segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Paulo

Este é um pedaço do artigo que Gerald Thomas escreveu hoje, 15/10, na Folha de S. Paulo, Ilustrada (E4). Singela homanagem ao ator Paulo Autran... Digo, ao imenso ator, que esses não têm nome, não, são como faróis a guiar nosso humilde barco.
Ator erudito

Ele era um ator e não um representador. Era um intérprete, alguém que vive em todas as épocas, especialmente no futuro e vê tudo no passado. Paulo é, ainda no presente, um educador, um erudito como poucos nesta classe teatral. Ao contrário de tantos que andam por aí, com ele as conversas podiam perambular entre as razões da Primeira e da Segunda Guerra Mundial, os filósofos gregos, a queda do Império Romano, a divisão da China pós-Revolução Cultural de Mao... E seu registro de voz era estranhíssimo. Fora da língua portuguesa, digo, brasileira. Ele falava exatamente no mesmo registro ("pitch") que Laurence Olivier. E, assim como uma criança, tinha a curiosidade de olhar para o céu e observar estrelas. Mas no teatro transformava as estrelas em refletores e nos devolvia a luz de uma lâmpada que batia em sua pupila e nos fisgava, não importa em que ponto ou fundura do palco ele se encontrava. Truques de grandes mestres, já que carisma não se explica. Ele olhava a imensidão do universo com a mesma intensidade que o urdimento do teatro. Essa vivência é muito difícil de explicar. Mas Paulo será muito difícil de explicar porque, mesmo enfermo, ele não parava de ir ao teatro, de querer enxergar novos talentos, de querer estar no palco por eles, ou melhor, através deles. O ator morre todos os dias, no momento em que se veste de personagem. Morre de novo quando o personagem morre ou quando a cortina fecha ou quando o público o aplaude ou na solidão do seu camarim. Quem morreu na última sexta foi uma grandiosa criança chamada Paulo Autran, cujo legado não nos deixará nunca. Quem sabe ele está estudando um novo método qualquer pra poder nos surpreender novamente. Vai com Deus, meu querido. Fique em paz!

GERALD THOMAS é autor e diretor de teatro

3 comentários:

o refúgio disse...

Salve Paulo Autran! E vida longa ao seu blogue, Marcelo. Um beijo.

Jens disse...

Que descanse em paz. Os deuses o saúdam.

AB disse...

O país perdeu seu maior artista, MARCELO..