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infância no mato
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gosto mais de brincar que ser gente de sisotenho mais de criança, de nuvem...
enquanto chuva, me faço rega.
terra molhada tem cheiro bom
todo mundo gosta, criança gosta.
deito na grama úmida, adormeço
acordo amanhecida de pétalas, lambida de sol.
na pele guardo o orvalho fresquinho.
no banho de bica a rã fria pula mais alto que minha bunda.
gosto mais dos imbuás, com suas tantas perninhas, fazendo cócegas na palma da mão
e à noite descobrir vaga-lumes, esses espiões camuflados de luz.
subo na árvore mais amiga - árvore amiga é aquela que tem muitos braços abertos dentro do céu -
sempre sonhei com casinha na árvore entre galhos e folhas de olhares brecheiros
mas fiquei contente com o balanço de corda e madeira
e voei sonhando passarinho.
bem sei que algum dia me refloresço criança
até beijar colibris dourados
até mijar margaridas azuis
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um olhar diverso
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Dizem que Ana sempre olhou muito mal.
Que ela simplesmente não via o que quase todo mundo via.
Que seu olhar dispersa das coisas.
E que, entre outras coisas, só via de suspiros pela lua cheia nascendo no horizonte, ou via de chateação pela espinha impertinente nascendo em seu rosto.
Ana sempre enxergou melhor com os ouvidos.
Até parece que nasceu de música.
Poderia ser cantora, violonista, pianista.
Mas não, Ana escolheu as artes plásticas que pedem tanto aos olhos.
Assim Ana habituou esfregar seu olhar nas coisas ao seu redor.
No entanto esse olhar atento durou pouco tempo.
Ana distraída começou a ver com a imaginação, mais ou menos como fazia quando criança e via o que ninguém via.
Ana desenhou delírios e criou seres nunca vistos disso.
Nem tardou e Ana abandonou as artes.
Decidira escrever poesia e seu olhar se voltou para dentro.
Escreveu de sentimentos e sensações, principalmente sensações: "o sentimento vaza como música em minha pele".
Ana descobrira que não só os versos mas cada palavra, em si mesma, comporta sensações.
Carrasco, por exemplo, é uma palavra bem seca provavelmente pelo dígrafo rr seguido de asco.
Burburinho é uma palavra que borbulha e faz cócegas ao pé-do-ouvido.
Enquanto jequitinhonha tem algo de nhoc-nhoc, nhac-nhac.
E alpendre tem uma amplitude inicial mas aconchega no final.
Ana prestava muita atenção às sonoridades das palavras e suas significâncias, daí inventava neologismos.
Alguns dizem que Ana virou poeta porque enxergava muito mal com os olhos (bendita deficiência!).
Ana é de ouvidos, de sensações, imaginânsias e sonholências.
Que ela simplesmente não via o que quase todo mundo via.
Que seu olhar dispersa das coisas.
E que, entre outras coisas, só via de suspiros pela lua cheia nascendo no horizonte, ou via de chateação pela espinha impertinente nascendo em seu rosto.
Ana sempre enxergou melhor com os ouvidos.
Até parece que nasceu de música.
Poderia ser cantora, violonista, pianista.
Mas não, Ana escolheu as artes plásticas que pedem tanto aos olhos.
Assim Ana habituou esfregar seu olhar nas coisas ao seu redor.
No entanto esse olhar atento durou pouco tempo.
Ana distraída começou a ver com a imaginação, mais ou menos como fazia quando criança e via o que ninguém via.
Ana desenhou delírios e criou seres nunca vistos disso.
Nem tardou e Ana abandonou as artes.
Decidira escrever poesia e seu olhar se voltou para dentro.
Escreveu de sentimentos e sensações, principalmente sensações: "o sentimento vaza como música em minha pele".
Ana descobrira que não só os versos mas cada palavra, em si mesma, comporta sensações.
Carrasco, por exemplo, é uma palavra bem seca provavelmente pelo dígrafo rr seguido de asco.
Burburinho é uma palavra que borbulha e faz cócegas ao pé-do-ouvido.
Enquanto jequitinhonha tem algo de nhoc-nhoc, nhac-nhac.
E alpendre tem uma amplitude inicial mas aconchega no final.
Ana prestava muita atenção às sonoridades das palavras e suas significâncias, daí inventava neologismos.
Alguns dizem que Ana virou poeta porque enxergava muito mal com os olhos (bendita deficiência!).
Ana é de ouvidos, de sensações, imaginânsias e sonholências.
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