sexta-feira, 20 de abril de 2007

Não abortemos a discussão!

Quando um dia perguntaram sobre o que achávamos da venda de armas, a maioria votou "sim", concordávamos com a venda de armas. Devo admitir aqui que votei pela não proibição e ouvi muitos discursos acalorados sobre como pessoas como eu são ignorantes, violentas (por sermos ignorantes), enfim, descobri que o Governo, ao contrário do que se falou, não havia gasto o seu dinheiro à toa, descobri que valia a pena jogar ao povo tal "sim/não" opinativo; talvez o errado estivesse na simplicidade dada ao tema e na exclusão de temas até mais profundos que esse, mas que nunca são jogados à sociedade, vivem às escondidas, no porão das decisões opacas do Governo. Votei pela permissão porque, apesar de não possuir arma de fogo e ser totalmente contra o seu manuseio por pessoas "comuns", civis (como eu), sou a favor do meu próximo e preciso, enquanto seu "próximo", confiar na sua decisão, no seu senso de escolha e na liberdade que a Constituição lhe dá para decidir o que é melhor para a sua segurança e para a segurança dos seus. Tal escolha pode inevitavelmente resultar em um cataclismo? Sim. Ao achar que a defesa parte ou se resume em ter uma arma de fogo, tal pessoa pode estar colocando gravemente a própria vida em perigo, ou a minha, se por uma ironia do destino eu cruzar o seu caminho em hora e lugar errado, mas esse é o preço de vivermos (o não-controle da morte) e de sermos (talvez) livres. Votei porque acho que o meu vizinho e todo homem são merece o direito da escolha, por mais absurda que seja, e porque espero respeito e compreensão quando chegar a minha vez. Isto é democracia. Englobar a todos, inclusive àqueles que nela (a democracia) não acreditam. Todo este recheio de palavras é apenas para dizer o quanto me parece justo a atitude do ministro da Saúde, José Gomes Temporão, ao convidar toda a sociedade para uma reflexão sobre o aborto. Aí está um tema que precisa ser discutido, refletido e decidido pelo voto popular. Em um país democrático faz-se absolutamente necessário chamarmos a todos para a inclusão, independente da religião ou da falta dela. Os que acham pecado, os que não acreditam em pecado, os que acham criminoso, os que não acreditam na negatividade moral, enfim, os que são ou não a favor. Vamos fazer a roda agora, celebrar a lucidez de um ministro (será o único?) e devolver às mãos da sociedade o que escapou-nos por pura preguiça ou medo de opinar. Aliás, jamais descartei a possibilidade de ter votado como um ignorante em todas as eleições e plebiscito. Mas, cá entre nós, não somos todos?

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