terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Rose e a rosa


Num ônibus rumo a algum bairro abandonado de algum cu do mundo, 06 jovens entram no coletivo vindos do alistamento militar.
Um deles começa uma algazarra, cabeça para fora da janela, assobios, xingamentos, cantadas machistas; os outros rindo, interagindo, panfletários.
O ônibus segue com os seus outros passageiros quietos, raivosos, mas quietos. Alguns, talvez, com medo da gargalhada, do ataque bobo, da cor da pele. Medo da identificação que ele não quer assumir para si, mas que enxerga nos outros: a pobreza aliada à falta de educação.
Certo seria alguém levantar e dar um esporro, avisar sobre os limites ultrapassados, pedir para descerem do coletivo. Ninguém o fez. Rose também não fez.
Certo seria a inclusão, o desentendimento coletivo, o debate. Mas todos preferiram excluir. Deixá-los no seu legado de preto-pobre-marginal: “Eles são eles, nós somos nós e cada qual no seu quadrado”.
Os 06 jovens fizeram o que deles é esperado pelos outros, os outros fizeram o que a sociedade quer que seja feito em casos assim: não corrija, prenda; não elucide, exclua; não eduque, mate.
Quando Rose deu as costas para o acontecimento ela quis preservar-se fisicamente, ela quis evitar confusão. Mas e se todos se metessem? 30 contra 06? Os jovens agrediriam ou seriam obrigados a ouvir o sermão? Rose desceu do coletivo atrás dos jovens e pode ver o semblante da exclusão, do nojo, do medo nos semblantes dos outros pobres e pensou o quanto a perversidade do sistema está em te fazer acreditar que você só tem semelhança com o dominador, nunca com o dominado.
E Rose lembrou a rosa e a rosa lembrou Hiroshima.

Sem cor sem perfume sem rosa sem nada.


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