugar, querido. Seria muito parcial..

Ro Druhens disse...

e o soneto, hein? que lindo!!! mudei de endereço devido uma confusão com a senha e login do anterior, qdo quiser visitar é agora: http://ro-druhens.blogspot.com
um beijo

Jens disse...

Porra, Marcelo, coisas como essas que me deixam p... A grande imprensa do país acanalhou-se por completo (Carta Capital é nanica). Por isto deixei de ler estas merdas. Prefiro gastar a grana tomando uma barrouda no Naval.
Um abraço.

Fernanda Passos disse...

Concordo com Acantha Marcelo, não existe jornalismo imparcial, na medida em que todos somos morais(ou temos princípios que nos norteiam).Sendo assim, imparcialidade não cabe nas condutas humanas. O mito da neutralidade é um engodo. Análise crítica existe, mas crítica pra que lado? Eis a questão. Tanto os conservadores, quanto os progressistas podem analisar criticamente os fatos, mas sempre tendo como referência suas ideologias. O que seria a "análise crítica"? Ora, problematizar uma situação ou fato com bases teóricas. Penso que esse esclarecimento sustenta minha argumentação.

É isso.
Abraço amigo.