quarta-feira, 1 de abril de 2009

Quatro anos da maior Chacina do Rio

Relembre o caso.

Por: Raphael Bittencourt e Dione Barbosa

Jornal ComCausa - Cultura de Direitos

No dia 30 de março de 2005, noite de quarta-feira, policiais decapitaram duas pessoas e atiraram a cabeça de uma delas para dentro do 15º Batalhão da Polícia Militar em Duque de Caxias. As cenas foram registradas pelo sistema de segurança de uma escola ao lado do Batalhão.


A ação seria uma resposta ao comando da polícia pela “operação Navalha na Carne”, que colocou sob detenção mais de uma centena de policiais e levou vários outros a prisão por desvio de conduta.

Na noite seguinte, 31 de março, policiais iniciaram uma seqüência de mortes em Nova Iguaçu e terminaram em Queimados. O resultado foi 29 mortos, sendo, oito crianças.

Foi a maior chacina do Rio, chocou o Brasil e ganhou o noticiário internacional.

Na tarde de 31 de março de 2005, segundo investigações, por volta das 04 horas, os policiais Marcos Siqueira Costa, José Augusto Moreira Felipe, Carlos Jorge Carvalho, Júlio César Amaral de Paula passaram horas bebendo no bar Aza Branca, na Rua Dom Valmor, no centro de Nova Iguaçu. Na frente do bar um gol prata estava parado com as portas abertas. Junto com eles estava Fabiano Gonçalves Lopes, que teria saído do local pouco depois das 20 horas, quando o grupo entrou no carro e seguiu até o acesso da Via Dutra – sentido São Paulo - no bairro Esplanada.

Rafael da Silva Couto e o seu amigo William Pereira dos Santos foram as primeiras vítimas. Os rapazes foram assassinados quando voltavam de bicicleta do trabalho para casa, às 20h35 no acesso para o bairro da Posse.

Os assassinos seguiram pela Rua Gonçalves Dias e entraram na Avenida São Paulo, onde mataram mais duas pessoas por volta de 20h40: Luiz Carlos da Silva; e José Carlos de Oliveira, que passava pelo local no momento em que os tiros foram disparados.

Retornaram à via Dutra, cruzaram o viaduto da Posse e, pouco antes das 20h50, assassinaram Alessandro Vieira.

Entraram em uma rua transversal que dá acesso à Rua Gama onde, na altura da Escola de Samba Flor do Iguaçu - no bar Caíque - por volta das 21h balearam dez pessoas, matando nove. No local foi alvejada a comerciante Elizabeth Soares Oliveira; o adolescente e deficiente auditivo Felipe Carlos Soares de Oliveira; Bruno da Silva Souza; o biscateiro Jonas de Lima Silva; o funcionário público Robson Albino; Manoel Domingos Lima Pereira; Jaílton Vieira - que era vizinho ao bar e tinha ido pagar uma dívida de R$ 2,00; o segurança José Augusto Pereira da Silva e o senhor Maurício - cunhado de Caíque, dono do bar; Douglas Brasil de Paula, estudante, que trabalhava em uma padaria da localidade para ajudar a família; e Kênia Modesto Dias esposa de Caíque. Douglas e Kênia chegaram a ser socorridos, mas morreram no hospital.

Perto das 21h15, os assassinos passaram pelo centro comercial do bairro Cerâmica e na Rua Geni Saraiva, mataram mais duas pessoas: Leonardo da Silva Moreira, que havia ido encontrar-se com a namorada no portão de casa, e o padeiro César de Souza Penha de 30 anos.

Voltaram para a Via Dutra e seguiram até o município de Queimados.

As 21h15, na Rua Vereador Marinho Hermetério Oliveira, em frente à Mania Lava Jato, foram mortos o dono do estabelecimento Luís Jorge Barbosa Rodrigues; Wagner Oliveira da Silva; Márcio Joaquim Martins e o estudante e ladrilheiro Fábio Vasconcelos.

Eram quase 21h30m, quando os criminosos seguiram para o Campo da Banha, onde atacaram cinco pessoas que estavam num bar: os estudantes Marcelo Júlio Gomes do Nascimento e Marcus Vinícius Cipriano Andrade; o segurança Francisco José da Silva Neto; o padeiro Marco Aurélio Alves, e João da Costa Magalhães, que estava sentado na porta de casa.

Tudo indica que a maioria das vítimas foi escolhida aleatoriamente. Em alguns pontos, os assassinos simplesmente passaram atirando.

As vítimas receberam

96 tiros - algumas foram baleadas 13 vezes.

Muitas receberam tiros na nuca e no rosto para se certificarem de que morreriam.

Em maio de 2005, o Ministério Público denunciou onze envolvidos. Entretanto, em fevereiro de 2006, a juíza da 4ª Vara Criminal de Nova Iguaçu - Elizabeth Louro - admitiu parcialmente a denúncia e pronunciou apenas cinco. Segundo a justiça, somente contra estes foram encontrados indícios suficientes para levá-los ao Tribunal de Júri. Outros quatro foram inocentados e dois foram acusados apenas pelo crime de formação de quadrilha. O cabo Ivonei de Souza, entrou com recurso contra a decisão, e o cabo Gilmar Simão - que negociava a ‘delação premiada’ - foi assassinado em outubro de 2006, quando ia prestar depoimento na 4ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar.

Em agosto de 2005 o soldado PM Carlos Jorge foi julgado e condenado a 543 anos de prisão.

No final de novembro de 2006, o cabo Siqueira, outro acusado, levou oito facadas na barriga e no peito, dentro da própria cela, no Batalhão Especial Prisional. Marcos ia depor no dia seguinte e, assim como Gilmar, estava negociando a “delação premiada”. José Felipe e Carlos Carvalho são suspeitos de serem os autores da tentativa de assassinato.

Em dezembro de 2007, José Augusto Moreira Felipe foi condenado a 542 anos de prisão em regime fechado. Já no dia 12 de março de 2008, Fabiano Gonçalves Lopes foi absolvido das acusações de homicídio e condenado a sete anos de prisão por formação de quadrilha. O júri acatou a tese da defesa, que alegou falta de provas. O próprio Ministério Público retirou a acusação de homicídio e manteve apenas a de formação de quadrilha.

Outros acusados, Júlio César Amaral de Paula e Marcos Siqueira Costa, foram pronunciados, mas ainda não há data para serem levados a júri popular.

Todos os julgados foram expulsos da Polícia Militar.

“A violência não acaba no ato do assassinato”

Ao analisar todos os casos desta e de outras chacinas, Adriano Dias, da ComCausa, chega à conclusão de que a violência não acaba no ato do assassinato. “As conseqüências da perda estendem-se para muito além do episódio em si. Por conta disso é necessário criar programas para as vítimas dessa e de outras violências” - e completa - “A manifestação por justiça é importante, mas a atenção amorosa, a acolhida é muito importante para ajudar a superar o trauma.”


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OBS.: Meus caros senhores, agora, a Loba resolveu dar um tempo, deixando-nos sem a sua escrita (que é o mesmo que dizer que ficaremos sem o pulsar do seu coração). Outro protesto apresento!

Um comentário:

Cris disse...

Sabe, Marcelo, continuo acreditando na força do amor, mesmo por vezes me achando tola .Mas que outra saída?

beijo, querido.