Estudava num
colégio chamado Filgueiras, na cidade de Nilópolis que todos, até os que me
leem no Chuí, conhecem graças a Escola de Samba Beija-Flor, campeã absoluta da
atualidade no carnaval carioca pela incontestável riqueza e que, não, eu não
torço, apesar de ter um certo carinho. Sou Mangueirense e não me emendo! Sou do
morro do Cartola, do Sargento, do Alfaiate, do Ivo, da Nelma, Zica, do Seu
Francisco; nasci Mangueira e vou morrer Flamengo, sou negro e favelado até os
ossos da alma, não tem jeito. E não me importam os (des)governadores que sempre
defecam no Rio, eu sou o povo, eu sou Darcy Ribeiro. E estudava num colégio
chamado Filgueiras, no centro de Nilópolis, perto da Beija-Flor e do matadouro
que sempre entregava, pelas janelas da escola, aquele cheiro de sangue morto.
Hoje, morto está o matadouro, para a alegria dos moradores do entorno.
Ainda
pirralho, frequentava festas de adolescentes e adultos porque não suportava as festas americanas que gente pirralha da
minha idade fazia. Gostava de beber álcool (vício que carrego ainda hoje,
graças ao meu bom deus e o seu primeiro milagre cristão), hoje, o gosto
resumiu-se aos fermentados.
Frequentava essas festas e, como não conseguia pegar ninguém por questões óbvias (todas eram bem mais velhas do que eu), ficava sempre encarregado de distribuir as cervejas e tomar conta do latão (latão de lixo, mesmo, entupido de gelo e coberto de jornal para armazenar as bebidas). Eu adorava! Aquela gente toda me tratando como um deles! Bebuns, maconheiros, caretas, aquelas adolescentes gostosas, todos falando comigo; era o máximo! Tinha um tal de China que sempre plantava de Dj dessas festas e era bastante eficiente. Todos adoravam o China como Dj. Nas festas de rua, a barraca de caipi-fruta (vodca batida com fruta) dele era bem famosa entre os que apreciavam rock e reggae. Era quase uma discoteca que vendia álcool, alheia à própria festa que sempre tocava funk e pagode e eu detestava.
Frequentava essas festas e, como não conseguia pegar ninguém por questões óbvias (todas eram bem mais velhas do que eu), ficava sempre encarregado de distribuir as cervejas e tomar conta do latão (latão de lixo, mesmo, entupido de gelo e coberto de jornal para armazenar as bebidas). Eu adorava! Aquela gente toda me tratando como um deles! Bebuns, maconheiros, caretas, aquelas adolescentes gostosas, todos falando comigo; era o máximo! Tinha um tal de China que sempre plantava de Dj dessas festas e era bastante eficiente. Todos adoravam o China como Dj. Nas festas de rua, a barraca de caipi-fruta (vodca batida com fruta) dele era bem famosa entre os que apreciavam rock e reggae. Era quase uma discoteca que vendia álcool, alheia à própria festa que sempre tocava funk e pagode e eu detestava.
E o China
uma vez disse, numa dessas festas que eu tomei conta do latão: “agora, com
vocês, pra terminar, umas dos Smiths”. E eu pensei que, “porra, arebentou,
agora vem aquela sequencia foda com Ask,
Bigmouth”... Que nada! Vieram aquelas
músicas que eu nunca tinha ouvido! Porra, fiquei puto e ainda veio um cara
dizer que eu não entendia nada de Smiths.
Em uma outra
festa da qual eu não tomei conta da cerveja, mas continuei sem pegar ninguém, com som liberado pra quem
quisesse mexer no repertório, um outro sujeito disse pra mim: “cara, vai lá e
coloca The Smiths pra gente!” Porra, eu fiquei todo bobo e danei a procurar o
vinil. Não achava. Aí o negão se levantou e pegou um álbum duplo, vermelho, com
uma mulher (Shelagh Delaney) fumando na capa, e apontou pra mim. Eu, meio
envergonhado por não encontrar o disco que estava na minha cara, fiz um meio
sorriso e fiquei quieto no meu canto. Pensei que, porra, o cara vai colocar a
agulha bem em Ask, em Bigmouth... Mas ele deixou tudo rolar...
O jeito foi escutar e... Gostar do que estava ouvindo. E gostar muito.
E eu
estudava num colégio chamado Filgueiras e tinha um Xará amigão, daqueles que se
frequenta a casa e se gosta pra caralho até acabar o colégio e a gente nunca
mais se esbarrar, que lia, assim como eu, as revistas Bizz e Fluir e tinha
apelido de surfista; ele tinha um irmão bem mais velho com todos os álbuns dos
Smiths. Quando vi aquilo, não acreditei. Eu disse: “cacete, Teco, eu tenho que
gravar isso!” Ele não falou nada. Dia seguinte na escola, vem este meu Xará com
uma sacola pesada. Todos os vinis dos Smiths ali. Eu não sabia bem o que fazer.
Comprei uma porrada de k7s e gravei todos, um por um (tinha que devolver tudo
no dia seguinte). Foi foda.
Claro que a
era dos CDs veio como um relâmpago e tudo ficou mais acessível na Baixada. E
eu, claro, comprei a minha coleção de Marr, Morrissey e cia.
Claro também
que, hoje, dou razão ao sujeito da festa que disse qu`eu não sabia nada desta
banda. Ele estava certíssimo. Nada é mais essencial do que colocar um Still ill pra tocar, um The Queen
is Dead, Reel Around the Fountain, The Hand That Rocks the Candle… É como
chegar pr`um Legionário e pedir pra tocar Será,
Ainda é Cedo... Porra, o cara vai
dizer que escuta A Montanha Mágica, Metal
Contra as Nuvens, Natália, Clarisse... Eu era muito ingênuo, mesmo. Pra
gostar de uma banda tem que ter arrogância! Senão não vale...
Claro também
e novamente que, a saturação do jabá destroi qualquer música boa e os lados B`s
ficam realmente mais procurados, além de ser, geralmente, os mais relevantes,
com recados mais sólidos.
E eu
estudava naquele colégio, junto com este meu Xará e mais uma porrada de gente
interessante. Inclusive, foi com este tal de Marcelo Teco (por causa do
Padaratz, não da cocaína) que eu conheci uma menina figuraça que gostava de
Madonna, mas adorava escutar Legião comigo. Bem, mas isso eu conto depois, num
outro causo.
https://youtu.be/Ehj8rfiHzgY
3 comentários:
Smiths é muito massa, Marcelo! Arretado o texto! Adorei o "pra gostar de uma banda tem que ter arrogância!" :)
Estas histórias são "fodas"! Sempre nos remetem para nossas próprias vidas - tal qual um "Encontro Marcado"...
Sandrix, todo fã, acho, é meio assim... "Subconscientemente" gosta mais das nunca ouvidas só pra "tirar onda" de fodão... Ahahahahaha!
OBS: Eu adoro A Montanha Mágica, Andrea Doria, Natália...
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Renato, eu fiquei com este livro na cabeça, mas tentando (e apenas isso) escrever igual ao Jack Kerouac. Claro que não cheguei nem perto... Ahahaha!!!
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Obrigadão pela força d'ocês!
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