sábado, 16 de maio de 2009

No Amazonas, sobrinha do vice-governador faz valer a lei da selva na sala de aula

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Na faculdade de jornalismo da Universidade Federal do Amazonas, numa classe do primeiro ano, o professor Gilson Monteiro estava dando uma aula quando foi falar de política. Comentou que a CPI da Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, que foi encerrada na Câmara dos Deputados em 2004, estava prestes a indiciar o vice-governador Omar Aziz (PMN-AM) quando houve a intervenção de um senador influente no estado: Arthur Virgílio (PSDB-AM). O pedido também teve o apoio da então deputada Celcita Pinheiro, mais tarde denunciada por envolvimento com a máfia dos Sanguessugas.
O professor informou aos alunos que Virgílio pedira para tirar o nome de Aziz da lista de recomendações para indiciamento.
Monteiro não disse absolutamente nenhuma mentira, como se pode ver nesta notícia publicada na época pela Agência Câmara. Ou nesta ata de 8.jun.2004, quando a deputada Maria do Rosário apresentou um requerimento visando "apurar a responsabilidade penal do Sr. Omar Aziz, Vice-Governador do Estado do Amazonas, pela obstrução, dos trabalhos desta Comissão Parlamentar de Inquérito, na oportunidade da Audiência Pública realizada na cidade de Manaus, em 24 de maio de 2004". Ou nesta ata de 7.jul.2004, quando Virgílio efetivamente solicitou a exclusão do nome de Aziz.
Como se pode ver pelos documentos, o professor Monteiro não estava mentindo. Aziz seria incluído no relatório final da CPI, embora eu não saiba sob que acusações, mas teve seu nome retirado por iniciativa do senador Arthur Virgílio. Monteiro só não contava com o elemento surpresa.
Uma aluna se levanta, indignada. Segundo a Folha, era Samara Abdel Aziz, 17 anos. Omar Aziz, o vice-governador, é seu tio. Ela sai da sala para fazer um telefonema. Mais tarde, ela escreveria no Orkut: "respeito é bom e mantém os dentes no lugar". Certamente ficou orgulhosa do que aconteceu depois.
Em meia hora, dois irmãos do vice-governador estavam na sala de aula. Um deles era o pai da aluna. Os dois derrubaram o professor, cobriram-no de socos e pontapés. Ao final, um deles, Amin Aziz, fez uma ameaça bastante grave. Nas palavras de Gilson Monteiro:
Pelo gesto de Amin Aziz, irmão do vice-governador do Estado do Amazonas, Omar Aziz, ao final da brutal agressão que sofri na frente dos meus alunos, no final da tarde ontem, estou marcado para morrer. Após me aplicar três socos e dois chutes, o cara apontou o dedo e simulou o gesto de puxar o gatilho de uma arma. Pela forma como me olhou, Aziz, teria descarregado completamente a arma em mim. Aliás, o ar era de imensa satisfação. Isso em pleno auditório Rio Negro, do Instituto de Ciências Humanas e Letras (ICHL), da Universidade Federal do Amazonas (Ufam). É o fim do mundo não se poder, em uma aula, citar um exemplo de fato que foi noticiado nacionalmente, como ilustração da interferência política no jornalismo. Mais absurdo ainda é um sujeito invadir uma universidade pública federal e agredir um professor em pleno exercício da sua atividade profissional. Certamente o indivíduo acredita na impunidade total por ser irmão do vice-governador do Estado. Só espero que a Polícia Militar (do Governador) garanta minha integridade física e dos meus filhos. Caso sofra algum atentado daqui para a frente não tenho dúvidas de que, se não foi a mando, foi um ato do meu agressor, irmão do vice-governador do Estado.
Na terça, o vice-governador deu uma entrevista coletiva. Disse que não se responsabilizava pela pisada de bola dos irmãos, mas também prometeu processar o professor por ter afirmado que ele teve seu nome retirado do relatório da CPI por influência política.
Amin Aziz, que apontou um revólver de dedos para a cabeça do professor, pede desculpas pela exaltação, mas continua culpando o professor por ter falado em corda na frente da sobrinha de um enforcado.
"Eu discordo da atitude de um professor de formar uma opinião dentro de uma universidade. Ele é pago para ensinar. Tenho a certeza de que foi proposital. Eu não acredito que um professor não saiba quem são os alunos. Ele usou de má-fé", disse ele à Folha.
No ano passado, houve outra celeuma envolvendo o mesmo político, o mesmo assunto e outros personagens truculentos. No caso, militantes que ameaçaram estudantes por perguntar se Aziz havia sido indiciado pela CPI da Pedofilia.
E você, o que acha do assunto?
Eu, pessoalmente, acho que um professor tem que ter o direito de falar o que quiser, se for pertinente e não for mentira. Numa faculdade de jornalismo, deixar de discutir assuntos políticos relevantes na vida do estado é um tiro no pé. Entendo a irritação pessoal da menina, porque afinal se trata do tio dela. Mas isso não é jeito de começar a entrar no jornalismo. Bola murcha pra você, Samara. Tem outros jeitos bem menos selvagens de enfrentar uma questão incômoda.

7 comentários:

BirdBardo Blogger disse...

Um professor sempre foi e será um formador de opniões. A palavra Mestre não vai a toa como título para tal profissão. Aristóteles ensinou Alexandre e ele se tornou um dos maiores conquistadores da humanidade. Jesus ensinou seus discipulos não somente a doutrina, mas como se portar perante ela. Um professor deve formar opniões já que possui capacidade para tal.Isso demonstra a alta capacidade do brasil de ser nepotista.

Renato Couto disse...

Hmmm...sobrinha...titio...pedofilia...tem mais coisa podre aí...

Ontem fui ao cinema disse...

Concordo com o Birdbardo um professor sempre foi se seré um formador de opniões...Nada melhor do que comerçarmos a discurtir mais esses assuntos em salas de aula!!
Parabens pelo blog!!
Show

Ontem fui ao cinema disse...

Concordo com o Birdbardo um professor sempre foi se seré um formador de opniões...Nada melhor do que comerçarmos a discurtir mais esses assuntos em salas de aula!!
Parabens pelo blog!!
Show

Cris disse...

Oi, Marcelo,

Proposital ou não da parte do professor , era um assunto divulgado, portanto, nenhuma "fofoca".Concordo con você: Há maneiras menos selvagens de enfrentar um incômodo, por exemplo, na argumentação inteligente.

beijão.

Jens disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Jens disse...

Nada a estranhar, Marcelo. Para este tipo de gente, os coronéis do Nordeste (da turma do Sarney e do Mendes, entre outros), contrariedades são resolvidas com bala de revólver. Desconhecem o que seja civilização.
Quanto à intervenção do ínclito senador Arthur Virgílio, igualmente não é surpresa. Como o senador já declarou publicamente que gosta de "carne nova" (novíssima, talvez) quando o assunto é sexo, é permitido presumir que agiu em defesa de um companheiro de armas.
Diante desta canalha, bem que o Jaguar poderia ressuscitar Gastão, o Vomitador.
Blearhg!
***
Um abraço.
(Removi o comentário anterior por causa dos erros gramaticais que o revisor deixou passar).