sábado, 16 de maio de 2009

No Amazonas, sobrinha do vice-governador faz valer a lei da selva na sala de aula

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Na faculdade de jornalismo da Universidade Federal do Amazonas, numa classe do primeiro ano, o professor Gilson Monteiro estava dando uma aula quando foi falar de política. Comentou que a CPI da Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, que foi encerrada na Câmara dos Deputados em 2004, estava prestes a indiciar o vice-governador Omar Aziz (PMN-AM) quando houve a intervenção de um senador influente no estado: Arthur Virgílio (PSDB-AM). O pedido também teve o apoio da então deputada Celcita Pinheiro, mais tarde denunciada por envolvimento com a máfia dos Sanguessugas.
O professor informou aos alunos que Virgílio pedira para tirar o nome de Aziz da lista de recomendações para indiciamento.
Monteiro não disse absolutamente nenhuma mentira, como se pode ver nesta notícia publicada na época pela Agência Câmara. Ou nesta ata de 8.jun.2004, quando a deputada Maria do Rosário apresentou um requerimento visando "apurar a responsabilidade penal do Sr. Omar Aziz, Vice-Governador do Estado do Amazonas, pela obstrução, dos trabalhos desta Comissão Parlamentar de Inquérito, na oportunidade da Audiência Pública realizada na cidade de Manaus, em 24 de maio de 2004". Ou nesta ata de 7.jul.2004, quando Virgílio efetivamente solicitou a exclusão do nome de Aziz.
Como se pode ver pelos documentos, o professor Monteiro não estava mentindo. Aziz seria incluído no relatório final da CPI, embora eu não saiba sob que acusações, mas teve seu nome retirado por iniciativa do senador Arthur Virgílio. Monteiro só não contava com o elemento surpresa.
Uma aluna se levanta, indignada. Segundo a Folha, era Samara Abdel Aziz, 17 anos. Omar Aziz, o vice-governador, é seu tio. Ela sai da sala para fazer um telefonema. Mais tarde, ela escreveria no Orkut: "respeito é bom e mantém os dentes no lugar". Certamente ficou orgulhosa do que aconteceu depois.
Em meia hora, dois irmãos do vice-governador estavam na sala de aula. Um deles era o pai da aluna. Os dois derrubaram o professor, cobriram-no de socos e pontapés. Ao final, um deles, Amin Aziz, fez uma ameaça bastante grave. Nas palavras de Gilson Monteiro:
Pelo gesto de Amin Aziz, irmão do vice-governador do Estado do Amazonas, Omar Aziz, ao final da brutal agressão que sofri na frente dos meus alunos, no final da tarde ontem, estou marcado para morrer. Após me aplicar três socos e dois chutes, o cara apontou o dedo e simulou o gesto de puxar o gatilho de uma arma. Pela forma como me olhou, Aziz, teria descarregado completamente a arma em mim. Aliás, o ar era de imensa satisfação. Isso em pleno auditório Rio Negro, do Instituto de Ciências Humanas e Letras (ICHL), da Universidade Federal do Amazonas (Ufam). É o fim do mundo não se poder, em uma aula, citar um exemplo de fato que foi noticiado nacionalmente, como ilustração da interferência política no jornalismo. Mais absurdo ainda é um sujeito invadir uma universidade pública federal e agredir um professor em pleno exercício da sua atividade profissional. Certamente o indivíduo acredita na impunidade total por ser irmão do vice-governador do Estado. Só espero que a Polícia Militar (do Governador) garanta minha integridade física e dos meus filhos. Caso sofra algum atentado daqui para a frente não tenho dúvidas de que, se não foi a mando, foi um ato do meu agressor, irmão do vice-governador do Estado.
Na terça, o vice-governador deu uma entrevista coletiva. Disse que não se responsabilizava pela pisada de bola dos irmãos, mas também prometeu processar o professor por ter afirmado que ele teve seu nome retirado do relatório da CPI por influência política.
Amin Aziz, que apontou um revólver de dedos para a cabeça do professor, pede desculpas pela exaltação, mas continua culpando o professor por ter falado em corda na frente da sobrinha de um enforcado.
"Eu discordo da atitude de um professor de formar uma opinião dentro de uma universidade. Ele é pago para ensinar. Tenho a certeza de que foi proposital. Eu não acredito que um professor não saiba quem são os alunos. Ele usou de má-fé", disse ele à Folha.
No ano passado, houve outra celeuma envolvendo o mesmo político, o mesmo assunto e outros personagens truculentos. No caso, militantes que ameaçaram estudantes por perguntar se Aziz havia sido indiciado pela CPI da Pedofilia.
E você, o que acha do assunto?
Eu, pessoalmente, acho que um professor tem que ter o direito de falar o que quiser, se for pertinente e não for mentira. Numa faculdade de jornalismo, deixar de discutir assuntos políticos relevantes na vida do estado é um tiro no pé. Entendo a irritação pessoal da menina, porque afinal se trata do tio dela. Mas isso não é jeito de começar a entrar no jornalismo. Bola murcha pra você, Samara. Tem outros jeitos bem menos selvagens de enfrentar uma questão incômoda.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Precisamos de humanidade?

Do que precisamos?
A pergunta cretina e complexa pode ser defendida em botecos miseráveis nos grotões da Baixada Fluminense ou na grande palestra, paga com dinheiro público, de um formidável pensador em voga, ou de graça, por um trôpego desgraçado com voz broqueada. Independente do grau de complexidade ou imbecilidade que daremos, a resposta pode ser dividida “n” vezes ao quadrado.
Do que precisamos?
Se eu fosse banqueiro, a resposta inevitável seria: controle.
O homem, aos olhos dos donos do poder, precisa da liberdade difundida por países ditos “democratas”. Países assim não existem de fato, mas que liberdade há, no mundo, de fato? Liberdade e democracia são ilusões apresentadas para que o sistema escravocrata funcione melhor, como uma “matrix” inversa, funcionando enquanto estamos acordados. Os donos do poder precisam que acreditemos nas conquistas apresentadas e nas ameaças inventadas. Se não tivéssemos medo do terrorismo(?), se não tivéssemos medo de Deus(?), se não tivéssemos medo da queda capitalista (ou a socialista desumana), se não tivéssemos medo do nosso próximo... O mundo seria ditado por Eles?
Do que precisamos?
Se eu fosse político, a resposta inevitável seria: ignorância.
O homem, aos olhos dos políticos contemporâneos, é um perigo real, uma bomba que precisa se perder no abismo da ignorância. Dá para imaginar um povo exigindo, dos seus governantes, melhores condições de trabalho, de lazer, de saúde, de educação, de segurança? Dá para imaginar um povo vivendo sempre inconformado com o Governo, sempre a exigir reformas, direções, rumos? Quantos dos deputados, senadores, vereadores, que hoje estão no poder, estariam gozando de tal mandato com um povo culto e saudável? Quantos destes políticos estão a serviço dos Donos do Poder, controlando o povo com as concessões públicas de TV dadas a eles mesmos? Quantos controlam (corrompem ou compram) os jornais, rádios, portais que servem a uma determinada elite?
Do que precisamos?
Estou com esta pergunta na cabeça depois de assistir a Zeitgeist, dois “supostos” documentários sobre o caos do mundo ser controlado pelos donos do poder de forma matemática. Confesso que, apesar da mensagem tendenciosa e utópica na solução, sinto-me inclinado a dizer que muito do que vi vem ao encontro do que penso há tempos. Tenho quase certeza de que estamos no meio de um grande circo onde leões, palhaços e platéia são, na verdade, a raça humana. Contemplamos a nós mesmos e, ainda assim, nos destruímos sob aplausos. É conferir e atestar (ou contestar).

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Hoje eu estou "postado" no excelente blogue Palimpnóia. Gostaria de dizer que estar entre a trupe que o escreve é emocionante, mas vocês precisam dar um pulo lá para entenderem a grande honra que é ter um texto seu publicado por eles.
Visitem-no e, como diz o nosso capitão Pirata, que seu olhos sejam atendidos!


sábado, 2 de maio de 2009


De gripe suína eu entendo tanto quanto entendo de avião: NADA! Contudo, as piadas do excelente blogue Kibe Loco deixam a pulga atrás da minha orelha, porque eu também não acredito no estardalhaço que estão fazendo em torno de uma gripe que matou quantos ao redor do planeta? 300 pessoas? Gente, qualquer gripe pobre, dessas que pegamos todos os dias em qualquer lugar de qualquer cidade mata nesta proporção. Aliás, a Dengue, aqui do Rio de Janeiro, fez muito mais vítimas só ano passado. Então, dignos repórteres e especialistas de plantão: parem de encher o meu saco! Assim como já disse o Felipe, do blogue Primum scribere deinde, philosophari, eu também acho que tem merda vindo por aí... Enfim.

sábado, 25 de abril de 2009

Há luz?

Está na revista Veja (8 de abril de 2009), pág. 61: “Foi tão divertido! O lugar é tão relaxante, tão calmo e bonito.” A frase em questão foi vomitada pela mais recente Miss Universo, a venezuelana Dayana Mendoza, e refere-se à prisão americana em Guantánamo.

            Até onde pode chegar a “brutalidade intelectual” das pessoas é um enigma, contudo, desde que existente no mais remoto cu-do-mundo, ninguém se importa, mas quando uma aberração assim é lançada do limbo da mediocridade direto para os holofotes perversos (e igualmente medíocres) da mídia, a coisa muda drasticamente de figura. Muda porque invade os nossos lares e faz-nos pensar (ou não): este será o legado da futura geração (meus filhos!)?

            A Miss Universo, ou seja lá o que isso queira dizer, não me interessa, mas preocupa-me os imensos exemplos de cabeças de camarão que andam por aí ganhando muito dinheiro sem profissão alguma, sem um talento que possa justificar tamanha exposição e influenciando milhares de jovens “barbies” sem qualquer ponto de referência. Profissão: famoso.

            Nós, adultos há algum tempo, com nossas ideologias, partidos políticos e crenças, crescemos com coisas palpáveis e inerentes à inteligência, tanto na música quanto na política, havia uma estrela consistente: Artur da Távola, Chico Buarque, Renato Russo, Darcy Ribeiro, Brizola, M. Gabriela, Veríssimo, Fausto Wolff, Barbosa Lima Sobrinho, Zuenir, Roberto D’Ávila, Alberto Dines, Fritz Utzeri, etc. Podemos discordar do partido, dos artistas, do show busines, mas podemos dizer que falta(va) cérebro nestas pessoas? E hoje, o que há?

            Você já foi bagunceiro na escola? Eu era extremamente bagunceiro, mas isso ultrapassava os limites do respeito ao próximo, ao educador ou à instituição? Pois é. Isto não é problema social, problemas sócio-econômicos, escravização, mídia golpista, humilhação, neste país, sempre existiram, no entanto, degradação generalizada e ausência de referências é a primeira vez.

            Há luz no fim da merda? Não a vejo. Mas, por favor, contradigam-me! Ou reflitam sobre o Haiti ser aqui.

            

sábado, 18 de abril de 2009

Educação de sucata: objetivo do Eduardo

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O projeto de Lei nº 2/2009, do prefeito Eduardo Paes, que repassa para ONGs a responsabilidade de gerir os recursos, equipamentos, prédios e pessoal da administração pública, já está na Câmara de Vereadores para ser votado. Para o Sepe e demais entidades do funcionalismo municipal a aprovação do projeto é a privatização pura e simples do serviço público municipal, que poderá piorar a já grave situação da educação pública na cidade do Rio de Janeiro.
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Entenda melhor o que significa o projeto:
1) O secretário chefe da Casa Civil, Pedro Paulo Carvalho, afirmou em entrevista à Rádio CBN, no dia 07/4, que o governo não sabe o que vai acontecer com os servidores que trabalham nos setores da administração municipal que serão repassados para a gestão das Organizações Sociais. Também não explicou como serão escolhidas as organizações, dizendo apenas que elas terão que prestar contas trimestrais, através de relatório de avaliação e metas a cumprir.
2) O projeto vem ao encontro da política pedagógica que a secretária de Educação, Cláudia Costin, vem implementado na rede municipal e que se baseia no programa já utilizado pelo governo do estado de São Paulo: criação de gratificações a partir da produtividade e dos resultados das escolas. A rede estadual já conhece bem tal programa, já que o governo Garotinho, desde o final do seu primeiro ano de mandato introduziu sob a forma do Programa Nova Escola e que até hoje gera controvérsias e rejeição na categoria.
3) O projeto de Eduardo Paes só vem confirma o descaso com a valorização do ensino público municipal e para com a autonomia pedagógica das escolas. Ao invés de reajustar os salários (muitas rede de municípios com arrecadações menores que a do Rio tem piso superior ao da rede municipal) quer promover a entrega das escolas públicas para organizações do setor privado.
4) As avaliações dos alunos promovidas este ano pela SME comprovam o compromisso da atual gestão para com entidades educacionais do setor privado, como a Fundação Ayrton Senna e a Fundação Roberto Marinho. As provas, elaboradas a toque de caixa por tais entidades – sem que a SME revelasse o valor de tais convênios - continham erros grosseiros de conteúdo, que foram denunciados pela categoria e pelo Sepe na Imprensa. Que melhoria da qualidade do ensino é esta, senhora secretária?
5) A autonomia pedagógica é um dos pilares para a garantia da escola pública com bases democráticas e que assegure o repasse do conhecimento para os alunos, possibilitando que estes possam ingressar como atores do seu próprio destino na sociedade contemporânea.
6) O sistema de bônus, idealizado pela SME ataca um dos pilares básicos do plano de carreira da educação municipal proposto pelo Sepe e pela categoria e até hoje não implementado: a progressão por tempo de serviço e de formação. Na rede estadual do Rio, o Programa Nova Escola, que também tomava por base a gratificação a partir da avaliação individual das escolas, promoveu a quebra da paridade entre profissionais da ativa e, também para os profissionais aposentados. Os ativos, tem gratificações diferenciadas (e milhares ainda estão de fora das gratificações). Os aposentados, também ficaram de fora e recebem menos que os profissionais que recebem o Nova Escola.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Professor Halem




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"Condenado ao verso

como um fiscal da lida

impeço que a vida passe

como se pudesse não ser percebida."

Elisa Lucinda, em Poeminha dos olhos

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O poeta Geraldo Carneiro, a respeito de Elisa Lucinda, escreveu que ela é uma "espécie de Adélia Prado com sexo, drogas e rock'n'roll".

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De fato, entre as duas escritoras há pontos de contato, ainda que uma delas crie seus versos na sua pacata casa em Divinópolis, e a outra o faça, na maioria das vezes, no Rio de Janeiro. Adélia Prado, ao falar das comadres que se visitam e das brincadeiras e encontros nos quintais, quer que esse cotidiano, aparentemente simples, mostre-se ao leitor de outro modo que só se torna visível graças à iluminação da poesia. Elisa Lucinda* às vezes faz o mesmo, mas agora dentro do ritmo agitado de uma metrópole superpovoada. Sinal dessa proximidade pode ser encontrado no poema Entre Vista (ou aquilo que ainda não me perguntaram), em que encontramos este verso:

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"- que não gosto de ler Adélia Prado porque alguém em mim fica doido para copiá-la e eu, por isso, imediatamente o desprezo".

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Num outro poema (Termos da nova dramática), Lucinda pede: "Parem de falar mal da rotina" e defende os "óbvios de estimação" para arrematar:

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"O enredo

a gente sempre todo dia tece

o destino aí, acontece

o bem e o mal

tudo depende de mim

sujeito determinado da oração principal"

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E o que se tece no dia a dia dessa poeta? No poema Tinha uma rima no meio da moqueca, ao falar de seus vários "eus", ela escreve que "mistura as cuecas do filho/ às ' Flores do Mal ' de Baudelaire." Em Cortando Cebola, ela assim se vê:

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"Eu que era artista sem dinheiro, aquela

E o talento esburrando como leite

esquecido exagerado de fervido

Eu era o amigo de meu próprio peito

que estava quase abandonado a causa

Minha alma picadinha junto ao coentro

esquartejava meu anjo de guarda

como quem desossa uma galinha

sozinha, chorando sobre a solidão das vasilhas

tão melhor do que a minha"

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Essa poesia "despojada", sem pose, é saudável, numa época em que ou se tem publicado versos talhados com marreta, sem nenhuma cadência e ritmo, ou cheios de "estilismo" e vanguardice, incompreensíveis, chatos ou simplesmente pueris, que afastam e entediam os leitores.

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* Os poemas citados nesta postagem estão nos livros O semelhante e Euteamo e suas estreias, ambos publicados pela Editora Record.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Quatro anos da maior Chacina do Rio

Relembre o caso.

Por: Raphael Bittencourt e Dione Barbosa

Jornal ComCausa - Cultura de Direitos

No dia 30 de março de 2005, noite de quarta-feira, policiais decapitaram duas pessoas e atiraram a cabeça de uma delas para dentro do 15º Batalhão da Polícia Militar em Duque de Caxias. As cenas foram registradas pelo sistema de segurança de uma escola ao lado do Batalhão.


A ação seria uma resposta ao comando da polícia pela “operação Navalha na Carne”, que colocou sob detenção mais de uma centena de policiais e levou vários outros a prisão por desvio de conduta.

Na noite seguinte, 31 de março, policiais iniciaram uma seqüência de mortes em Nova Iguaçu e terminaram em Queimados. O resultado foi 29 mortos, sendo, oito crianças.

Foi a maior chacina do Rio, chocou o Brasil e ganhou o noticiário internacional.

Na tarde de 31 de março de 2005, segundo investigações, por volta das 04 horas, os policiais Marcos Siqueira Costa, José Augusto Moreira Felipe, Carlos Jorge Carvalho, Júlio César Amaral de Paula passaram horas bebendo no bar Aza Branca, na Rua Dom Valmor, no centro de Nova Iguaçu. Na frente do bar um gol prata estava parado com as portas abertas. Junto com eles estava Fabiano Gonçalves Lopes, que teria saído do local pouco depois das 20 horas, quando o grupo entrou no carro e seguiu até o acesso da Via Dutra – sentido São Paulo - no bairro Esplanada.

Rafael da Silva Couto e o seu amigo William Pereira dos Santos foram as primeiras vítimas. Os rapazes foram assassinados quando voltavam de bicicleta do trabalho para casa, às 20h35 no acesso para o bairro da Posse.

Os assassinos seguiram pela Rua Gonçalves Dias e entraram na Avenida São Paulo, onde mataram mais duas pessoas por volta de 20h40: Luiz Carlos da Silva; e José Carlos de Oliveira, que passava pelo local no momento em que os tiros foram disparados.

Retornaram à via Dutra, cruzaram o viaduto da Posse e, pouco antes das 20h50, assassinaram Alessandro Vieira.

Entraram em uma rua transversal que dá acesso à Rua Gama onde, na altura da Escola de Samba Flor do Iguaçu - no bar Caíque - por volta das 21h balearam dez pessoas, matando nove. No local foi alvejada a comerciante Elizabeth Soares Oliveira; o adolescente e deficiente auditivo Felipe Carlos Soares de Oliveira; Bruno da Silva Souza; o biscateiro Jonas de Lima Silva; o funcionário público Robson Albino; Manoel Domingos Lima Pereira; Jaílton Vieira - que era vizinho ao bar e tinha ido pagar uma dívida de R$ 2,00; o segurança José Augusto Pereira da Silva e o senhor Maurício - cunhado de Caíque, dono do bar; Douglas Brasil de Paula, estudante, que trabalhava em uma padaria da localidade para ajudar a família; e Kênia Modesto Dias esposa de Caíque. Douglas e Kênia chegaram a ser socorridos, mas morreram no hospital.

Perto das 21h15, os assassinos passaram pelo centro comercial do bairro Cerâmica e na Rua Geni Saraiva, mataram mais duas pessoas: Leonardo da Silva Moreira, que havia ido encontrar-se com a namorada no portão de casa, e o padeiro César de Souza Penha de 30 anos.

Voltaram para a Via Dutra e seguiram até o município de Queimados.

As 21h15, na Rua Vereador Marinho Hermetério Oliveira, em frente à Mania Lava Jato, foram mortos o dono do estabelecimento Luís Jorge Barbosa Rodrigues; Wagner Oliveira da Silva; Márcio Joaquim Martins e o estudante e ladrilheiro Fábio Vasconcelos.

Eram quase 21h30m, quando os criminosos seguiram para o Campo da Banha, onde atacaram cinco pessoas que estavam num bar: os estudantes Marcelo Júlio Gomes do Nascimento e Marcus Vinícius Cipriano Andrade; o segurança Francisco José da Silva Neto; o padeiro Marco Aurélio Alves, e João da Costa Magalhães, que estava sentado na porta de casa.

Tudo indica que a maioria das vítimas foi escolhida aleatoriamente. Em alguns pontos, os assassinos simplesmente passaram atirando.

As vítimas receberam

96 tiros - algumas foram baleadas 13 vezes.

Muitas receberam tiros na nuca e no rosto para se certificarem de que morreriam.

Em maio de 2005, o Ministério Público denunciou onze envolvidos. Entretanto, em fevereiro de 2006, a juíza da 4ª Vara Criminal de Nova Iguaçu - Elizabeth Louro - admitiu parcialmente a denúncia e pronunciou apenas cinco. Segundo a justiça, somente contra estes foram encontrados indícios suficientes para levá-los ao Tribunal de Júri. Outros quatro foram inocentados e dois foram acusados apenas pelo crime de formação de quadrilha. O cabo Ivonei de Souza, entrou com recurso contra a decisão, e o cabo Gilmar Simão - que negociava a ‘delação premiada’ - foi assassinado em outubro de 2006, quando ia prestar depoimento na 4ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar.

Em agosto de 2005 o soldado PM Carlos Jorge foi julgado e condenado a 543 anos de prisão.

No final de novembro de 2006, o cabo Siqueira, outro acusado, levou oito facadas na barriga e no peito, dentro da própria cela, no Batalhão Especial Prisional. Marcos ia depor no dia seguinte e, assim como Gilmar, estava negociando a “delação premiada”. José Felipe e Carlos Carvalho são suspeitos de serem os autores da tentativa de assassinato.

Em dezembro de 2007, José Augusto Moreira Felipe foi condenado a 542 anos de prisão em regime fechado. Já no dia 12 de março de 2008, Fabiano Gonçalves Lopes foi absolvido das acusações de homicídio e condenado a sete anos de prisão por formação de quadrilha. O júri acatou a tese da defesa, que alegou falta de provas. O próprio Ministério Público retirou a acusação de homicídio e manteve apenas a de formação de quadrilha.

Outros acusados, Júlio César Amaral de Paula e Marcos Siqueira Costa, foram pronunciados, mas ainda não há data para serem levados a júri popular.

Todos os julgados foram expulsos da Polícia Militar.

“A violência não acaba no ato do assassinato”

Ao analisar todos os casos desta e de outras chacinas, Adriano Dias, da ComCausa, chega à conclusão de que a violência não acaba no ato do assassinato. “As conseqüências da perda estendem-se para muito além do episódio em si. Por conta disso é necessário criar programas para as vítimas dessa e de outras violências” - e completa - “A manifestação por justiça é importante, mas a atenção amorosa, a acolhida é muito importante para ajudar a superar o trauma.”


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OBS.: Meus caros senhores, agora, a Loba resolveu dar um tempo, deixando-nos sem a sua escrita (que é o mesmo que dizer que ficaremos sem o pulsar do seu coração). Outro protesto apresento!

domingo, 22 de março de 2009

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à noite
todos os corpos
são
pardos
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à noite:
corpos
que imitam cavalos
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ritmicafrenéticacompulsiva
mente
abre
fecha
]entre[dentre]dentes[
espaç(orifício)dentro
foraberturacircular
dedosbucetapertadinhadeladedos
tra(n)s(a)configur
ação
mimesejoiotrigojunto
-mistura
do
(in)
)out(
possível-
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acor
dada
ela sonhou
com o sono compartilhado:
corpo de delito do amor.
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Joca Soares

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Notas:

1 - A, como diria o grande Jens, Feiticeira Vais, parece, resolveu dar um tempo, o que já é, por si só, uma notícia muito ruim. Enfim, vale a nota e o protesto..

2 - Blogue interessante este aqui, ó: Primum scribere deinde, philosophari . Boas tiradas, frases do dia, entre outros.

sexta-feira, 13 de março de 2009

A verdadeira tragédia não apareceu

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Talvez por parecer um procedimento tão anacrônico, a excomunhão anunciada pelo arcebispo de Olinda e Recife na semana que passou ganhou tanto espaço na imprensa. Um espaço até maior do que o fato - realmente terrível - que gerou a excomunhão: a interrupção da gravidez, resultado do estupro de uma menina de nove anos por seu padrasto. O padrasto, preso, confessou que também abusava sexualmente da irmã mais velha (14 anos) da menina grávida.
Na mesma semana, outra vítima da violência doméstica virou notícia:
"Uma menina gaúcha de 11 anos está prestes a ter bebê, após ser estuprada pelo pai adotivo, em caso semelhante ao da gravidez de uma garota de nove anos que foi interrompida em Pernambuco anteontem. O bispo da diocese de Frederico Wespthalen, Antonio Carlos Keller, diz que o pároco local acompanha o caso desde que a tia (responsável pela garota) tomou conhecimento dele. Ele afirma que a família, que é católica, não cogitou o aborto. O pai adotivo, um pedreiro de 51 anos, tio da menina, foi indiciado sob acusação de estupro. Como ela está no sétimo mês de gestação, a legislação não permite o aborto, que é possível até a 20ª semana (cerca de cinco meses) em casos de estupro e risco para a gestante" (Agência Folha, 06/03/2009).
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Duas hipóteses de não punição
Se o arcebispo de Olinda e Recife estava querendo causar impacto, conseguiu. O Vaticano se pronunciou a favor da excomunhão. O presidente Lula deu coletiva sobre o assunto apoiando a atitude dos médicos e condenando a atitude da Igreja. Jornais e TVs divulgaram amplamente o assunto.
A justificativa do arcebispo:
"Achei correto ensinar ou reavivar a memória das pessoas para que elas parem com os abortos. Quem não sabia da lei canônica não está excomungado. Mas a partir de agora, ciente do que manda a lei eclesiástica, se voltar a fazer, estará excomungado automaticamente, sem que ninguém precise dizer: é a Lei de Deus" (O Estado de S. Paulo, 07/03/2009).
Se o arcebispo queria deflagrar uma campanha particular contra o aborto, errou ao escolher justamente o caso de uma menina de nove anos. Como disse a Folha de S.Paulo em editorial (07/03/2009):
"Não cabe a ninguém de fora da igreja questionar seus dogmas. O que causa espécie é a contundência da condenação anunciada por dom José, que parece mais proporcional à notoriedade do caso do que ao zelo com a doutrina. Em 2008, realizaram-se no Sistema Único de Saúde (SUS) 3.241 abortos desse tipo, não-clandestinos. Eles se enquadram em uma ou nas duas hipóteses de não punição admitidas pelo Código Penal em seu artigo 128: se não houver outro meio de salvar a vida da gestante, ou se a gravidez resultar de estupro e o aborto for precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal. Além disso, a Justiça tem autorizado a intervenção em casos de malformação fetal que inviabilize a vida extra-uterina."
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Os pecadores da Igreja
A imprensa, fascinada com o medievalismo da excomunhão, deixou de explorar um aspecto igualmente grave dessa história: a situação do estuprador. Segundo D. José Cardoso, o arcebispo de Olinda e Recife, "o padrasto cometeu um delito gravíssimo, mas, de acordo com o direito canônico, não é passível de excomunhão automática. O aborto é mais grave ainda".
Diante dessa declaração, o estuprador de Recife, o estuprador do Rio Grande do Sul e os pedófilos do interior de São Paulo (matéria do Estado de S. Paulo de 08/03/2009) podem dormir sossegados. Podem até ir para a cadeia, mas continuam tendo o direito de ir à missa, confessar seus pecados e serem perdoados, receber a comunhão e, na hora da morte, serem beneficiados pelo sacramento da extrema-unção.
Talvez isso explique a atitude da Igreja no caso dos numerosos padres pedófilos em todo o mundo, que têm seus "pecados" tratados discretamente pela Igreja e que, quando punidos, o público não fica sabendo. Está aí um tema para a imprensa: como a Igreja pune seus próprios pecadores?

sábado, 7 de março de 2009

SHOWRNALISMO, O ENSINO DA COVARDIA

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(Artigo publicado pela revista Adverso, da Associação dos Docentes da UFRGS, em julho de 2007, assinado por wu)
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Boa Leitura! Boa reflexão!
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A universidade não está à parte do todo social. É uma obviedade que precisa ser lembrada. Significa dizer que a instituição reflete de uma maneira determinada a sociedade na qual está inserida. Não é possível, por exemplo, criticarmos o jornalismo que é feito atualmente sem estabelecermos a ligação com o que está sendo ensinado nas faculdades. Tendo por fio condutor esta idéia, é possível afirmarmos que, a partir do momento em que o objetivo passou a ser o atendimento do “Deus-Mercado”, para ser competitiva, a universidade (em especial os cursos de comunicologia) se organizou como uma linha de produção.
Em sala de aula, os alunos, cada vez mais preocupados com a obtenção de um emprego e tendo noção de algumas das leis de mercado, sabem que o mais recomendável é o bom comportamento. Em vez de idéias novas e atrativas, de reportagens investigativas e subversivas, eles são domesticados no manejo de ferramentas e de técnicas, com os seus bem-comportados professores carentes de espírito crítico. O sentido é progressivamente mais burocrático. Rebeldia, nem pensar.
Na última década, temos apontado aspectos do crescente processo de deteriorização do ensino de jornalismo. Criamos, inclusive, duas expressões para caracterizar este quadro cada vez mais caótico, onde ninguém sabe qual a direção e o sentido dos cursos. As faculdades de COMUNICOLOGIA precariamente realizam um esforço supremo para a manutenção e ampliação do ensino de SHOWRNALISMO. Currículos são maquiados. E para tal é preciso uma década de “estudos e reuniões”.
Enquanto os meios eletrônicos aceleram o processo industrial no jornalismo, as faculdades se movimentam como imensas tartarugas. Não estamos falando de adequação técnica (das velocidades), mas da lentidão (ou inexistência) de discussões que criticamente reflitam sobre a realidade.
Existem estudos que apontam para um quadro de crise global do ensino superior. Alguns dos aspectos examinados em vários artigos, assinados por “especialistas”, são infinitamente mais graves no ensino de COMUNICOLOGIA, tendo em vista que se trata, nada mais nada menos, do treinamento dos profissionais que serão responsáveis pela formação da opinião pública. Ou melhor, da destruição do sentido de cidadania e, conseqüentemente, da destruição da possibilidade de uma sociedade verdadeiramente democrática e aberta à pluralidade.
Não há como continuarmos negando a existência da relação, queiram ou não, entre a formação proporcionada aos jovens nos cursinhos de COMUNICOLOGIA e o atual SHOWRNALISMO produzido pela mídia corporativa, cuja característica básica é a produção de bens simbólicos que hegemonizam uma subjetividade reacionária. Na universidade, marcadamente nessa área, muitos dos mais arraigados defensores do STATUS QUO acadêmico são defensores de reformas e revoluções nos costumes, na economia, na vida social e na política. Alguns são desbragadamente “esquerdistas”. No entanto, paradoxalmente, são os que reacionariamente reagem contra qualquer mudança na estrutura de ensino. Não é possível a manutenção do discurso em defesa dos cursos “fantásticos” de um lado; e, do outro, um “fechar de olhos” que minimiza as terríveis conseqüências dos processos de maninpulação da grande imprensa. O jornalismo não mais exercido por vocação, mas pelo ensino de algumas técnicas, estabelece um quadro de absoluta hegemonia das políticas neoliberais. Temos um cenário com elementos avassaladores. E diante deste, não conseguimos nem mesmo romper com o bloqueio que impede o avanço de um simples debate. O quadro interno dos cursos é “fazemos de conta que ensinamos e vocês fazem de conta que aprendem”. A cada semestre, um batalhão de jovens recebe seus respectivos diplomas: COMUNICÓLOGOS.
Existe uma aceitação passiva das etapas anteriores de ensino. Não menos trágico é o fato de que a universidade está desvinculada dos ensino de primeiro e de segundo graus. Este aspecto, aparentemente sem importância, está ligado à outra questão igualmente grave: a aceitação de critérios de avaliação acadêmica baseados unicamente na titulação e no número de trabalhos publicados. A sala de aula conta muito pouco. Não se discute as práticas de ensino. O que existe é a reprodução da lógica do setor privado. Tudo é tratado como um problema de gestão. Há uma perda de identidade e de autonomia por parte dos professores. Uma absoluta ausência de princípios democráticos e de liberdade. Um permanente reforço dos privilégios e das desigualdades decorrentes da titulação. Um significativo avanço do poder das mentalidades burocráticas e, por conseguinte, uma perda de qualquer sentido de responsabilidade pública, de prestação de serviço público. Este quadro lamentável é complementado da seguinte forma: os professores que estão ingressando (cada vez mais jovens), na maioria das vezes, comportam-se como se fossem mais velhos dos que os velhos. Sonham fazer o mesmo caminho, na procura por títulos. O grande ideal é a reprodução de velhas idéias e práticas burocráticas. A hierarquia de títulos, reproduzida pelos jovens professores, impede a renovação.
É preciso que se responda às seguintes questões: o que um aluno de SHOWRNALISMO aprende em quatro anos de curso, cujos conteúdos não poderiam ser assimilados em seis meses de um cursinho técnico ou com o treinamento dentro de uma empresa? O que são exatamente estes cursos de publicidade e de relações públicas? Sem nenhum tipo de arrogância, afirmo que hoje obrigamos um aluno a quatro anos de curso, proporcionando uma formação inferior a um bom cursinho técnico. Os reflexos desta política educacional para a área de COMUNICOLOGIA, em especial do jornalismo, nunca é evidenciado, pois toca em questões do mais alto interresse das elites. QUALQUER MUDANÇA PROPOSTA QUE NÃO VINCULE O CURSO DE JORNALISMO AO DE CIÊNCIAS SOCIAIS, SERÁ UM GRANDE REMENDO. Falta ousadia. Não existem forças políticas capazes de implodir com o corporativismo. Não é por um capricho do destino que a Fabico (Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da UFRGS) está no campus médico ao lado da Escola Técnica. Isolamento imposto no auge do período da ditadura. Não é possível continuarmos - ou até é - tentando encontar a fórmula mágica de atualização de um cursinho técnico. Qualquer estudante da área de ciências sociais, com algumas noções básicas de jornalismo, estará mais preparado para a atividade de um verdadeiro repórter.
Como bem assinala Marilena Chauí, no livro “Escritos sobre a Universidade”, existe em tudo isso um “reforço da privatização do que é público, na medida em que as universidades públicas formam pesquisadores com os recursos trazidos pela sociedade, mas os financiadores usam os pesquisadores para fins privados; portanto, ausência do princípio republicano da distinção entre o público e o privado (…), reforço da submissão à ideologia pós-moderna que subordina as pesquisas ao mercado veloz da moda e do descartável, portanto, abandono do princípio ético da racionalidade consciente e o princípio da responsabilidade social. ” Jornalismo é subversão. O que aí está é variedades, secos e molhados. O ensino de SHOWRNALISMO está de costas para o país real. No campo do adestramento dos “focas” para o Deus-Mercado, destinados a serem uma simples peça de reposição na máquina social, contentes quando conseguem um estágio, incluídos se são dóceis, recompensados com alguma bolsa se são servis, execrados se são rebeldes, punidos quando tentam desobecer, os atuais estudantes de SHOWRNALISMO são peças de um jogo. Do joguinho do CtrlC+CtrlV. Esmagados pelo LEAD. Não podem ter sentimentos, emoções, pensamentos próprios, subjetividades, pois que o sentido é da reprodução do comportamento burocrático dos adultos. Subserviência.
Quero encerrar esta descosturada e anárquica reflexão com uma idéia de Montaigne: “Quem busca sabedoria, que a busque onde se aloja; não tenho a pretensão de possuí-la. O que aí se encontra é produto de minha fantasia; não viso explicar ou elucidar as coisas que comento, mas tão somente mostrar-me como sou. Talvez as venha conhecer a fundo um dia, ou as tenha conhecido, se por acaso andei por onde elas se esclarecem. Mas já não as recordo. Embora seja capaz de tirar proveito do que aprendo, não retenho na memória: daí não poder assegurar a exatidão de minhas citações. Que se veja nelas, apenas, o grau de meus conhecimentos atuais. Não se preste atenção à escolha das matérias que discuto, mas tão somente a maneira porque as trato. E, no que tomo de empréstimo aos outros, vejam unicamente se soube escolher algo capaz de realçar ou apoiar a idéia que desenvolvo, a qual, sim é sempre minha. Não me inspiro nas citações; valho-me delas para corroborar o que digo e que não sei tão bem expressar, ou por insuficiência da língua ou por fraqueza dos sentidos. Não me preocupo com a quantidade e sim com a qualidade das citações. Se houvesse querido tivera reunido o dobro”.
Não perco de vista esta outra idéia expressa por um rebelde aluno: “este ensino é o ensino da covardia

segunda-feira, 2 de março de 2009

A chuva

Olhou para o alto e recebeu os primeiros pingos com uma certa nostalgia. Tempos atrás, comum era tomar banho de chuva em uma tarde de verão, jogando bola ou dançando R.E.M., Smiths. Ultimamente andava acima da média nostálgica que costuma ter. Talvez o excesso de álcool, o casamento ruído, a falta de filhos após vinte anos de união, a falta de dinheiro. Olhou para o alto como se estivesse esperando algo que só pudesse alcançar no ópio religioso e infalível. Nada. Apenas a certeza implacável de que da vida só levamos a vida... E a sua mala estava vazia. Given to Fly, do Pearl Jam, estava no volume máximo, a chuva aniquilava-o. Encharcado de tudo, inclusive de desesperança, optou por alçar mais um voo. O projeto era simples: pediria dinheiro ao agiota, gastaria tudo num puteiro e, mais tarde, capa de jornal: Assassinado com Requintes de Crueldade! Pelo menos dessa vez seria o ator/autor da festa. Olhou para o alto e deixou outras gotas de outros rios e vidas, outros choros e outras vadiagens comandarem o brilho em seu rosto. Horas mais tarde, ao sair de casa, era um outro semblante estampado naquela face cadavérica e infame, mesmo sem fazer a barba, percebia-se, quilômetros de distância, o novo homem. Marcado com o agiota, perfumado, livre, caminhou em direção ao ponto do ônibus. Na impossibilidade de ter um chapéu Panamá, sem chapéu algum marchou para a esquina. Foi nesse instante que o carona da moto pulou sobre ele: “- Perdeu, maluco!, Passa tudo!”. Mas passar o quê? O dinheiro o estava esperando, mas não agora, não ali! Não conseguiu pronunciar nada mais sólido do que um: “...filho-da-puta...”. Foi executado sem dificuldades na esquina de casa, rua Elísio, nº 669. Dia seguinte, sua foto estava nos jornais populares. Famoso por um dia, mas sem comer ninguém.