domingo, 21 de agosto de 2011

À Janusz Korczak

De repente a mão pesada soviética descia como um machado que mais matava pelo impacto do grosso ferro medieval e bárbaro do que pela lâmina afiada da ideologia. E o machado de Stalin estava suado e sedento, insistentemente sedento. E as crianças continuavam crianças e neste estado perfeito de luz, sombras e pavor, como o choro de mil blues às margens do Mississippi, eis que uma canção sobre o amor incondicional foi cantada. Veio de perto, do coração de um velho pediatra ou escritor ou lindo, veio como a brisa soprada pelos lados do leste, onde o sol nasce, assim como a teoria de Ubuntu, das sacadas dos prédios destruídos, mas que conservavam janelas e camas; veio da fonte primeira e irradiante, de dentro dos setenta e dois nomes do verbo, do Fiat lux. Foi neste impreciso tempo adiante que o machado deu lugar ao sanatório de Hitler e ao tornado nazista e o pediatra optou por ser maior e virou gigante, deixando a pequenez dos homens do lado de fora e o amor às crianças do lado de dentro; e de dentro regeu a sinfonia polonesa mais conhecida do mundo moderno. O pediatra não conheceu Irena Sendler, contudo previu que também havia deus do lado de fora, previu que havia de ser pseudônimo de algo e, abraçado às crianças na morte, deu origem à árvore da vida.

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